sábado, 13 de junho de 2015

REPORTAGEM ESPECIAL: Exército ocupa fronteira e confirma cobiça estrangeira.

Força desencadeia “Operação Cabo Orange” e comandante diz que a Amazônia ainda é alvo do interesse internacional, daí a decisão de aumentar a presença do estado em regiões como o Amapá.

Texto: Cleber Barbosa | Fotos: Sd Brenon César/34° BIS

E m uma verdadeira operação de guerra, com tropas desembarcando por terra, água e ar em Oiapoque, cidade na fronteira do Brasil, com a Guiana Francesa, o Exército Brasileiro deu o start em uma operação real denominada “Cabo Orange”, iniciada no fim de abril, mas que não tem data para acabar. A ocupação não é só dos homens – e mulheres – de farda rajada. Várias agências federais como Ibama, Receita Federal, ICMBio e a própria Polícia Federal, bem como órgãos estaduais de fiscalização e do aparelho da segurança pública, estão integrados na ação.
Segundo o coronel Alexandre Mendonça, do Comando de Fronteira Amapá e 34º Batalhão de Infantaria de Selva, também foram mobilizados efetivos de outros estados para compor o dispositivo a ser empregado na operação de Oiapoque. O reforço veio de cidades como São Luís (MA), Marabá (PA), Belém (PA) e Manaus (AM).
A ação em postos de controle que visam combate ao tráfico e ao descaminho.
PODERES
Ele explica que embora duas leis federais garantam poder de polícia na faixa de fronteira, é importante a participação das forças auxiliares. “Esse poder de polícia foi conferido ao Exército Brasileiro por intermédio da Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, alterada pela Lei Complementar nº 117, de 2 de setembro de 2004, no que tange aos seus aspectos práticos na região amazônica, então nos traz encargos maiores”, disse o militar.
O coronel também disse que as ações em conjunto se mostram mais efetivas e, por conseguinte, mais eficazes, pois aproveitam o potencial de todos e assim diminuindo as vulnerabilidades de cada área de atuação desses entes. “Desde a criação do Ministério da Defesa essa interoperabilidade tem sido observada, uma forma de atuar conjuntamente inclusive com troca de dados de inteligência entre as Forças”, acrescenta.

“Temos os melhores combatentes de selva do mundo”.
 A atuação do Exército é apoiada pelo trabalho de órgãos da segurança pública, diz o coronel Alexandre. 
A grande pergunta que se faz hoje é sobre a tão falada cobiça internacional sobre a Amazônia.  Segundo a reportagem apurou junto ao comando da Operação Cabo Orange, esse interesse estrangeiro ainda existe, mas não como os livros de história contavam no passado, ou seja, ocupar por ocupar, fazer colônias, lucrar com o ouro alheio. Para o coronel Alexandre a cobiça é permanente, mas pelos recursos naturais que o Brasil possui. “Não falamos hoje de invasão ou outras formas de domínio, mas temos dados concretos sobre a ação velada de agentes estrangeiros em nossas florestas, seja em supostas missões, Ong’s ou empresas multinacionais que exploram recursos naturais, a chamada biopirataria, que podem trazer ameaças à nossa soberania e também a questões indígenas, daí o Exército estar presente em nossas fronteiras, principalmente no chamado Arco Fronteiriço compreendido pelo Suriname e Guiana Francesa.

EFETIVO
Resultado direto desse planejamento estratégico do Alto Comando do Exército Brasileiro, o Amapá está recebendo uma Grande Unidade, a 22ª Brigada de Infantaria de Selva, batizada com o nome histórico de Brigada da Foz do Rio Amazonas. A sede é em Macapá e reúne os efetivos de três batalhões, o 34º BIS, o 2º BIS e o 24º BIL. “Mas antes da brigada tivemos a divisão do Comando Militar da Amazônia em duas partes, quando surgiu o Comando Militar do Norte, a partir da necessidade da divisão territorial da Amazônia, a partir de características que distinguem a parte ocidental da parte oriental dela”, explica o comandante. As obras de construção da Brigada estão em andamento, previstas para ser entregues em 2017, quando o efetivo total lotado no Amapá saltará dos atuais 820 militares para algo próximo a 3,8 mil profissionais, distribuídos em unidades de comunicação, transporte, blindados, artilharia e outros. Hoje, além de Macapá, há integrantes do Exército em Clevelândia do Norte, em Vila Brasil e também em Tiriós (PA), destacamento que deverá ser absorvido pela Brigada de Macapá.

