O deputado federal Bala Rocha (PDT-AP) concedeu ontem uma esclarecedora entrevista ao programa Conexão Brasília, pela Diário FM, em que discorreu a respeito da viagem que fez à Europa há alguns dias, quando participou de conferência internacional sobre o trabalho. Na volta ao Brasil ele se deparou com as manifestações populares nas ruas, especialmente em Brasília, onde o parlamentar trabalha. Bala Rocha fala sobre como está observando a participação popular de reivindicar mudanças no país. Resignado, admite que a classe política precisa dar as respostas que as diversas classes sociais estão exigindo. Acompanhe os principais trechos da entrevista, a seguir.
Cleber Barbosa
Cleber Barbosa
Da Redação
Diário do Amapá – O senhor esteve recentemente em Genebra, na Suíça, participando de uma conferência importante. Já refeito do fuso horário, encontrou por lá temperaturas mais amenas, de início de Verão, não é?
Bala Rocha – É. Lá em Genebra de fato o tempo estava bom, digamos assim. Mas o bom mesmo foi o resultado da conferência.
Diário – É uma conferência muito tradicional, com várias edições anuais, não é mesmo?
Bala – Exato. Acredito que essa era a 102ª edição da Conferência da Organização Internacional do Trabalho que trata sobre temas muito importantes para os trabalhadores do mundo todo.
Diário – E por que Genebra, a sede fica lá?
Bala – É a sede fica em Genebra, na Suíça, EUA é tido como um país neutro nessas questões. É um país onde existem muitas convenções que são assinadas, inclusive nós temos uma aqui com o Amapá, que foi o Laudo Suíço que foi assinado em 1900 com a mediação do Barão do Rio Branco sobre os limites das terras entre Brasil e França, ou seja, entre o Amapá e a Guiana Francesa.
Diário – Por acaso o senhor não visitou o local onde está o tombamento deste registro?
Bala – Não, não fui porque só fiquei cinco dias em Genebra, e nós nos concentramos mesmo nos debates. Neste ano, o principal tema foi a erradicação do trabalho infantil. No ano passado nós tratamos muito do trabalho escravo e da questão do trabalhador doméstico. Este ano nós também falamos muito sobre a questão do diálogo social e emprego verde. Eu acho que há um incentivo de que a indústria e as empresas em geral possam buscar meios de criar empregos mais adequados do ponto de vista ambiental.
Diário – Bem, uma troca de experiências como essa dá que tipo de contribuição para um mandato como o do senhor para a atuação junto às comissões da Câmara?
Bala – Exato, nós tivemos, por exemplo, a presença do ministro do Trabalho também, o ministro Manoel Dias que é do PDT também. Quando se retorna de uma conferência como essa nós procuramos focar também o nosso trabalho em temas contemporâneos daqui do Brasil e em assuntos relacionados com esses temas que nós tratamos lá. O trabalho infantil ainda é um problema sério no Brasil e nós vamos cada vez mais nos empenhar para que a criança esteja na escola, isso é o que é importante. A gente sabe que tem aquelas famílias muito carentes que as crianças vão para o trabalho muito cedo, mas isso não é do adequado. O adequado é que o governo tenha condições de manter essas famílias com alguma renda para que as crianças possam estar na escola.
Diário – Da Câmara foi só o senhor como parlamentar?
Bala – Do Amapá só eu, mas tivemos aproximadamente 15 deputados.
Diário – Depois de uma experiência internacional como essa, uma missão oficial da Câmara dos Deputados, o senhor volta com que tipo de ânimo já que é tão ligado às questões trabalhistas e encontra na volta as manifestações nas ruas?
Bala – É um dos pontos foi o diálogo social. Eu acho que esse momento que o Brasil vive exige muito diálogo social, nessa parte do emprego e da geração de emprego, mas na parte também das demandas sociais. Nós estamos vendo um grande movimento no Brasil com a população toda se mobilizando e o Congresso tem que se mobilizar e agora pressionado tem que agir muito rápido para dar respostas a muitas questões que ficaram paradas durante tantos anos. Não só o Congresso, mas a própria Presidência da República, então eu acho que nesse momento o diálogo social é fundamental para a gente tirar o Brasil dessa crise e através dele negociar soluções que sejam boas para o país e para a população.
