segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Antônio Feijão: “Temos petróleo. Só não é hora de perfurar”

FEIJÃO – Um olhar de cautela sobre as possibilidades minerais do Amapá, apesar dos otimistas
O ex-deputado federal Antônio Feijão, um conceituado geólogo em atuação há mais de vinte anos no Amapá, acaba de assumir a Superintendência do DNPM no Amapá. O órgão maior do setor mineral no Estado vive uma ebulição desde que o presidente do órgão fez uma visita ao Estado e disse que aqui se tinha a província mineral do futuro. Todo esse otimismo é ratificado por Feijão, mas teme que uma corrida pelo petróleo agora possa pegar o Amapá sem a infraestrutura necessária para atender essa demanda, daí ser de opinião de que primeiro é preciso resolver os problemas internos para depois se apostar no incremento dessa atividade. Esse e outros temas importantes foram tratados em uma entrevista concedida ao programa Conexão Brasília de ontem, pela Diário FM, cujos principais trecho o Diário do Amapá publica a seguir.


CLEBER BARBOSA
DA REDAÇÃO


Diário do Amapá - Na visita que fez ao Amapá recentemente o presidente do DNPM disse que as jazidas do Pará e de Minas Gerais apesar de consolidadas são uma página sendo virada e que o Amapá é a província mineral do futuro. Ele tem motivos para estar tão otimista assim?
Antônio Feijão - É, o Brasil teve um grande pique de descobertas de jazidas minerais que foi de 1999 a 2009 e o Amapá saiu desse sarcófago de estar sempre atrelado à Cadam e à Icomi. Foi exatamente a Anglo (American) com sua marca internacional que trouxe para cá os olhos dos grandes investidores. Nesse momento, lá em Santana, várias empresas do mundo todo estão analisando os documentos da Anglo e fazendo logo logo as suas propostas de compra, pois ela está na fase em que as empresas estão analisando o "data-room", ou seja uma sala onde têm todas as informações da mineradora. Mas independente da Anglo, o Amapá passa por um momento de explosão, imagine se a gente tivesse um mapa geológico de detalhe, é uma explosão de oportunidades de negócios de grandes investimentos no setor mineral. O nosso mapa geológico é balzaquiano.

Diário - Como assim?
Feijão - Ele tem trinta anos. Isso faz com que o investidor fique uma rêmula dos garimpos, como a rêmula segue o tubarão, os investidores seguem os garimpeiros e isso prende muito a pesquisa ao ouro. Com o advento de um trabalho que a CPRM fez há dez anos atrás, de geofísica, com a modernidade, precisão e acuidade dos novos satélites, para ferro, grandes concentrações de tântalo e manganês, já dá para também para ter uma oportunidade pelos levantamentos geoespaciais, então o Amapá hoje é o Estado que mais apresenta novas jazidas, principalmente na área de ferro, onde nós vamos ter quatro novas jazidas comissionadas, duas na região do Cupixi e Serra do Navio e duas onde nós vamos ter brevemente lá na área de Tartarugalzinho.

Diário - O senhor falou que o mapa geológico do Amapá tem trinta anos e com essas modernas tecnologias em termo de prospecção é que fazem essa diferença, esse novo olhar?
Feijão - Uma das sugestões que o doutor Sérgio Dâmazo fez, num encontro de trabalho com o governador e o secretário de Indústria e Comércio, juntamente com a equipe técnica que veio com ele ao Amapá, ele propôs a parceria e o governador de pronto recepcionou, para a gente refazer o mapa geológico. O Amapá vai entrar com seus quadros técnicos, com sua infraestrutura do Iepa, do Imap, da Sema e do Instituto Estadual de Florestas. Já com a CPRM, e seus quase 50 anos de experiência e o DNPM com quase 80 anos de experiência, nós vamos atualizar as informações. Menos de 3% do estado do Amapá tem conhecimento acima de um metro de profundidade, ou seja, menos de 3% do nosso território foram sondados.

Diário - Qual é o padrão internacional dessa referência diretor?
Feijão - Isso na Europa, por exemplo, é uma graça, pois eles já trabalham hoje com mais de 60% do subsolo já conhecido em profundidade. Mas também é uma dádiva para nós, pois significa dizer que o Amapá é um ser mineral ainda aguardando Pedro Alvarez Cabral, portanto nós estamos em 1.500 aguardando as Naus portuguesas do ponto de vista da geologia e da mineração.

Diário - Mas a notícia da venda da Anglo no Amapá, uma das maiores mineradoras do mundo, por si já é uma notícia negativa, então quais as garantias da continuidade do projeto dela no Amapá com seus novos controladores?
Feijão - A venda de uma empresa que tem commodities no mercado internacional, ou seja, a Anglo Ferrous Brazil, que é a nossa Anglo no Amapá, ela está no mercado internacional com suas jazidas, com sua ferrovia e a sua super-conectividade entre mina e porto. E ela tem sócios que compraram ações, então esse processo é muito técnico. Primeiro é feito o anúncio, isso ocorre numa reunião de mercado, é apresentado que vai se abrir a concorrência. Depois vem o que está acontecendo hoje [ontem] quando são colocados num hotel pessoas que vieram do mundo todo para analisar os dados, essa sala de informações, o "data-room", onde as pessoas pagam com contrato de confiabilidade das informações e vão analisar. E tem mais trinta dias, até mais ou menos 20 de novembro, para eles apresentarem suas propostas. O importante é que a próxima empresa que vier para cá, com a assistência do governo, dos Poderes e da sociedade, que a gente seduza essa empresa a implementar siderurgia.

