Um dia destes assisti a um filme
chamado ‘O Solista’, sobre um músico talentoso que era morador de rua por
problemas mentais. No final, falaram sobre a existência de 90 mil moradores de
rua na cidade de Los Angeles. Não existem estatísticas seguras em lugar nenhum
do mundo e, no Brasil, o IBGE não consegue chegar a um número correto, pois
alega que os moradores de rua não possuem endereço fixo.
Os números aproximados mostram que
nos Estados Unidos existem mais de 350 mil moradores de rua. Na Inglaterra são mais
de 300 mil. Em Moscou, sabe-se que morrem mais de 400 pessoas nas ruas devido
ao extremo frio durante cada inverno, mas não se tem um número certo de quantos
são no total.
No Brasil, de acordo com um
levantamento do Ministério do Desenvolvimento Social, estima-se que perto de
1,5 milhões de brasileiros vivam nas ruas. São pessoas excluídas do sistema por
problemas como alcoolismo, drogas, doenças mentais, desavenças com familiares,
desemprego, desilusão com a vida e outros. Este é o nosso mundo real, não
aquele da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
Também é muito triste saber que,
enquanto escrevo este artigo, no aconchego do meu lar, existem pessoas
preocupadas em ter um jornal para se cobrir e tentar sobreviver ao frio da
noite, muitas vezes de estomago vazio. Uma pesquisa feita pelo Ministério
Social e Combate a Fome entre 32 mil moradores de rua mostrou outro dado
surpreendente: 74% sabem ler e escrever, 48% terminaram o ensino fundamental e
2% completaram o curso superior e falam outros idiomas.
Em São Paulo, a prefeitura instalou
rampas contra estes indesejáveis inquilinos, nas áreas sob diversos viadutos,
com um piso áspero e incômodo, para evitar que durmam lá, pois não é adequado
mostrar uma cidade cheia de moradores de rua. A prefeitura também quer acabar
com a distribuição gratuita de sopa aos moradores de rua, que é feita por
instituições de caridade, a não ser que ela ocorra nos albergues da prefeitura,
e enquadrar criminalmente aqueles que insistirem nesta prática de solidariedade
humana.
As instituições alegam que isto é uma
criminalização da caridade e no meio dessa polêmica, lembro que perguntaram a
um morador das ruas de São Paulo, sobre o que há de pior em viver nas ruas. Ele
coçou a barba, olhou para o vazio, e respondeu:
− O pior... O pior é a chuva!
Enquanto eu escrevo esta crônica, cai
uma chuva fina lá fora.
*Célio
Pezza é colunista, escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete
Portas, Ariane, A Palavra Perdida e o seu mais recente A Tumba do Apóstolo.
Saiba mais em www.facebook.com/celio.pezza
Sobre Célio Pezza
O escritor Célio Pezza, 64 anos,
iniciou a carreira de escritor em 1999, movido pela vontade de levar as pessoas
a repensarem o modelo de vida atual dos seres humanos. Seus livros misturam
realidade e suspense, e Celio já tem 8 livros publicados, inclusive no
exterior, e é colunista colaborador de dezenas de jornais e revistas por todo o
país.
Saiba mais em: www.facebook.com/celio.pezza
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