VULNERABILIDADE
Indagado sobre em qual contexto internacional dos delitos transfronteiriços o Amapá está inserido, o coronel Alexandre diz que embora existam outras faixas de fronteira muito mais complexas, como na que vai do Peru, Bolívia e Colômbia, há sim informações de que a rota internacional do tráfico de drogas, armas e até de pessoas, possa ter pontos de apoio em território amapaense. “Existem outras partes da fronteira que são mais penetrantes para essa rota, como no Rio Solimões, que pode levar a grandes centros consumidores do país, enquanto que aqui os nossos rios desembocam no Foz do Amazonas, ou seja, para um mercado consumidor muito menor”, diz.
Para o atual comandante do 34º BIS, coronel Alexandre Mendonça, o Brasil possui os melhores combatentes de selva de todo o mundo, formados pelo renomado CIGS, o Centro de Instrução de Guerra na Selva, localizado em Manaus.

SOLDADOS
A cobiça do estrangeiro pela Amazônia ainda enfrenta a emblemática presença do “guerreiro de selva”, como é chamado o militar do Exército que serve na Amazônia. Segundo o coronel Alexandre Mendonça, esse é o melhor combatente em ambiente de mata do mundo. Para se ter uma ideia desse diferencial, militares de diversos países concorrem a limitadíssimas vagas no Curso de Operações na Selva, promovido pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva, o temido CIGS, em Manaus. “Mas o que o Brasil disponibiliza em termos de conhecimento é algo bem generalista, pois tem coisas que só trabalhamos com os nossos soldados”, diz ele. Alexandre diz ainda que o contingente de soldados que anualmente são recrutados na Amazônia, são de nativos dessas cidades pelo interior, portanto gente acostumada com a vida na floresta, então o que se passa são conhecimentos da doutrina militar e de conhecimento específico, pois no dia a dia esses homens e mulheres sabem muito bem como lidar com a floresta.

FORÇAS
Uma importante observação é feita por especialistas em ciências militares, que é o fato do Amapá fazer fronteira com um país integrante da OTAN, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, por vezes chamada Aliança Atlântica, uma aliança militar intergovernamental baseada no Tratado do Atlântico Norte, que foi assinado em 4 de abril de 1949. É que do outro lado do Rio Oiapoque está a Guiana Francesa, um protetorado francês na América Latina. A organização constitui um sistema de defesa coletiva através do qual seus estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa à organização. Em Caiena, na Guiana Francesa, para se ter uma ideia, o espaço aéreo é aberto para aeronaves que pertençam à OTAN, pois lá existe uma Base Aérea com esse fim. Ainda em território guianense, está instalado o Centro Espacial de Kourou, que pertence à União Europeia.
Durante a operação Cabo Orange, tropas do Exército do Brasil fizeram inúmeras ações de fiscalização e patrulhamento da faixa de fronteira em torno do Rio Oiapoque.

POSIÇÃO
A criação do Comando Militar do Norte e a implantação da Brigada da Foz do Amazonas no Amapá caracteriza a importância estratégica da Amazônia Oriental, que além da fronteira é a entrada para toda Amazônia,  que é o rio Amazonas.
Em Oiapoque, por ocasião do primeiro balanço da operação Cabo Orange, o próprio governador do Amapá, Waldez Góes, foi convidado pelo comando da ação. Três oficiais generais estiveram presentes. O comandante militar do Norte, general-de-Exército Oswaldo Ferreira, o comandante do I COMAR (Comando Aéreo Regional), major-brigadeiro do Ar Paulo Borba e o comandante do 4º Distrito Naval, Edlander Santos, que é vice-almirante.

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