quarta-feira, 29 de junho de 2011

"É preciso deixar a história do quanto pior melhor"



ROBERTO GÓES - Prefeito de Macapá reclama falta de apoio do Governo do Estado











Nem mesmo a rumorosa detenção por quase 60 dias em Brasília tirou o entusiasmo e o otimismo do prefeito de Macapá, Roberto Góes, que está de volta à cena política ao admitir que um dos maiores gargalos de sua administração, os buracos da cidade, carecem de uma reengenharia e para isso pretende acelerar o ritmo dos serviços, mesmo sem o apoio do Governo do Estado, que ele aponta como sendo o maior ausente neste período em que a malha viária sofre intensamente. Aliás, as diferenças com o ex-adversário Camilo Capiberibe (PSB), que hoje governa o Estado do Amapá, foram a tônica na entrevista concedida pelo gestor municipal ao programa Luiz Melo Entrevista, da Rádio Diário FM, na última sexta-feira. Os principais trechos da sabatina a que Roberto Góes submeteu-se, o Diário do Amapá publica a seguir.

"No caso do Shopping Popular o convênio estava próximo de expirar então encaminhei um documento ao governo para a prorrogação mas não houve manifestação do governador"

Diário do Amapá - Como é sua relação com o juiz federal João Bosco, prefeito?
Roberto Góes - Olha, nós temos grandes juízes aqui em Macapá, tanto juízes federais como juízes estaduais, assim como bons desembargadores. Mas no caso do doutor João Bosco, de quem estamos falando, a simplicidade dele em não só buscar a justiça através da sentença, da decisão, mas também tirar a toga e sair até a ponte, a passarela e ir para o embate, de frente com o problema, isso é tudo. Mostra o interesse dele pelo Amapá.

Diário - E isso tem dado resultado, funciona mesmo?
Roberto - Sim, com certeza. No caso do Hospital Metropo-litano, por exemplo, que a gente deve estar lançando já o edital de licitação da obra, uma luta de quase dois anos, mas que já temos R$ 6 milhões em conta para a conclusão da obra e outros R$ 15 milhões para equipar. Isso vai resolver definitivamente a questão dos hospitais aqui da cidade. Esse hospital terá quase 100 leitos para atender a população.

Diário - E quanto ao funcionamento, vai entrar o Governo do Estado para ajudar?
Roberto - Existe essa conversa, de a gente fazer uma parceria entre Governo e Prefeitura para que possam trabalhar juntos, com cada um assumindo a sua responsabilidade constitucional, mas com a gente buscando uma administração compartilhada ou também existe a possibilidade da Prefeitura administrar só.

Diário - Nessa história de parceria entre Governo e Prefeitura, a administração estadual tem entrado onde prefeito?
Roberto - Até agora em nada, não sei no futuro. Para não di-zer que não entrou com nada, nós tivemos várias conversas com o governador e ele entrou com R$ 48 mil em asfalto nesse tempo todo, o que dá 56 toneladas de asfalto. Primeiro liberou 6 toneladas que deu aquela polêmica toda, e o Governo fez até festa com isso, que dá R$ 10 mil; No total foram 56 toneladas.

Diário - E isso dá para fazer o que em termos de asfaltamento?
Roberto - Praticamente nada. A Prefeitura gasta hoje em torno de 50 toneladas de asfalto por semana e infelizmente as nossas ações de tapa-buraco não estão surtindo efeito. Em reunião com nossos técnicos decidimos aumentar a quantidade de equipes nas ruas, aumentar a quantidade de caçambas, fazer uma fiscalização mais intensa nesse pessoal que está trabalhando o tapa-buraco, contratar mais gente e trabalhar de noite também para não atrapalhar o trânsito. A nossa idéia é intensificar o trabalho, pois a população está sofrendo muito.

Diário - Agora também está chovendo muito, não é mesmo, o que não combina com serviço de asfaltamento prefeito?
Roberto - É, está chovendo bastante, desde o final do ano passado a chuva não pára, mesmo já estando no final de junho as chuvas continuam muito fortes, acho que pela mudança climática no Brasil todo, aliás, no mundo todo. Mas outra questão é que estamos trabalhando só, pois em outros anos o Governo fazia também, com a Prefeitura tapando buracos com as equipes que tinha e o Estado também por outro lado, trabalhando da mesma forma. Agora não, infelizmente a Prefeitura tem traba-lhado só desde o começo deste ano.

Diário - Mesmo assim o senhor anuncia mais equipes trabalhando, mais caçambas e o asfalto, vem de onde?
Roberto - Nós estamos comprando, bastante até. Fiz um le-vantamento do quanto nós vamos precisar até o final e passamos a ter um contrato até o final do ano de R$ 7 milhões com a empresa que vai fornecer asfalto, que já está chegando e nós vamos armazenar em Macapá, porque ele vem de Manaus e muitas vezes da região Sudeste, de carretão que causa um transtorno grande, com as condições de armazenamento apropriado. Quando a gente tinha uma relação com o Estado, ele guardava para a gente.

Diário - Mas a usina de asfalto é da própria Prefeitura?
Roberto - Nós temos três usinas de asfalto na Prefeitura. Tivemos que transferir uma para o Distrito Industrial, que estamos inaugurando agora, acredito em trinta dias estará pronta, então hoje estamos funcionando com uma antiga que dá pro-blema. A terceira é menor, produz asfalto a frio e deveremos reativá-la. Já a usina do governo está parada desde janeiro, não está produzindo nada de asfalto.

