Deputado. Milhomen fala nos estúdios da Diário FM sobre os últimos acontecimentos de intolerância racial. |
Seja por sua formação acadêmica, seja por sua articulação política, o deputado Evandro Milhomen (PCdoB-AP) virou uma referência no que se refere a debater abertamente as grandes mazelas sociais do Amapá e do país. Em uma semana marcada por novos episódios de intolerância e até racismo, ele foi ontem ao rádio conceder entrevista ao programa Conexão Brasília, em meio às comemorações e reflexões pelo Dia Internacional da Mulher. Acompanhe o que disse o parlamentar e sociólogo, um dos integrantes de outra minoria no Congresso Nacional, a bancada dos negros. O Diário do Amapá selecionou os principais trechos da entrevista concedida ao jornalista Cleber Barbosa. Acompanhe a seguir.
Cleber Barbosa
Da Redação
Diário do Amapá – Neste sábado é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Que reflexões a data lhe sugere?
Evandro Milhomen – Primeiro eu queria parabenizar a todas as mulheres por este dia, que representa um dia de reflexão pela luta da mulher pelos seus direitos, pelas suas conquistas e pelo espaço merecido na sociedade brasileira, sempre considerando que vivemos numa democracia e que o direito de todos precisa ser respeitado. Em especial as mulheres, que representam a maioria da população deste país. Que tudo que tenha sido conquistado possa ser motivo para ainda mais conquistas e incentivo para não desistirmos jamais desta luta que é incansável das mulheres que dão uma contribuição muito grande para a sociedade, algo incomensurável.
Evandro Milhomen – Primeiro eu queria parabenizar a todas as mulheres por este dia, que representa um dia de reflexão pela luta da mulher pelos seus direitos, pelas suas conquistas e pelo espaço merecido na sociedade brasileira, sempre considerando que vivemos numa democracia e que o direito de todos precisa ser respeitado. Em especial as mulheres, que representam a maioria da população deste país. Que tudo que tenha sido conquistado possa ser motivo para ainda mais conquistas e incentivo para não desistirmos jamais desta luta que é incansável das mulheres que dão uma contribuição muito grande para a sociedade, algo incomensurável.
Diário – E como está a participação das mulheres lá no Congresso Nacional? São muitas as deputadas e as senadoras?
Milhomen – Ainda não. Nós temos debatido duas coisas lá no Congresso, nas reuniões dos partidos, que é a participação da mulher no Congresso Nacional, ainda muito pequena. As mulheres, hoje, salvo engano, são 46 com assento na Câmara Federal, o que é insignificante para a representatividade delas nas atividades econômicas, na atividade social e na participação das mulheres na contribuição para as grandes conquistas do país. Outra questão que debatemos é a participação dos negros, uma grande maioria da população, mas que também são muito mal representados no Congresso Nacional. Lá somos em torno de 44 deputados e deputadas negros. Isso é importante ser destacado.
Diário – Para o senhor há preconceito também para que isso ocorra?
Milhomen – É verdade. A sociedade brasileira, mesmo vivendo mais de 500 anos de liberdade, ainda tem uma herança cultural muito forte de preconceitos, não só com os negros, não só com as mulheres, mas com idosos também. Na verdade, há uma intolerância da sociedade com os diferentes e a gente precisa construir isso no dia a dia. Ninguém nasce com preconceito, ninguém nasce com racismo; as pessoas são construídas com esses sentimentos. Então nós precisamos trabalhar nas escolas, precisamos trabalhar com as crianças dentro de casa para que elas não desenvolvam esse preconceito e esse sentimento de intolerância com as diferenças, sejam elas quais forem, sejam religiosas, sejam raciais, de gênero ou opção sexual. Elas precisam ser respeitadas.
Diário – E temos visto episódios de intolerância ainda hoje no Brasil, não é?
Milhomen – Infelizmente hoje em nosso país, mesmo vivendo um período pleno de democracia, mas com pouca maturação dessa democracia, em virtude do período que vivemos sob a ditadura militar, o que tem sido representativo. Eu vi ontem [sexta] e fiquei chocado assistindo a um telejornal a ocorrência repetida de racismo, primeiro com aquele jogador do Cruzeiro, no Peru, e depois aqui no Brasil, com outro jogador e também com um árbitro de futebol. Nós temos que parar com isso. Vamos ter que nos indignar que algumas pessoas continuem pré-históricas, com esse sentimento ruim, entendeu? Isso não leva a nada.
Diário – O que precisa ser feito, deputado?
Milhomen – Nós precisamos melhorar a sociedade. O Congresso Nacional é a caixa de ressonância da sociedade. Lá nós elegemos as pessoas que irão representar o povo.
Diário – Tem gente que até critica o fato dos acontecimentos na sociedade pautarem o Congresso. Mas há também quem ache salutar que os políticos pelo menos ouçam a opinião pública, não é?
