A região de fronteira do país é cotidianamente guarnecida pelo sobrevoo de aviões de caça como o Super Tucano. |
Para a Revista Diário
Quem assiste aos desfiles cívicos do Dia da Independência no Sambódromo costuma ver – e aplaudir – à passagem de tropas do Exército e da Marinha do Brasil, mas sentindo a ausência da Aeronáutica. Sim, onde estaria a Força Aérea Brasileira (FAB), cuja sigla inclusive dá nome à principal avenida de Macapá? A gente foi em busca de respostas e localizou o major brigadeiro do Ar Carlos Minelli, que no final do ano passou o comando do I COMAR (Comando Aéreo Regional), sediado em Belém, e que atualmente é o sub-chefe de operações conjuntas do Ministério da Defesa, em Brasília.
Ele esteve no Amapá em viagem oficial e concedeu uma entrevista exclusiva à Revista Diário. Primeiro fez questão de explicar que existem peculiaridades em relação às demais forças armadas, como Exército e Marinha, pois a Aeronáutica não pode manter suas bases próximas demais a regiões de fronteiras e sim “mais para dentro” do continente – uma estratégia de defesa. “Além disso, a capacidade de mobilidade da Força Aérea é muito grande, então se você tiver um conflito ocorrendo numa parte remota do território, a primeira a chegar é a Força Aérea, independente dela estar ou não presente na fronteira, devido à capacidade e à velocidade das aeronaves”, destaca o militar.
PRESENÇA
Brigadeiro Carlos Minelli, que atualmente serve em Brasília, no Ministério da Defesa |
Destacamento da FAB em Macapá autossuficiente em água, energia e internet
Destacamento da Aeronáutica em Macapá, uma unidade de controle do espaço aéreo do Brasil |
Toda a visualização dos radares instalados no Amapá é replicada em Manaus e em Brasília, o que possibilita preservar o centro de operações afastado das zonas de fronteira que normalmente são as de maior probabilidade de se ter algum tipo de litígio. Mas que ocorrências poderiam ser? Se pensou em guerra, pode até ser, mesmo com o Brasil sendo um país pacífico e que não costuma se intrometer nos conflitos de outras nações. Mas o que a FAB lida no dia a dia são outros litígios, os chamados crimes transfronteiriços, como tráfico de armas, contrabando de drogas e coisas do gênero, que a Força Aérea tem atuado juntamente com o Exército e a Marinha, de uma forma bem marcante ao longo dos dois últimos dois anos com as chamadas operações interagências.
CADA QUAL
As atribuições de cada ente no controle do espaço aéreo do Brasil podem suscitar dúvidas, afinal existe a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e a própria FAB, esta última uma Força Armada, um órgão portanto militar. Qual a competência de cada um? Isso o brigadeiro Carlos Minelli também explica. Segundo ele, a ANAC trabalha com legislações e regulamentações de aviação civil e isso tem uma relação direta com as companhias aéreas, portanto envolve também relações internacionais. “Assim como existem companhias aéreas internacionais operando no Brasil, também temos empresas brasileiras operando no exterior, portanto há que haver uma regulação com relação a tarifas e uma série de outras coisas para que se respeite os direitos de cada país e ao mesmo tempo se mantenha a liberdade de locomoção e a facilidade de você quebrar barreiras para ajudar a expandir o comércio e etc”, avalia.
Já o controle do tráfego aéreo, há muito tempo, nas décadas de 60 e 70, passou a ser trabalhado de uma forma mais moderna, com radares, devendo ser feito de maneira integrada, ou seja, tanto para o controle do tráfego aéreo civil quanto o controle do tráfego aéreo militar, uma estrutura gigantesca, com mais de 170 radares espalhados em todo o território nacional, tudo muito sincronizado e operante.
Ainda de acordo com as informações repassadas pelo ex comandante do I Comar, esse sistema integrado do Brasil já é observado e copiado por países até mais desenvolvidos, como a Alemanha. “Seria, em termos de Brasil, absurdamente caro você querer manter dois sistemas totalmente independentes”, diz ele. E esse compartilhamento em tempo real possibilita que qualquer adversidade seja imediatamente processada, tanto que há quem diga que o fatídigo 11 de setembro, nos Estados Unidos, poderia ter tido uma resposta mais rápida, pois lá o sistema de controle do tráfego aéreo é separado – para tráfego civil e militar.
JURISDIÇÃO
O Ministério da Defesa está veiculando nas emissoras de tv do país uma peça publicitária sobre o papel da Força Aérea Brasileira, onde aparece a inscrição “Dimensão 22”, o que também levanta curiosidade a respeito do que se trata. Segundo o brigadeiro Minelli é uma alusão ao fato de que a área sob juridição da FAB, que vai desde o próprio espaço aéreo do país, suas águas oceânicas, como também uma vasta área sobre área oceânicas internacionais, o que significa dizer 22 milhões de quilômetros quadrados. “O Brasil é dividido em quatro centros integrados de defesa aérea e controle do tráfego aéreo, sendo instalados em Brasília, Curitiba, Recife e em Manaus. E cada centro desse é responsável por áreas de dimensões gigantescas, sendo que a área do território brasileiro são 8,5 milhões de quilômetreos quadrados; a isso você soma mais toda a área adjacente do mar, passamos a praticamente 11 milhões de km², que acrescidos aos 11 milhões de km² em cima do oceano Atlântico, que apesar de não ser território brasileiro, nós temos que prestar informações de voo, então a sobre área de controle e responsabilidade equivale a 22 milhões de quilômetreos quadrados, o que é quase três vezes o tamanho do território brasileiro”, explica.
CONFIANÇA
O representante da Força Aérea Brasileira também dirige uma mensagem aos brasileiros que moram no Amapá, dizendo que todos devem ter absoluta certeza de que os aviões da FAB estão voando e as pessoas podem até não ver. “Mas as ondas de radares de comunicação e transmissão de dados estão aí no ar mantendo a vigilância e a soberania do nosso país e também isso não se pode ver e é uma grande honra para mim poder prestar essas informações e ajudar a esclarecer o povo brasileiro, pois um dos grandes passos para o progresso e o desenvolvimento é o entendimento e a compreensão de tudo o que acontece”, conclui.
Nota: Coube a então presidente Dilma Rousseff, em maio de 2016, assinar o decreto 8.758 que autoriza o abate de aeronaves invasoras ao espaço aéreo do Brasil.