Diário - Assim como essa nova ação de asfaltamento, que ou-tras ações estão por vir com relação ao trânsito da cidade?
Roberto - Nós vamos lançar na próxima terça-feira um projeto de engenharia de trânsito para mudar alguns binários, com ruas que hoje são de mão dupla e que passarão a ter sentido único, melhorando a circulação e possibilitando alternativas para os corredores do tráfego que também receberão ações de recapeamento. Se o Governo não ajudar poderemos ter problemas, pois a falta de investimentos nesse período prejudicou bastante a situação da malha viária de Macapá que pode inclusive ter alguns trechos perdidos totalmente.

Diário - Essa indiferença que o senhor acusa por parte do Governo do Estado em relação à Prefeitura pode ser atribuída à carência de recursos ou ideologia política?
Roberto - Eu não acredito que seja de carência de recursos. Todo administrador tem problema, a Prefeitura e o Governo não têm suficiente, mas todo dia tem dinheiro. É tipo a administração de uma empresa, quando se administra com que você tem. Então essa história de dizer que não tem... Tem sim, pois o recurso vem, o Estado não está pagando dívidas passadas com fornecedores, o Estado não deu aumento significativo para o servidor, o Estado não tem repassado os convênios com as prefeituras, não digo nem só com Macapá, mas com todas as prefeituras. Basta conversar com outros prefeitos que eles dizem a mesma coisa.

Diário - Não é uma questão meramente política então, no seu entendimento?
Roberto - Vou falar por Macapá. O que nós queremos, e muita vezes sou até questionado por isso, é um tratamento diferenciado para Macapá, a capital de um Estado em que a maior parte da população vive na Capital, uma população essencialmente urbana. Se juntarmos Macapá e Santana temos meio milhão de habitantes. Além disso, 90% do que se arrecada no Amapá, de ICMS, de impostos, é do município de Macapá, da mesma forma, 90% dos empregos gerados no Estado são no município de Macapá. Mas também os maiores problemas ficam no município de Macapá, então efetivamente o Estado vive dentro do município, então que o Governo entre, é preciso e pode deixar aquela história do quanto pior melhor, porque perde a população, não é a Prefeitura que perde, é o Estado que perde porque a população sofre.

Diário - Em que outras áreas o senhor sente a falta de apoio por parte do Estado?
Roberto - Não digo nem apoio, mas para se ter uma idéia, no programa Saúde da Família nós tínhamos 45 equipes no começo do mandato e chegamos a aumentar para 64 equipes técnicas, que realizam um grande trabalho de saúde preventiva, vi-sitando as famílias nos bairros, nas pontes, nas periferias, no centro, para atender da melhor forma possível a população. Mas para tocar o programa existe um acordo com o Governo Federal, com a chamada tripartite, ou seja, União, Estado e município, com todos fazendo investimento nessa área. Infelizmente o Estado do Amapá não faz e a Prefeitura de Macapá acaba assumindo toda a responsabilidade.

Diário - Qual o custo mensal do programa?
Roberto - Uma equipe custa só com pessoal R$ 12,2 mil com o Governo Federal entrando com R$ 6,2 mil e os R$ 6 mil restantes, que deveriam ser divididos entre Governo e Prefeitura. O Estado não passa e o município assume sozinho.

Diário - Para cobrar o repasse do convênio para o Shopping Popular o senhor entrou na Justiça contra o Governo. Nesses ou-tros conflitos pensa em usar a também a mediação judicial?
Roberto - Em todas, estamos trabalhando. Para chegarmos à decisão de entrar na Justiça, não que tenha havido intransigência da nossa parte ou por parte do Governo, mas os convênios têm prazo de validade, então no caso do Shopping Po-pular o convênio estava próximo de expirar, então encaminhei um documento ao governo para a prorrogação, mas não houve manifestação do governador. Mandei expediente para a Secretaria de Planejamento e também não houve manifestação, então para que eu não pecasse por omissão entrei na justiça pedindo o recurso que foi assinado com o Estado e que consta na nossa lei orçamentária, devidamente aprovada pela Câmara Municipal.

Perfil do entrevistado

Antônio Roberto Rodrigues Góes da Silva, tem 45 anos de idade, é casado e pai de quatro filhos. Nasceu na colônia agrícola de Matapi, no município de Porto Grande e tem origem humilde. A produção agrícola da família era comercializada nas feiras de Macapá, para onde todos se mudaram depois. Estudou em escolas públicas e o trabalho desde cedo o fizeram tornar-se bastante conhecido, tanto que foi um dos mais jovens vereadores da Capital, em 1992. Dois anos depois chegou à Assembleia Legislativa, tornando-se um combativo deputado estadual, detentor de quatro mandatos consecutivos. Tornou-se também carnavalesco e dirigente da Liga das Escolas de Samba do Amapá. Apaixonado por esportes, ajudou a manter clubes do amador e do profissional, chegando à Presidência da Federação Amapaense de Futebol. Sua gestão o fez ser convidado a chefiar a delegação da Seleção Brasileira de Futebol em duas edições da Copa América. De tanto crescer como agente público, várias lideranças e partidos políticos o lançaram como candidato a prefeito de Macapá em 2008, sendo o vencedor no segundo turno da disputa daquele ano. Desde o dia seguinte à vitória nas urnas, decidiu percorrer as ruas da cidade para conhecer melhor os problemas e discutir com segmentos da sociedade as melhores alternativas. Esse período foi marcado pelo cumprimento de suas principais propostas de campanha, como a melhoria do trânsito, da limpeza, da organização da cidade e dos investimentos na melhoria da saúde e da educação municipal. Como dissabor, uma ruidosa investigação da Polícia Federal, ainda em curso, que ele tenta responder acelerando o ritmo dos trabalhos.

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