Diário – Pois é, a sua volta para o país coincidiu exatamente com o início das manifestações nas ruas, quando o senhor encontrou em Brasília os primeiros protestos. Qual o sentimento que passa numa hora dessas, dá medo?
Bala – É, o sentimento em primeiro lugar é de apoio é de satisfação por ver o povo na rua clamando e brigando pelos seus direitos, mas por outro lado fica sim aquela reserva, aquele temor de que se perca o controle da situação e aí nós podemos estar diante eventualmente de um golpe de Estado ou de uma situação que pode aparecer um salvador da pátria, um oportunista e tomar para si o discurso das ruas e se eleger presidente da República sem ter de fato uma história de luta, sem ter os compromissos que as ruas hoje exigem, então eu acho que nós estamos hoje diante desses possíveis cenários e o melhor para todos nós é que a maturidade e essa energia toda das ruas sejam de fato interpretadas como a necessidade, a carência que a população está tendo de respostas rápidas. E o Congresso tem que responder, a Presidência tem que responder rapidamente, as prefeituras, os governos estaduais para que a população se sinta de alguma forma contemplada nas suas reivindicações.
Diário – O que era para ser pontual nessas manifestações era a questão das tarifas do transporte coletivo, mas acabou na verdade virando um leque de reivindicações, de demandas reprimidas da sociedade, então o senhor acredita que só essa movimentação do Governo Federal e de suas lideranças no Congresso na tentativa de acelerar as reformas políticas pode acalmar os ânimos nas ruas?
Bala – É como você disse, é uma revolta multifocal, não é? Um ponto era a PEC 37, que nós já derrubamos, votamos contra lá. É uma questão que as pessoas dizem que o Congresso só votou rápido e rejeitou a PEC 37 porque o povo foi para as ruas. E é verdade, se o povo não estivesse nas ruas a PEC 37 poderia ter prosperado e quem sabe até poderia ter sido aprovada. Eu já tinha até declarado a minha posição contrária à PEC 37, agora eu acho importante existir um diálogo entre Polícia e Ministério Público para a gente aprimorar as ações conjuntas, digamos assim, que são necessárias do Ministério Público com a Polícia. Depois outro ponto importante das reivindicações é a questão da educação, que nós sempre defendemos 10% do PIB brasileiro, uma demanda também dos movimentos dos estudantes e dos educadores também no país, para a gente alcançar 10% do PIB brasileiro. Da maneira como nós votamos o projeto lá, 75% para a educação e 25% para a saúde, mas abrangendo todos os royalties a partir de 3 de dezembro de 2012 é claro que isso não vai ser de um dia para o outro, mas ao longo desta década, até o final dela, a expectativa é que a gente esteja então com os 10% do PIB. Hoje nós estamos com apenas 5% aproximadamente do PIB aplicado na educação. Da mesma maneira na saúde, vão crescer muitos os recursos para a saúde ao longo dessa década, mas só que o povo quer respostas imediatas.
Diário – Para terminar, já que o senhor louvou a participação do povo nas ruas, dizer o que sobre as esperanças de dias melhores para o país?
Bala – O mais importante é que o povo está nas ruas e não vai sair das ruas facilmente. As mobilizações devem continuar, mas eu acho que nós devemos ter muito cuidado com os aproveitadores que estão aí tirando proveito da boa-fé da grande maioria dos que estão nas passeatas e nas manifestações para fazer vandalismo. Eu acho que isso daí a gente tem que condenar, não há necessidade. Os estudantes brasileiros junto com vários outros setores derrubaram um presidente da República sem precisar de vandalismo. As Diretas Já foram outra manifestação assim de cidadania muito forte onde tivemos grandes mobilizações e grandes manifestações pelo Brasil afora sem vandalismo, então agora também a gente quer dizer não ao vandalismo, seja bem vida a manifestação.
