sábado, 13 de junho de 2015

ECONOMIA: Controvérsias sobre a pobreza no Amapá.

NA PONTE - No Amapá moradias pobres não são chamadas de favelas.
Texto: Cleber Barbosa para a Revista Diário

Há muito se diz que o Amapá é um estado pobre, muito embora a cada ano essa unidade da federação sempre figure entre as maiores taxas de crescimento populacional, especialmente por gente que vem com a fantasia de encontrar um “eldorado” de oportunidades e empregos. Mas, de fato, o Amapá é terra de gente pobre? Há quem diga que sim, como quem diga que não.
Segundo o estatístico Raul Tabajara, essa é uma questão muito subjetiva, ou seja, difícil de fazer um diagnóstico, pois depende de uma série de condicionantes e também do ponto de vista de quem observa o problema. Ele diz que existe no Amapá uma lacuna no que diz respeito às informações de indicadores conjunturais relativos a trabalho, força de trabalho e o rendimento. “Lemos e ouvimos dados na imprensa, nas palestras e entrevistas de especialistas, dados tão contraditórios, que ficamos assustados, pois as informações são obtidas da mesma população através de amostras e só o interesse interessado pode explicar as diferenças”, argumenta, com trocadilho.
E ele utiliza para isso a matéria-prima de sua atividade profissional, já que é coordenador de divulgação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ele diz que em estudo preparado para o Banco Mundial, a professora Sônia Rocha, denominado “Pobreza, Desenvolvimento e Política Social, O caso do Estado do Amapá”, consta que foram três momentos pontuais que contribuíram para o fluxo migratório em direção ao Amapá. Nos ano 50 e 60 com a Icomi, em Serra do Navio, nos anos 80 com a Jari Celulose e nos anos 90 com a criação da Área de Livre Comércio de Macapá e Santana. “Em descompasso com as reais possibilidades associadas a ela em termos de geração de emprego e renda, levando a um forte crescimento demográfico do município da capital e ao longo do eixo Macapá e Santana”, diz a pesquisadora em seu relatório.
Sazonal - Sônia Rocha diz que a identificação de pequenas manchas de minério de ouro tem levado à formação de correntes migratórias eventuais, que exercem pressão demográfica significativa em nível local, dadas as características de baixa densidade no Estado.

Melhor ser pobre no interior ou morar em ponte na cidade?

Nem sempre ter renda baixa é sinônimo de baixa qualidade de vida, segundo especialista

A pergunta que fica no ar é exatamente essa, ser pobre na cidade ou no interior? O estatístico Raul Tabajara, do IBGE no Amapá, diz que embora se tenham hoje famílias em comunidades do interior com pouca ou quase renda alguma, dados relacionados à qualidade da alimentação – à base de frutos e peixes –, por exemplo, as deixam em vantagens comparativas em relação àquelas que moram nos bolsões de pobreza dos perímetros urbanos de cidades como Macapá e Santana. “E aqui, mesmo com algum dinheiro, ainda que garantidas por programas federais de transferência de renda, elas ainda possuem despesas com serviços e consumo, seja do transporte, vestuário e outras necessidades”, diz o especialista.

RESPOSTA
Raul Tabajara, do IBGE-AP
Ele cita dados oficiais para dizer que gente pobre do interior do estado está garantindo uma qualidade nutricional que parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS) preconizam como minimamente aceitáveis para que se tenha boa qualidade de vida. Nas cidades, diz, a população carente acessa as proteínas do frango congelado que vem dos grandes centros produtores do país. “Hoje observamos que o consumo de frango congelado subiu tanto, que nos tornamos o maior consumidor per capita do país com mais 30 kg por pessoa ano”, acrescenta o especialista do IBGE no Amapá.

PESQUISA
Pesquisadora Sônia Rocha
O parâmetro de renda utilizado como linha de pobreza é uma escolha do analista. Optou-se na pesquisa da professora Sônia Rocha por adotar linhas de pobreza definidas para a região Norte a partir de informações de consumo observado dentre as famílias de baixa renda e da evolução dos preços ao consumidor por grupos de produtos nas metrópoles.  Especificamente, as linhas de pobreza utilizadas foram construídas a partir da cesta alimentar de menor custo, observada em Belém, permitindo atender às necessidades nutricionais médias de 2.055 calorias por pessoa ao dia.  Os valores estabelecidos para o Amapá levam em conta que em áreas urbanas e rurais, como é o caso das áreas em estudo no Estado, o custo de vida para os pobres é mais baixo do que na metrópole regional. A partir do valor da linha de pobreza para Belém calculado a preços de agosto de 2000, data de referência do Censo da Demográfico, os valores per capita mensais para Amapá foram estimados em R$ 80,74 e R$ 46,02, respectivamente para áreas urbanas e rurais.
Macapá já concentra quase 60% da população do Estado, o que se coloca como questão central qual o padrão desejável de repartição espacial de população. “Dada a evolução demográfica e produtiva no Estado, é legítima a preocupação com a incidência de pobreza, que pode se agravar em função da migração, do abandono de atividades tradicionais na área rural e da urbanização descontrolada”, diz Sônia Rocha.

Déficit habitacional do Amapá não é dos piores, diz estudo
Apopulação do Amapá na contagem populacional ocorrida em 2007 foi de 587.153 habitantes, com o detalhe de que esse levantamento tem como data de referência o dia 01 de abril. Nessa data também foi identificado que havia cerca de 142 mil domicílios no Estado, sendo que 121 mil estavam ocupados, o que proporciona uma média de 4,6 pessoas por domicílios. Para Tabajara, é preciso se levar em consideração que esse dado não é de um todo ruim. “Temos ouvido na imprensa em geral que um dos maiores problemas do Estado é o grande déficit de moradia. Ao observarmos a taxa de 4,6 pessoas à luz de uma análise superficial parece-nos que essa preocupação é um pouco alarmista, tendo em vista que menos de cinco pessoas por domicílios é completamente normal para realidade amapaense”, diz o estatístico.
Porém, quando os especialistas analisam mais profundamente as informações que são ofertadas pelo Recen- seamento Geral de 2000 e pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD, temos um quadro que merece uma atenção especial por parte das autoridades que determinam e planejam a política habitacional. Aproximadamente 30% dos domicílios do Amapá possuem apenas um cômodo e esses domicílios apresentam o número de moradores acima da média do Estado, girando em torno de 5,5 pessoas por domicílios. Praticamente a metade dos domicílios do Estado não possuem banheiro interno e a água consumida têm origem em poço amazônico, isso significa que consomem água não tratada. “Essas informações mostram que a melhoria da qualidade dos domicílios é urgente e necessária para a elevação da qualidade de vida da população, e esses dados apontam para a urgência imediata de uma política publica firme nessa direção”, diz Raul Tabajara, tecnologista do IBGE-AP.

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