terça-feira, 29 de junho de 2010

“O Brasil e o mundo precisam saber que o Amapá existe”


Depois de sua segunda viagem oficial à Indonésia em menos de um ano, o governador Pedro Paulo Dias de Carvalho garantiu no desembarque que os objetivos iniciais foram alcançados, dando todas as garantias para que se instale no Amapá o poderoso grupo Salim, que detém a primazia na produção mundial de palma, vendem mais miojo que qualquer outro, além de fabricarem cimento e espalharem os maiores “resorts” pelo planeta. Só que o atual governador do Amapá quer mais. Na verdade, Pedro Paulo defende uma mudança no relacionamento do Estado com grandes empreendimentos, exigindo não apenas uma contrapartida ambiental, mas especialmente um retorno social para a mão de obra a ser explorada por quem quer que venha a se instalar no Estado para explorar alguma atividade econômica. Independente das questões político-partidárias, Pedro Paulo foi o personagem da semana, protagonista de um momento histórico que se concretizado pode garantir U$ 1,3 bilhão de dólares em investimentos e mais de 16 mil empregos diretos.

Diário do Amapá - Porque o senhor está empe-nhado em sair do Amapá em busca de recursos em outros Estados e até países, como nessa sua recente viagem à Indonésia?
Pedro Paulo - Nós temos tido um trabalho muito forte para fazer com que o Amapá seja visto pelo Brasil e pelo mundo. Tem gente aqui no próprio país, seja da região Sul ou Sudeste que às vezes nem sabem onde fica o Amapá, então eu na qualidade de governador, de gestor, tenho a obrigação, o dever de estar sempre levando o nome do Amapá para fazer com que as coisas aconteçam da maneira mais rápida aqui no Estado. Reconhecemos que há um número significativo de pessoas aqui no Estado que precisam de emprego, então nós precisamos fazer com que a economia do Amapá cada vez mais possa aumentar, pois temos um processo de imigração muito grande para o Estado, que tem uma taxa de crescimento que é o dobro do resto do país e nós precisamos criar alternativas para o nosso Estado.
Diário - Então esse grupo empresarial da Indonésia é uma aposta do senhor como uma dessas alternativas econômicas?
Pedro - Eu venho conversando com o grupo Sa-lim já há dois anos e conheço a forma com que ele trabalha, ou seja, a maneira como eles desenvolvem suas atividades em vários ramos. Trata-se de um grupo que possui 350 mil funcionários em todo o mundo em várias áreas de atuação. Não poderia ser diferente aqui em nós darmos essa oportunidade para o Estado do Amapá, com esse serviço, esse modelo de gestão que eles empregam no mundo todo. Já estive lá na Indonésia nesses dois anos e agora houve uma definição por parte do grupo em investir no Amapá. Eles fizeram a proposta para que eu fosse na Indonésia exatamente para conversar com a direção do grupo, pois são 32 diretores e eu pude conversar com ele, que bateram o martelo para começar os investimentos em setembro deste ano aqui no Estado do Amapá.
Diário - E qual a previsão iniciam para esse investimento, em termos de geração de emprego e renda, governador?Pedro - Segundo as projeções que eles nos apresentaram para os próximos quatro anos, em 100 mil hectares de plantio de dendê eles criam 16 mil empregos, constroem escolas, hospitais, áreas de lazer, enfim, é um modelo de trabalho com retorno social.
Diário - Eles vão investir no dendê e nós vamos tirar proveito na habitação, é isso?
Pedro - Na geração de emprego e renda. Além dos empregos, eles constroem casas para os traba-lhadores, unidades hospitalares, escolas para os filhos dos trabalhadores, um modelo de administração, de empresa que para nós é interessante sim. Não é aquela que vem só explorar, explorar, sem que as coisas aconteçam, deixando problemas sociais o que nós não queremos e não vamos permitir.
Diário - Não vão permitir e não estão permitindo também não é mesmo?
Pedro - Ontem, por exemplo, eu conversava com a direção da Amcel (Amapá Florestal e Celulose Ltda.), uma empresa que está aqui há mais de trinta anos, com 306 mil hectares de terras, mas emprega apenas 700 pessoas e que as estradas estaduais e federais utilizadas por eles estão extremamente desgastadas por aquelas carretas enormes. Nós queremos fazer com que o Amapá seja respeitado. O Estado quer parcerias com as empresas, quer gerar empregos, mas o mundo mudou e é necessário hoje que os empreendimentos tenham retorno ambiental e social também.
Diário - Quantos empregos o senhor espera que esses novos investidores possam gerar no Amapá?
Pedro - Pelo planejamento estratégico deles que me foi apresentado, eles pretendem investir no Amapá nos próximos dez anos em torno de U$ 1,3 bi-lhão (de dólares), mas nos primeiros quatro anos serão U$ 400 milhões (de dólares) para o plantio de 100 mil hectares de dendê. Isto tudo nos deixou extremamente contentes pelo interesse deles pelo agronegócio, mas substancialmente pelo fato deles mexerem com outras atividades, como cimento, montadoras de carros, com a produção de macarrão, aliás, na verdade eles são os maiores produtores de miojo do mundo. Eles também mexem com "resorts" [hotéis de alto luxo], aliás, os melhores resorts do mundo são deles. Os maiores torneios de golfe do mundo, normalmente, acontecem nos resorts deles. Mas o interesse deles pelo Amapá tem a ver também pela localização geográfica do nosso Estado.