Perfil
Entrevistado. Sebastião Bala Ferreira da Rocha (Gurupá, 21 de janeiro de 1958) é médico ginecologista, apelidado de "Bala" desde a infância, incorporou em 2004 o apelido ao próprio nome. Iniciou sua carreira política em 1990 quando elegeu-se deputado estadual do Amapá pelo PSDB. Filia-se ao PDT em 1993, onde se encontra até o momento. No ano seguinte, elege-se senador da república. Tenta reeleger-se ao Senado em 2002 mas obtém apenas o 4º lugar. Em 2004 nova decepção nas urnas quando termina em 3º lugar na disputa pela prefeitura de Macapá. No pleito de 2006 é eleito deputado federal. Pleiteia a prefeitura de Santana em 2008, mas retira a candidatura. Em 2010 foi reeleito Deputado Federal com 12.739 votos.
Bala Rocha – É. Lá em Genebra de fato o tempo estava bom, digamos assim. Mas o bom mesmo foi o resultado da conferência.
Diário – É uma conferência muito tradicional, com várias edições anuais, não é mesmo?
Bala – Exato. Acredito que essa era a 102ª edição da Conferência da Organização Internacional do Trabalho que trata sobre temas muito importantes para os trabalhadores do mundo todo.
Diário – E por que Genebra, a sede fica lá?
Bala – É a sede fica em Genebra, na Suíça, EUA é tido como um país neutro nessas questões. É um país onde existem muitas convenções que são assinadas, inclusive nós temos uma aqui com o Amapá, que foi o Laudo Suíço que foi assinado em 1900 com a mediação do Barão do Rio Branco sobre os limites das terras entre Brasil e França, ou seja, entre o Amapá e a Guiana Francesa.
Diário – Por acaso o senhor não visitou o local onde está o tombamento deste registro?
Bala – Não, não fui porque só fiquei cinco dias em Genebra, e nós nos concentramos mesmo nos debates. Neste ano, o principal tema foi a erradicação do trabalho infantil. No ano passado nós tratamos muito do trabalho escravo e da questão do trabalhador doméstico. Este ano nós também falamos muito sobre a questão do diálogo social e emprego verde. Eu acho que há um incentivo de que a indústria e as empresas em geral possam buscar meios de criar empregos mais adequados do ponto de vista ambiental.
Diário – Bem, uma troca de experiências como essa dá que tipo de contribuição para um mandato como o do senhor para a atuação junto às comissões da Câmara?
Bala – Exato, nós tivemos, por exemplo, a presença do ministro do Trabalho também, o ministro Manoel Dias que é do PDT também. Quando se retorna de uma conferência como essa nós procuramos focar também o nosso trabalho em temas contemporâneos daqui do Brasil e em assuntos relacionados com esses temas que nós tratamos lá. O trabalho infantil ainda é um problema sério no Brasil e nós vamos cada vez mais nos empenhar para que a criança esteja na escola, isso é o que é importante. A gente sabe que tem aquelas famílias muito carentes que as crianças vão para o trabalho muito cedo, mas isso não é do adequado. O adequado é que o governo tenha condições de manter essas famílias com alguma renda para que as crianças possam estar na escola.
Diário – Da Câmara foi só o senhor como parlamentar?
Bala – Do Amapá só eu, mas tivemos aproximadamente 15 deputados.
Diário – Depois de uma experiência internacional como essa, uma missão oficial da Câmara dos Deputados, o senhor volta com que tipo de ânimo já que é tão ligado às questões trabalhistas e encontra na volta as manifestações nas ruas?
Bala – É um dos pontos foi o diálogo social. Eu acho que esse momento que o Brasil vive exige muito diálogo social, nessa parte do emprego e da geração de emprego, mas na parte também das demandas sociais. Nós estamos vendo um grande movimento no Brasil com a população toda se mobilizando e o Congresso tem que se mobilizar e agora pressionado tem que agir muito rápido para dar respostas a muitas questões que ficaram paradas durante tantos anos. Não só o Congresso, mas a própria Presidência da República, então eu acho que nesse momento o diálogo social é fundamental para a gente tirar o Brasil dessa crise e através dele negociar soluções que sejam boas para o país e para a população.
Diário – Pois é, a sua volta para o país coincidiu exatamente com o início das manifestações nas ruas, quando o senhor encontrou em Brasília os primeiros protestos. Qual o sentimento que passa numa hora dessas, dá medo?