Diário - Porque seduzir, diretor?
Feijão - Porque os navios que podem ainda hoje sair de Macapá são navios de 50 mil toneladas e eles levam minério com 50% de ferro contido, a cada dois navios que saem de Macapá eles levam na realidade um navio de ferro. Se tiver siderurgia ao invés de levar 50 mil toneladas de minério leva 50 mil toneladas de ferro e não vai as impurezas que o minério conduz.

Diário - E o porquê da saída da Anglo American do Amapá?
Feijão - Porque ela tem o Sistema Minas-Rio comissionando, ou seja, entrando em funcionamento em 2013, uma empresa dela que vai produzir 40 milhões de toneladas por ano, ou seja, a cada dois meses a Minas-Rio equivale ao Amapá, e dá o mesmo trabalho para a Anglo Amapá.

Diário - Talvez até mais que isso, pois aqui se tiver um ano bom a produção pode chegar a 7 milhões de toneladas, não é?
Feijão - Nunca fizeram isso. Com os terceirizados chegaram a 6,2 milhões de toneladas. Mas nós não pudemos condenar a Anglo por estar saindo daqui, o que nós temos que exigir dela é que saia daqui com a sua certidão de responsabilidade socioambiental em dia. Nós não podemos mais aceitar uma Novo Astro, assim como o lamentável episódio da Icomi, com toda uma certidão de meio século de bons serviços socioambientais ao estado, mas que saiu pela cozinha e não disse nem boa noite ao estado do Amapá.

Diário - E sobre petróleo diretor, sabe-se que a Guiana Francesa tem reservas desse óleo, muito próxima à Costa do Amapá, que está também recebendo prospecções, mesmo com a sociedade nem sabendo o que os helicópteros fazem diariamente cortando nosso céu. O que o DNPM tem oficialmente sobre essa possibilidade?
Feijão - Eu fui convidado pela Federação das Indústria, na época era presidente a deputada Telma Gurgel, que patrocinou uma conferência no "Cayenne Mini Simposium", que foi um encontro internacional só sobre minérios. Fui apresentar uma palestra sobre a mineração transfronteiriça e o seu ordenamento sócio-legal e ambiental. Lá, o BRGM, que é equivalente a CPRM do Brasil, se concentrou em coisas fundamentais, a questão do petróleo, pois há um estudo que diz onde ele se instala se instala a maldição, porque as pessoas não fazem outras economias. Se você for hoje à Venezuela ninguém planta nem banana porque o petróleo escraviza as pessoas num mundo de economia pública e as pessoas passam a viver dos seus impostos e dos seus agregados derivados dos impostos, que são os empregos e outras coisas mais.

Diário - E lá tem mesmo petróleo?
Feijão - Sim em Caiena foi mesmo comprovada uma bela jazida, um óleo de alta qualidade, eles fizeram vários furos.

Diário - E o Amapá, tem esse óleo valioso?
Feijão - Eu fui na audiência pública promovida pela Petrobrás para se discutir o Poço Oiapoque, que foi feito a pouco mais de 20 quilômetros da Costa do Brasil, na frente da cidade de Oiapoque, ali no Cabo Orange. A audiência pública chegou a ir até a madrugada lá no Ceta Ecotel, num modelo de audiência feita para ninguém ir. Mas levaram um azar e os filhos do Amapá e os especialistas do Amapá todos foram e viram que a Petrobras entrou num desastre de um Ctr+C e Ctr+V, trouxe um relatório todo copiado, onde as rotas das correntes eram diferentes e tudo o mais, quando até pescador fez gozação dos peixes que eles copiaram nos seus relatórios. O Amapá, desde a época do presidente Sarney, sempre teve essa grande perspectiva de ter petróleo e os geólogos têm tanta convicção disso porque há 360 milhões de anos atrás praticamente nós estávamos todos juntos, o Amapá, o Golfo do México, o sul da Inglaterra, que chamado Mar do Norte, enfim, toda essa região formava um grande continente e uma grande bacia, onde se formou o petróleo desses países citados, além da Arábia e da Venezuela.

Diário - Então são projeções?
Feijão - O Brasil é a ponta do pé da província petrolífera da Venezuela. Temos petróleo. Só acho que não é hora de perfurar esse petróleo agora, pois já vamos sair de uma tentação, pois vai ter conexão com Belém, e nós temos que organizar os nossos portos, a nossa estrutura de apoio, tudo que nós temos para que não sejamos hoje apenas o olhar dos helicópteros saindo de Belém direto para as plataformas.

Perfil

O entrevistado Antônio da Justa Feijão tem 56 anos de idade, é natural de Sobral, no Ceará, mas radicou-se no Amapá após consolidar-se como um dos mais conceituados geólogos em atuação no mercado local. Tornou-se popular e foi eleito deputado federal em 1994 (mandato de 1995 a 1999) sendo reeleito em 1998 (mandato de 1999 a 2003); depois mesmo tendo sido o sétimo mais votado em 2008, ficou na condição de suplente, tendo assumindo a titularidade entre 2009 e 2010, em substituição ao deputado Davi Alcolumbre (DE), que virou secretário municipal em Macapá. Também teve passagens como secretário de Estado do Meio Ambiente e diretor-presidente do Imap. Este ano assumiu a Superintendência do DNPM no Amapá.

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