terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sarney tem qualidades difíceis de alcançar num político, diz Requião


Em meio ao bombardeio de denúncias contra o presidente do Senado Federal, vez por outra surge algum político de coragem para dizer algumas verdades sobre a conduta dos senadores que vão muito além do que é dito em discursos ou entrevistas pautadas pelos holofotes da mídia, algo muito parecido com o que tem dito em sua defesa o presidente do Senado Federal, o ex-presidente da República José Sarney (PMDB/AP), que diz ser esta uma crise do Senado e não dele pessoal. Na última sexta-feira, o governador do Paraná e ex-senador Roberto Requião (PMDB-PR) foi sabatinado por mais de uma hora pelo jornalista e ex-promotor público Carlos Chagas, no programa Falandro Francamente. Na entrevista, que o Diário do Amapá teve acesso, foi possível compilar trechos em que Requião fala de Sarney, sem atacar ninguém, mas sugerindo uma profunda reflexão sobre as acusações feitas ao senador pelo Amapá. Acompanhe os principais trechos, degravados pela Secretaria de Comunicação Social do Senado Federal.

Pergunta - Na longa entrevista concedida pelo governador do Paraná ao jornalista Carlos Chagas, falaram que tudo, com o experiente jornalista intercalando questões regionais com temas factuais da política nacional. Falavam sobre os lucros dos bancos e Requião respondeu assim:
Robeto Requião - Enquanto hoje o Congresso discute se o Sarney poderia ou não ter arranjado um emprego de dois mil e setecentos reais para o namorado da neta, eu acho que o Congresso deveria estar discutindo os lucros dos bancos.
Pergunta - Discutiam especificamente a respeito dos lucros do Banco Itaú e Banco do Brasil:
Requião - Aí, nós vamos chegar à conclusão de que ao invés de investigar o namorado da neta do Sarney, nós tempos que fazer uma CPI sobre os lucros desses bancos.
Pergunta - Um dos fatos mais relevantes do jogo da sucessão presidencial foi a saída da ex-ministra Marina Silva do PT para o PV, na condição de provável candidata a presidente da República.
Requião - Eu vejo o Sarney, hoje, corrigindo os erros acumulados ao longo de décadas no Senado da República. Alguns erros dele: Aquele negócio, emprega a sobrinha; mas, você sabe que isto é uma coisa muito comum na administração pública. O PT participa do Senado da República, o Senado tem 81 senadores, porque vamos dizer agora que o Sarney era o culpado da lambança? Todos são lambões. Alguns por omissão, outros por falta de informação. Alguns por não se incomodarem com nada, só com a tribuna. Mas isso eu acre-dito que está se corrigindo. Pergunta - Não é de hoje que se critica o Congresso Nacional, mas nos últimos tempo o alvo preferencial foi o Senado e seu presidente, numa onda de denúncias veiculadas na imprensa:
Requião - O Sarney agora é o alvo principal de tudo. O Sarney é um político brasileiro com defeitos; grandes, hein? Mas, o Sarney foi o pre-sidente da República que reatou as relações com Cuba. Foi o presidente que convocou a constituinte. O Sarney tem qualidades muito difíceis de alcançar num político brasileiro. Fez a transição entre a ditadura e a democracia, não cedeu ao capital estrangeiro, enfrentou o EUA com a moratória, num momento que o país precisava disso, não vendeu uma empresa pública e tem alguns defeitos que são os defeitos dos políticos que se elegem no meio em que ele se elegeu. Pergunta - Os problemas de Sarney, são deles ou do Congresso nacional?
Requião - Ele é um Senador do Maranhão, hoje do Amapá. Tem alguns problemas que não são bonitos, que não são éticos do ponto de vista da suas aulas lá na UnB, mas que são a dura e crua realidade da política brasileira. Você podia perguntar: Requião, como você se expõe dessa forma, tentando justificar algumas atitudes? Não justifico, eu simplesmente entendo.
Pergunta - Se o Senhor não está contra a opinião pública, estará, pelo menos, contra a opinião publicada?