Diário - Mas de onde veio esse interesse, como foi despertado? Houve alguma incursão do seu go-verno ou foi só por nossa localização geográfica?
Pedro - Sabemos que a produção de palma se dá muito bem 10 graus acima, dez graus abaixo da Li-nha do Equador. Se você for verificar no mapa vai ver que a Indonésia fica vai ver que ela está do outro lado do mundo, mas exatamente na mesma direção do Amapá, esse é o ponto principal. Eles também são cortados pela linha que divide o mundo. Lá a temperatura é a mesma daqui, um clima tropical. Esse grupo Salim detém a liderança mundial, a maior experiência, eles possuem as melhores sementes de palma do mundo são eles que produzem.
Diário - Então diante de tantas semelhanças geográficas porque eles valorizam a localização geográfica do Amapá?
Pedro - É que através do Amapá eles podem entrar no mercado norte-americano e também na Europa, então eles observam o que o Amapá tem. Um dos diretores, que trabalha na Holanda, foi muito claro: o Amapá tem água, o Amapá tem energia e tem terra para plantar, então eles olham o Amapá com grande potencial para produção das muitas atividades deles.
Diário - O Amapá fará a sua parte que é criar as condições para atrair os investimentos externos, claro, cedendo também as terras para que esse plantio seja feito, então o processo de reversão das terras da União para o Estado está concluído?
Pedro - Essa é uma das questões que nós estamos trabalhando no Imap [Instituto do Meio Ambiente e Ordenamento Territorial], que tem um papel importantíssimo nisso tudo, afinal nós temos aqui produtores que estão há trinta ou quarenta anos e uma determinada área mas que não tem o título dessa terra. Então paralelamente a tudo isso nós estamos contratando uma empresa que vai ajudar a fazer a legalização dessas terras. Houve a transferência das terras da União para o Estado mas nós temos ainda uma série de etapas a cumprir, mas estamos fazendo isso paralelamente, pois o primeiro ponto para nós fazermos essa legalização fundiária é a questão do georreferenciamento, que já foi iniciado. Evidentemente que nós não podemos fazer tudo da noite para o dia, mas é importante dizer que nós estamos avançando nessa área. É uma determinação nossa para a equipe de governo para que a gente possa legalizar não só essas terras que eles têm interesse de comprar, mas porque eles querem a documentação delas.
Diário - Correndo tudo bem nesse sentido, com a empresa se instalando, plantando a palma, nós vamos produzir aqui matéria-prima ou nós vamos processar essa matéria-prima aqui no Amapá?
Pedro - Enquanto eu estiver governador sim. Eu disse que o mundo mudou e por conta dessas mudanças todas o Amapá também mudou. Nós não aceitamos mais nenhuma empresa que venha para cá investir simplesmente para nós produzirmos matéria-prima, nós queremos verticalizar. O que foi acertado com eles foi que para cada 100 mil hectares eles vão ter uma indústria de beneficiamento de dendê.
Diário - Algumas pessoas poderiam dizer que isso tudo está acontecendo e o senhor teve a sorte de cair exatamente no seu colo a chegada de um grupo poderoso como o Salim exatamente no seu período de governo. Foi sorte mesmo ou fruto de alguma gestão feita por seu governo?
Pedro - Primeiro que esse empreendimento é fruto exatamente de uma articulação e eu tenho dito que o Brasil precisa conhecer o Amapá e eu tenho levado o nome do nosso Estado onde quer que eu ande. A revista Exame da semana passada publicou uma matéria que dizia "Eles estão chegando", referindo-se a vinda de investidores chineses ao Brasil. Então eu levei essa revista para o presidente do grupo, o senhor Antony Salim, agora nessa viagem à Indonésia, que ficou ainda mais entusiasmado e disse para mim o seguinte: "Eles estão indo mas nós também estamos indo para o Brasil". Então essa possibilidade de eles virem para cá requer dos nossos técnicos amapaenses e do Governo do Estado como um todo, que todos nós façamos o nosso dever de casa.
Diário - E que providências seriam essas, governador?
Pedro - Nós temos instrumentos excelentes para atrair esses investidores. Nós temos a ZPE [Zona de Processamento de Exportação], nós temos a Zona Franca Verde, nós temos a Área de Livre Comércio, então o que nós precisamos fazer é utilizar esses instrumentos. Além disso, nós temos o Manual do Investidor, que dá uma série de vantagens principalmente no que diz respeito a compra de equipamentos com isenções de ICMS e uma série de outras vantagens. Então neste últimos dois anos eu tenho andado, fui a Paris, sempre levando o nome do Estado do Amapá, falando das nossas vantagens comparativas, da localização geográfica, a quarenta minutos de vôo de Caiena, a uma hora e meia de Aruba, a quatro horas de Miami, a oito horas de Paris, isso tudo para dizer que as pessoas precisam conhecer mais sobre o Amapá, que não é longe, pois o Brasil começa aqui.

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