sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

“As mudanças vêm em médio prazo, e em 2014 a população vai sentir o impacto”

CAMILO CAPIBERIBE. Governador faz balanço da gestão e diz estar reagindo na aceitação popular de seu governo.
Ele esteve no olho do furacão, por assim dizer, depois que o resultado de uma pesquisa do Ibope e da CNI demonstrou índices preocupantes de desaprovação de sua gestão. Mesmo assim o governador Camilo Capiberibe (PSB) decidiu falar sobre o tema, com resignação e até coragem. Para ele, todos os governantes foram atingidos pelo movimento ‘Vem pra Rua’, e que sua situação era pior em virtude de como encontrou os cofres públicos do Amapá. Falando ao Diário do Amapá, ele disse que já existem indicativos de que seu governo está reagindo e que a partir do próximo ano a população vai perceber as mudanças que ele se propôs a conduzir quando decidiu se candidatar ao governo do estado.

Cleber Barbosa
Da redação

Diário do Amapá – Qual o balanço que o senhor faz de sua relação com Brasília e do que foi possível conseguir em termos de recursos federais para o Amapá?
Camilo Capiberibe – Olha, 2013 desse ponto de vista foi um ano excepcional. Só para citar um exemplo, o lançamento das obras do Hospital de Clínicas Alberto Lima foi viabilizado com recursos de uma emenda parlamentar que tinha sido colocada no orçamento em 2007 e que infelizmente por falta de capacidade de gestão esse recurso não estava sendo aplicado, então nós fizemos o projeto, licitamos a obra e lançamos a duplicação do maior e mais importante hospital que o Amapá tem. São R$ 13 milhões em recursos federais. Conseguimos também a implantação da radioterapia com quase R$ 4 milhões de recursos federais também para implantar no HCal. Estamos em vias de assinar mais 5 mil moradias dentro do programa Minha Casa Minha Vida, com o Conjunto Miracema e vamos entregar agora no início de 2014 mais 4.366 moradias, do Macapaba, ou seja, o Amapá nunca conseguiu buscar tanto recurso federal como busca no meu governo. E para 2014 a tendência é só melhorar.

Diário – E vieram recursos para a pavimentação da BR-156?
Camilo – Nós assinamos agora o termo de delegação do Trecho Sul da BR-156 que estarão sendo depositados R$ 54 milhões para a gente começar a obra.

Diário – O seu partido formava na base de sustentação do governo Dilma no Congresso, mas recentemente acabou deixando por lançar uma liderança do PSB como pré-candidato a Presidente da República. Mudou alguma coisa no relacionamento institucional com o governo federal?
Camilo – Não percebo nenhum tipo de mudança até agora do ponto de vista da gestão administrativa. Está exatamente da mesma maneira como era anteriormente. Eu acho que isso só muda ali a partir do mês de julho porque o PSB vai ter uma candidatura a presidente. A presidenta Dilma legitimamente disputa a reeleição e isso certamente no momento da eleição vai trazer algum tipo de estremecimento, mas isso é normal na democracia. Mas do ponto de vista da gestão isso não vai interferir em nada porque todo o recurso que a gente precisava já conseguimos e já vai estar tudo licitado. Acabou a eleição, os palanques já vão estar desarmados.

Diário – Por falar em desarmar palanques, 2013 foi marcado por uma reaproximação do senhor com o Psol do senador Randolfe e do prefeito Clécio. Qual a avaliação que o senhor faz sobre o que foi possível avançar na ajuda à capital?
Camilo – Para começo de conversa eu votei no prefeito Clécio. Demos um apoio que imagino ter sido decisivo no segundo turno da eleição dele. Isso eu fiz por ter um compromisso com a nossa cidade de Macapá e por compreender que seria vergonhoso para nós termos a continuidade daquele projeto. O recurso não viria e eu também tinha dificuldade de trabalhar com o prefeito anterior porque ele fazia um palanque político dessa relação governo e prefeitura e isso é muito ruim.

Diário – Com Clécio é diferente?
Camilo – O prefeito Clécio tem uma visão mais autônoma com relação ao governo municipal, ele puxa a responsabilidade para ele e ele assume. No início do ano nós tivemos algumas rusgas porque tinha uma questão de tapa-buraco, que tinha que fazer. Eu logo em seguida assumi um compromisso bastante decidido e disse claramente que iria fazer 20 quilômetros de asfalto quando o verão chegasse e estou fazendo, estou concluindo agora no mês de janeiro, aliviando a vida do prefeito. Ajudei na pavimentação do conjunto Mestre Oscar e coloquei à disposição dele R$ 6 milhões para a reforma das Unidades Básicas de Saúde 24 horas para que elas possam ter mais condições de infraestrutura para atender a população, porque sem a saúde municipal funcionar eu termino pagando um preço muito alto no Pronto Socorro, no PAI e no Hospital da Mulher. Estou com os recursos disponíveis e aguardo apenas que o prefeito apresente os projetos.