Bala – É, o sentimento em primeiro lugar é de apoio é de satisfação por ver o povo na rua clamando e brigando pelos seus direitos, mas por outro lado fica sim aquela reserva, aquele temor de que se perca o controle da situação e aí nós podemos estar diante eventualmente de um golpe de Estado ou de uma situação que pode aparecer um salvador da pátria, um oportunista e tomar para si o discurso das ruas e se eleger presidente da República sem ter de fato uma história de luta, sem ter os compromissos que as ruas hoje exigem, então eu acho que nós estamos hoje diante desses possíveis cenários e o melhor para todos nós é que a maturidade e essa energia toda das ruas sejam de fato interpretadas como a necessidade, a carência que a população está tendo de respostas rápidas. E o Congresso tem que responder, a Presidência tem que responder rapidamente, as prefeituras, os governos estaduais para que a população se sinta de alguma forma contemplada nas suas reivindicações.
Diário – O que era para ser pontual nessas manifestações era a questão das tarifas do transporte coletivo, mas acabou na verdade virando um leque de reivindicações, de demandas reprimidas da sociedade, então o senhor acredita que só essa movimentação do Governo Federal e de suas lideranças no Congresso na tentativa de acelerar as reformas políticas pode acalmar os ânimos nas ruas?
Bala – É como você disse, é uma revolta multifocal, não é? Um ponto era a PEC 37, que nós já derrubamos, votamos contra lá. É uma questão que as pessoas dizem que o Congresso só votou rápido e rejeitou a PEC 37 porque o povo foi para as ruas. E é verdade, se o povo não estivesse nas ruas a PEC 37 poderia ter prosperado e quem sabe até poderia ter sido aprovada. Eu já tinha até declarado a minha posição contrária à PEC 37, agora eu acho importante existir um diálogo entre Polícia e Ministério Público para a gente aprimorar as ações conjuntas, digamos assim, que são necessárias do Ministério Público com a Polícia. Depois outro ponto importante das reivindicações é a questão da educação, que nós sempre defendemos 10% do PIB brasileiro, uma demanda também dos movimentos dos estudantes e dos educadores também no país, para a gente alcançar 10% do PIB brasileiro. Da maneira como nós votamos o projeto lá, 75% para a educação e 25% para a saúde, mas abrangendo todos os royalties a partir de 3 de dezembro de 2012 é claro que isso não vai ser de um dia para o outro, mas ao longo desta década, até o final dela, a expectativa é que a gente esteja então com os 10% do PIB. Hoje nós estamos com apenas 5% aproximadamente do PIB aplicado na educação. Da mesma maneira na saúde, vão crescer muitos os recursos para a saúde ao longo dessa década, mas só que o povo quer respostas imediatas.
Diário – Para terminar, já que o senhor louvou a participação do povo nas ruas, dizer o que sobre as esperanças de dias melhores para o país?
Bala – O mais importante é que o povo está nas ruas e não vai sair das ruas facilmente. As mobilizações devem continuar, mas eu acho que nós devemos ter muito cuidado com os aproveitadores que estão aí tirando proveito da boa-fé da grande maioria dos que estão nas passeatas e nas manifestações para fazer vandalismo. Eu acho que isso daí a gente tem que condenar, não há necessidade. Os estudantes brasileiros junto com vários outros setores derrubaram um presidente da República sem precisar de vandalismo. As Diretas Já foram outra manifestação assim de cidadania muito forte onde tivemos grandes mobilizações e grandes manifestações pelo Brasil afora sem vandalismo, então agora também a gente quer dizer não ao vandalismo, seja bem vida a manifestação.
Perfil
Entrevistado. Sebastião Bala Ferreira da Rocha (Gurupá, 21 de janeiro de 1958) é médico ginecologista, apelidado de "Bala" desde a infância, incorporou em 2004 o apelido ao próprio nome. Iniciou sua carreira política em 1990 quando elegeu-se deputado estadual do Amapá pelo PSDB. Filia-se ao PDT em 1993, onde se encontra até o momento. No ano seguinte, elege-se senador da república. Tenta reeleger-se ao Senado em 2002 mas obtém apenas o 4º lugar. Em 2004 nova decepção nas urnas quando termina em 3º lugar na disputa pela prefeitura de Macapá. No pleito de 2006 é eleito deputado federal. Pleiteia a prefeitura de Santana em 2008, mas retira a candidatura. Em 2010 foi reeleito Deputado Federal com 12.739 votos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Contribua conosco!