Milhomen – Com certeza. O veículo de comunicação do Congresso Nacional com a sociedade precisa ser cada vez mais amplo, mais aberto, para que não soframos interferências de outros interesses na hora de representar o povo, para que o cidadão que está cobrando seja o mesmo beneficiado por aquele projeto ou daquele interesse, e que não seja manipulado por uma parte da sociedade que realmente influencia muito na chamada opinião pública. A opinião pública no Brasil tem sido direcionada por alguns segmentos da sociedade que incutem nas cabeças das pessoas menos informadas ou desinformadas comportamentos que levam a certos exageros, daí os episódios de intolerância contra mulheres, negros, homossexuais, enfim, devido à existência de pessoas que ainda plantam esses sentimentos ruins e antidemocráticos.
Diário – Se costuma dizer no Brasil que o ano começa depois do Carnaval. Mas depois virá a Copa e pouco depois as eleições. Então, do ponto de vista da pauta do Congresso, será um ano mais curto. Como administrar essa falta de tempo e o que será prioridade, deputado?
Milhomen – É, nós deveremos fazer uma reunião nesta semana com toda a nossa bancada do Amapá para tirar alguns pontos de extrema importância e que ainda não foram resolvidos no decorrer desses anos, e que dizem respeito ao nosso estado. São projetos importantes como, por exemplo, a PEC 111 que a gente está discutindo com cada bancada. Hoje a Câmara Federal vai trabalhar com prioridades, ou seja, cada bancada partidária irá indicar um número de projetos julgados mais importantes para aquela bancada e para a sociedade brasileira.
Diário – Seria um plano de ação, então?
Milhomen – Exatamente. E nós já conseguimos dentro do PCdoB fazer com que a PEC 111 seja uma prioridade do partido. E assim vamos construir com nossos colegas para que cada partido que podemos influenciar com a presença de um companheiro nosso, possa entender essa prioridade. No conjunto dessas demandas vamos ter lá de sete a oito pedidos para que votemos a PEC 111 no segundo turno. Temos também a questão do Plano Collor, uma coisa que nos engasga, pois não está diretamente sob o nosso controle, está no Judiciário. Na hora que o Supremo Tribunal Federal votar o caso do Ceará teremos a repercussão também aqui para os nossos servidores do Amapá.
Diário – O fato de estarmos em ano eleitoral e do senhor ser da base da presidente Dilma dá uma expectativa boa de emplacar mais ações e recursos importantes para o Amapá?
Milhomen – Sim, sou sempre otimista. Mas nós temos feito um trabalho neste sentido, toda a nossa bancada do Amapá, muito unida, no que diz respeito aos interesses do estado. É assim com as prefeituras, o governo do estado e as entidades sociais. Há um desprendimento positivo da bancada e quero incluir a todos os parlamentares, daí a satisfação de coordenar a bancada por saber que alcançamos resultados importantes. O reconhecimento do governo federal é uma consequência natural.
Diário – Sobre as emendas parlamentares, também tudo corre bem?
Milhomen – Temos feito um esforço para colocar recursos para o maior número de entidades possível, seja o governo, as prefeituras ou entidades civis através de programas. E nós também passamos a trabalhar com os órgãos da Justiça, alocando recursos federais para projetos do nosso Judiciário que há muito tempo não eram viabilizados. Temos recursos da bancada destinados também ao Ministério Público, que está podendo viabilizar suas atividades. Foi assim também com o nosso Tribunal de Justiça do Estado e o Tribunal Regional Eleitoral, colocando recursos importantes para que a nossa Justiça possa atender aos anseios da sociedade, pois a ações do Judiciário estão em todo lugar deste estado. Quero aqui parabenizar os gestores destes órgãos, do MP, do Tjap e do TRE, que além de aplicar corretamente esses recursos, conseguem multiplicar seu alcance.
Diário – O senhor é um homem de partido e o PCdoB já lhe impôs um grande desafio que foi disputar uma eleição majoritária em 2012, quando concorreu a prefeito de Macapá. E para este ano, qual será a prioridade do partido?
Milhomen – O PCdoB é um partido programático e têm discussões que vão desde a direção nacional até aos direcionamentos para as direções estaduais e municipais. Ele constrói no âmbito nacional suas alianças e em nível local o PCdoB tem uma participação importante e clara em nível de governo do estado e na atividade política do Amapá. Estamos costurando uma aliança com o PSB no Maranhão para que nosso companheiro Flávio Dino, do PCdoB, dispute o governo do estado. A ideia é reeditar essas alianças aqui também, pois garantem a viabilidade e visibilidade para a construção do projeto que o partido defende com a distribuição de renda para a sociedade e o bom atendimento ao cidadão.
Perfil...
Entrevistado. Evandro Costa Milhomen, ou simplesmente Evandro Milhomen (Santana, Amapá, 21 de abril de 1962), é casado, sociólogo formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), atualmente deputado federal pelo Amapá. É filiado ao PCdoB. Foi vereador em Macapá de 1997 a 1999, eleito pelo PSB, mesmo partido pelo qual se elegeu deputado federal em 1999 e se reelegeu em 2003. Para a eleição de 2007 trocou de partido, ingressando no PCdoB. Também exerceu o cargo de diretor municipal de Ação Comunitária de Macapá entre 1990 e 1994. Disputou o cargo de prefeito de Macapá em 2012, não tendo entrado para o Segundo Turno da disputa, ocasião em que decidiu apoiar a candidatura do prefeito Clécio Luís.
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