Requião - Isso sem a menor sombra de dúvidas. Pergunta - Ainda na discussão sobre as denúncias veiculadas na imprensa, como poderia ser definida pelo governador?Requião - Esse fuzilamento ao Sarney, essa crucificação, não tem o menor cabimento. Defeitos? Claro que tem. Outro dia a TV educativa chamou alguns jornalistas para falar sobre oportunismo moralista e, nesta ocasião, o caso do Sarney, também. E um jornalista muito meu amigo mandou dizer: Ah, eu tenho críticas a fa-zer ao Sarney, como é que fica? Eu disse, olhe, a televisão está aberta, traga suas críticas, elas vão ser muito boas, eu acho que inclusive até para o Sarney. Pergunta - A liberdade de imprensa e o direito universal do acesso à informação?
Requião - Tem que haver a crítica, mas não há dúvida alguma; o Sarney não é o responsá-vel pelos absurdos do Congresso Nacional, e o que você encontra no Senado, você encontra na Câmara, já percebeu que não estão mexendo na Câmara? O que você encontra no Senado, você encontra em cada Assembléia Legislativa ou Câmara de Vereadores do Brasil. Pergunta - Recentemente o senhor esteve com o presidente Lula e com a ministra Dilma. O que ficou do episódio Lina?
Requião - Inocência absoluta do Sarney não existe, ele tolerou uma série de coisas, mas sem as quais ele não seria Senador. Ruim isso. Tem que mudar, mas a responsabilidade é dos 81 Senadores.
Pergunta - De tanto falar em composição, surge a discusão sobre uma possível candidatura de Requião no Senado?
Requião - Vamos lá ao Sarney. Contratou o namoradinho da neta; que tragédia, manchete da Globo. As televisões todas batendo, os jornais na primeira página. Você se lembra do Fernando? Nomeou o genro para Zilberstein, para presidente da Petrobrás para desnacionalizá-la, para entregar o petróleo brasileiro. Começou a tarefa mudando o nome da Petrobrás, para Petrobráx. O Fernando Henrique tinha sua filha Adriana como chefe de gabinete. Agora, o menini-nho do Sarney, é crime (?). O que eu acho que cabe como crítica: acho que não tinha importância nenhuma que nomeasse num cargo comissionado o namorado da neta. Desde que o Senado precisasse duma pessoa com seu perfil profissional e ele sintonizasse com a orientação que ele estava dando à instituição. Mas se isso não acontece, se ele é apenas um favor à neta, nós temos aí uma crítica. Mas é o que o Sarney disse, "minha neta, eu sou avô", e aí fica difícil resistir. Se houvesse mais transparência, se tudo fosse para a internet, não fazia nomeação.
Pergunta - Requião falava sobre um projeto de lei que editou quando Senador. Esse projeto permitia a nomeação de parentes desde que atendidas as qualificações profissionais exigidas:
Requião - Querem demonizar o negócio. Quer dizer, o genro do Fernando Henrique para vender a Petrobrás não teve uma crítica nesse país. A netinha do Sarney pede para o vovô nomear o namorado num cargo de R$ 2.700, cai o mundo. Não estou concordando com a nomeação nem nada, veja você, mas se houvesse uma adequação nesse sentido não haveria esse deslize.
Pergunta - Requião contava a estória de uma funcionária com problemas de saúde até que de novo fez referência ao caso da neta do senador do Amapá?
Requião - Eu estou lá preocupado com o que a Globo acha ou não do neto do Sarney? Se é equivocado que se corrija. Mas não é motivo pra tentar transformar um homem com a biografia do Sarney num bandido, num trombadinha. E pelas mãos de quem? Dos Mesquita do Estadão? Que me agrediram durante 8 anos no Senado sem me dar direito de resposta?
Pergunta - Após um extenso comentário de crítica ao jornal O Estadão, Requião fala do papel desempenhado por Sarney na garantia da go-vernabilidade do país, na gestão de Lula?
Requião - Se o Sarney não estivesse com o Lula nesse momento, não teriam se incomodado com ele, querem transformá-lo num bandido. O que eles querem mesmo é o impeachment do Lula, derruba o Sarney, toma conta do Senado. Tentaram isso já, você lembra, no começo do Governo. E daí veio o tal acordo de governabilidade que colocou Meirelles a frente do Banco Central e tudo mais.

Um comentário:

  1. Concordo com o Governador, não podemos apagar toda uma trajetória política como a do Presidente Sarney, precisamos reconhecer q o cenário político q vivemos hj, é resultado de um caminho passado vivido e construído por ele.

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