sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Reportagem Especial: Embarque de grãos no porto projeta o Amapá

ARMAZENAGEM: Uma grande estrutura está sendo montada na Ilha de Santana para estocar a produção, com grandes silos de alumínio.
Estratégia de escoar a produção de soja e milho do Centro-Oeste pelo porto de Santana ao mesmo tempo que resolve os gargalos do congestionamento de Santos e Paranaguá abre horizontes ao estado.

Texto:  Cleber Barbosa | Fotos: Antônio Feijão

De grande vocação portuária, o Amapá há muito tempo acalenta o sonho de virar um grande entreposto de cargas para o restante da Amazônia e países vizinhos, como do Platô das Guianas e Caribe. A chamada navegação de cabotagem começa a se tornar realidade com a consolidação de um arrojado projeto de escoar a produção de grãos do Centro-Oeste do país pelo Porto de Santana. Essa é uma solução para os atuais gargalos provocados pelo congestionamento de portos como o de Santos (SP) e Paranaguá (PR), que atualmente exportam a produção de soja e milho do Mato Grosso. Especialistas dizem que como para se chegar a esses terminais são utilizadas carretas, isso encarece o custo de transporte. A solução é levar os grãos até Miritituba, em Itaituba (PA) e de lá se acessar o porto amapaense, utilizando barcaças. Daqui os grandes navios graneleiros transportariam ao exterior.

Distâncias do transporte:
- MT/Santos (SP): 2.300 Km
- MT/Miritituba (PA): 1.100 Km
- Miritituba/Santana: 820 Km
- Santana/China: 30 dias
- Tempos médios para vencer essas distâncias: rodoviário do Mato Grosso até Miritituba (12 horas); do porto de Miritituba até Santana (36 horas).

ALTERNATIVA
Segundo o economista Jurandil Juarez, desde o século passado que os grandes produtores de grãos do Centro-Oeste brasileiro estavam em busca de novos portos para o escoamento da produção. “Essa é uma demanda reprimida histórica, pois o custo do transporte rodoviário e os vários dias parados em Santos ou em Paranaguá atrasam e encarecem demais os custos para o embarque desses grãos para fora do país”, explica o especialista.
Com a chegada da produção de grãos, o mercado local se aquece.

VANTAGENS
A economia com a opção do transporte fluvial pode ser medida pela capacidade das barcaças. Dois comboios equivalem ao  transportado por 1.000 carretas.

A trajetória dos grãos e a evolução industrial dos investidores
Empresário Cláudio Zancanaro, da Cian Port
No dia 29 de outubro deste ano, a Cian Port (Companhia Norte de Navegação e Portos) assinou, em Brasília, o contrato de instalação de um Terminal de Uso Privado (TUP) na Ilha de Santana (AP). A outorga, que tem duração de 25 anos, foi concedida pela Secretaria de Portos (SEP) da Presidência da República e pode ser renovada por igual período.
Essa unidade, subordinada ao Porto de Santana, estará interligada ao terminal instalado às margens do Rio Tapajós, em Itaituba (PA) e vai beneficiar o escoamento da safra de grãos pelo norte do país, desafogando o trecho norte da BR 163, ainda em fase de duplicação. A Cian Port é formada pela Agrosoja de Sorriso, de propriedade de Cláudio Zancanaro, e a Fiagril, com sede em Lucas do Rio Verde, do empresário Marino Franz.
De acordo com Antônio Feijão, consultor contratado pela Cian Port para desenvolver as etapas locais do projeto, a primeira grande vantagem do chamado Corredor Norte de exportação de grãos é mesmo a econômica. Os produtores terão um custo menor em cerca de US$ 50 a US$ 80 (dólares) por tonelada, dependendo do destino. “A segunda vantagem é que eles vão poder retornar, pela primeira vez, com insumos para a agricultura”, sustenta Feijão.
E ele tem razão. Pois quando uma carreta sai do Mato Grosso e leva três dias para chegar no Porto de Paranaguá (PR) volta “batendo” como se diz na gíria dos caminhoneiros, pois não há frete para o caminho inverso. Segundo Antônio Feijão, quando um navio importa insumos agrícolas como NPK, cimento, minérios para dentro da Amazônia e os seus navios irão retornar com insumos agrícolas esse eixo desse insumo que veio no lastro de navio vai retornar de volta pro Mato Grosso através do refluxo das barcaças e o retorno dos caminhões.
Para o consultor, todos ganham com isso, o produtor que vai escoar os grãos numa rota mais barata, como também os agricultores que terão os insumos mais baratos na porta de suas fazendas. “E ganha também o Amapá, que vai ter uma indústria não poluente porque todas as relações ambientais mais pesadas ficaram no Mato Grosso, aqui serão só agroindústrias, produção de biodiesel, produção de rações, portanto o Amapá terá uma nova ordem econômica que é a transformação de proteína vegetal em insumos animais como frangos, suínos, piscicultura e outros bens mais”, completa Feijão.

A rota dos grãos do Centro-Oeste brasileiro até o Porto de Santana

* Matéria publicada na edição nº 001 da Revista Diário

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