sábado, 6 de agosto de 2016

AVIAÇÃO | Efeitos da redução dos voos para Macapá na economia do turismo

DESEMBARQUE - No terminal de Macapá, fluxo menor de passageiros.
Reportagem Cleber Barbosa

De uns tempos para cá, os amapaenses e também pessoas que precisam viajar para o estado passaram a se fazer uma pergunta: ir a Macapá ou a Paris? É que o preço cobrado pelo bilhete aéreo daria mesmo para fazer uma viagem internacional. E não se trata de sarcasmo ou ironia. R$ 3 mil por uma passagem entre Macapá e Belém é o mesmo que um trecho para a capital da França, para aproveitar o verão europeu. 
A explicação seria a redução paulatina da oferta de voos para Macapá, que se iniciou em 2014 e que se agravou em 2015. A entrada da uma terceira companhia aérea pode-se dizer que minimizou o problema, pois até então TAM e GOL promoviam ajustes na malha aérea praticamente limitando as opções de voos e conexões para o mesmo horário. A Azul, entretanto, com conexões passando por seus “HUB” em Viracopos (SP) e Confins (MG), enquanto que as concorrentes passaram a oferecer voos diretos para Brasília, onde a distribuição para outras cidades acontece. 
Em entrevista à Revista Diário, o presidente da Azul, Antonoaldo Neves, disse que a política de crescimento da empresa está em curso, prospectando exatamente a aviação regional – opera para mais de 100 cidades – como também o internacional, mas que a redução verificada não foi só para Macapá. “Isso aconteceu em todo o país, forçado pela queda da emissão de bilhetes”, disse o executivo, acrescentando ainda que as companhias voam para ter uma rota rentável “mas o setor é sazonal”. 
Outra alegação feita por ele é sobre a falta de uma política de incentivos para o querosene de aviação. “Aqui em São Paulo o litro do querosene custa R$ 2 e em Cacoal, no Amazonas, R$ 10, isso é uma extorsão”, diz Neves. Ele sustenta que alguns destinos operados pela Azul só se mantém devido à renúncia fiscal dos estados sobre o ICMS da aviação. 
Por falar em sazonalidade, a Azul acaba de inaugurar novo voo para Macapá, conectando com Belém em plena alta temporada, as férias de julho.

Para turismóloga, a baixa ocupação de aviões levou à redução
A presidente da ABBTur (Associação Brasileira de Bacharéis e Profissionais do Turismo) no Amapá, Lara Santos, diz que recentemente viajou entre Belém e Macapá numa aeronave com capacidade para 187 passageiros, mas estavam a bordo apenas 63 clientes. Esse recorte, embora não reflita um levantamento completo, demonstra como a crise pode ter afetado o setor da aviação. “As pessoas estão viajando menos”, resume a técnica. 
Ela explica que a consequência direta disso é que as companhias reduziram o número de voos, o que levou ao aumento das tarifas. “O problema é para quem precisa viajar com urgência, em cima da hora, como se diz”, aponta Lara, referindo-se especialmente a pessoas que precisam viajar para tratamento de saúde ou motivos profissionais. E ela tem razão. É que uma regra antiga e ainda muito válida dá conta de que com quanto mais antecedência se compra o bilhete, melhor as chances de conseguir boas tarifas, promocionais. 
Lara conta que destinos consolidados para os amapaenses, como Belém e Fortaleza, ficaram caros demais e já não são tão viáveis. “Antes conseguíamos preços de R$ 350, R$ 450 para Fortaleza; hoje não sai por menos de R$ 900 a R$ 1,1 mil”, lamenta a especialista.

Censo Hoteleiro reflete redução de passageiros, diz especialista
O turismo é acima de tudo uma atividade econômica, que movimenta nada mais do que 54 outras atividades empreendedoras, portanto forma o que os especialistas chamam de cadeia produtiva do turismo. E foi para esclarecer essas e outras dúvidas que a reportagem procurou um dos principais especialistas no assunto em Macapá, o turismólogo Sandro Bello, que é da direção local da ABBTUR, a Associação Nacional de Bacharéis e Profissionais do Turismo. 
Ele acaba de ser premiado por um artigo científico denominado “Censo Hoteleiro do Amapá”, levantamento inédito e que serve como norteador para o setor e também ajuda a entender os efeitos da diminuição da oferta de voos para Macapá. Sandro diz que o problema começou com o cancelamento de alguns voos, motivados pela baixa ocupação das aeronaves, que sabidamente precisam ter um percentual mínimo de ocupação para cobrir os custos operacionais. Depois vieram as retiradas de voos, com redução da oferta de assentos, claro.
O levantamento feito pelo especialista demonstra que com a queda do fluxo de passageiros, medidos no embarque e desembarque no aeroporto de Macapá, houve consequentemente uma redução da ocupação hoteleira. Para se ter uma ideia, em 2014 foram 748.480 hóspedes, contra apenas 662.247 em 2015, ou seja, uma redução de 87.233 turistas a menos no período.
O Amapá tem hoje 1.309 unidades habitacionais em sua rede hoteleira, o que significa dizer 2.202 leitos por dia ou 262.781 diárias por ano. “Vínhamos numa escalada de crescimento, a nível mundial em 2010 com uma ascensão econômica global, que teve reflexos aqui em 2012, com ampliação significativa no setor da aviação, impulsionado com a entrada da Azul operando em Macapá. Mas depois veio a crise de veio a público pouco depois das eleições de 2014. “E naquele ano a gente registrou o pico histórico de nossa ocupação hoteleira no Amapá, que possui um PIB hoteleiro de R$ 36 milhões anuais”, diz. Em outro estudo premiado, Sandro publicou o Observatório do Turismo Amapaense, sendo relacionado entre os 10 melhores turismólogos do país.


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