Diário – Na chamada parceria, é isso?
Camilo – Veja, eu acredito na parceria e vou continuar trabalhando. Do ponto de vista da pavimentação nós vamos avançar muito mais e temos vários caminhos para avançar conjuntamente. Eu acredito que o prefeito também. Veja no Passe Social Estudantil, o governo do estado é que paga a maior parte, pagamos 70%, mas a prefeitura entra com 30%, e 10 mil estudantes vão ser beneficiados.

Diário – Na posse de alguns deputados como seus secretários de governo o senhor disse que eles estariam vindo para melhorar a capacidade do Governo se articular politicamente. Foi uma espécie de ‘mea culpa’ e deu resultado?
Camilo – Ah, sem dúvida. No relacionamento com a Assembleia Legislativa, por exemplo, a mudança foi da água para o vinho. Eu aprovei todos os meus projetos, inclusive projetos fundamentais para o momento que o Amapá está vivendo. Todo o processo de federalização da CEA e todos os investimentos do BNDES, de R$ 1,4 bilhão vieram em decorrência dessa guinada mais política do Governo. Por outro lado o Governo do estado ganhou muito com isso, pois tivemos, por exemplo, o deputado Bruno Mineiro que é político e é técnico e que está fazendo um excelente trabalho na Setrap, assim com a deputada Cristina Almeida no setor produtivo e o deputado Agnaldo Balieiro que tem uma sensibilidade política muito grande também. E agora tem a vereadora Neuzinha também.

Diário – No campo da cooperação internacional, especialmente com a Guiana Francesa, a gente sabe que a competência é da União, mas o Amapá também se mexeu e até defendeu a aprovação do acordo para o campo ambiental, o que estaria impedindo a liberação da ponte binacional. Agora vai?
Camilo – Na verdade foi um gesto. Essa é uma relação complexa entre um país da América Latina com um país Europeu. É o único caso que existe em todo o nosso Continente. Só o Brasil, só o Amapá faz fronteira com a França e a União Europeia. A aprovação do acordo de combate ao garimpo ilegal foi um gesto que o Brasil fez em relação a uma demanda que era muito forte do lado francês e que ficou aí engavetada durante muitos anos. Eu percebi que para nós avançarmos em concessões do lado de lá também teríamos que fazer do lado daqui.

Diário – Os seus críticos dizem que o senhor administra olhando pelo retrovisor. Por que é tão difícil deixar de observar os erros de seus antecessores e tocar a gestão?
Camilo – É só você olhar, por exemplo, o problema da CEA. Eu era deputado e cobrava uma solução. Em 2006 foi assinado um compromisso, um pacto do Amapá, pelos Poderes. Naquela época custaria para o Estado em torno de R$ 200 milhões e isso não foi feito. Hoje custa, não para o governador, mas para o povo R$ 1,4 bilhão. Então esse tipo de irresponsabilidade não pode ser esquecido. Assim como não se pode esquecer que os recursos que deveriam ter sido investidos em educação foram roubados, o que trouxe um prejuízo para nossa educação gigantesco. Outro exemplo são as consignações dos servidores públicos, R$ 74 milhões foram descontados da folha e deveriam ter sido repassados aos bancos e para os planos de saúde, que deixaram de atender as pessoas. Isso não é uma questão de olhar para o retrovisor, é mostrar que a dificuldade do presente é consequência da falta de responsabilidade no passado.

Diário – O senhor falou recentemente sobre o resultado da pesquisa do Ibope que rendeu índices de desaprovação de seu governo. O que está sendo feito a partir desses indicativos?
Camilo – Evidente que os números foram divulgados e estão aí. Mas nós temos também pesquisas internas que apontam para um processo de recuperação. A partir de junho, com aquele movimento do ‘vem pra rua’ todo mundo foi atingido duramente. Se você olhar a pesquisa do Ibope só três governadores são aprovados acima de 50% da população. Todos os governadores estão numa situação difícil. É claro que a minha situação em comparação com a dos outros ela é um pouco mais difícil, eu reconheço. Mas minha situação já esteve pior. Nós estamos num momento de avanço. Eu peguei um estado numa situação pré-falimentar e não tinha recursos para pagar suas contas. Tinha uma empresa falida que era a CEA, não executava recursos federais, tudo isso me impôs a tomar medidas difíceis, duras, que a população não espera ver o governador tomando. As mudanças vêm em médio prazo e em 2014 a população vai sentir o impacto.

Perfil

Entrevistado. Carlos Camilo Góes Capiberibe nasceu em Santiago do Chile, no dia 23 de maio de 1972. Filho dos também políticos João Capiberibe e Janete Capiberibe, nasceu fora do Brasil em virtude do exílio político dos pais. É Bacharel em Direito pela PUC de Campinas (SP) é casado com Claudia Camargo Capiberibe, com quem tem dois filhos. Filiado ao PSB, elege-se deputado estadual no Amapá em 2006, tendo sido considerado muito atuante e uma voz forte na oposição. Em 2008 foi candidato a prefeito de Macapá, mas foi derrotado por Roberto Góes no segundo turno. Em 2010 foi eleito governador do Amapá, vencendo a disputa em todos os municípios do Estado. É ainda considerado o mais jovem governador do Brasil.

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