segunda-feira, 24 de junho de 2013

OLHOS NA HISTÓRIA - A exploração do manganês de Serra do Navio (Parte 1)


A exploração do manganês de Serra do Navio tem sua gênese na associação do empresário mineiro Augusto Trajano de Azevedo com a Bethlehem Steel - a segunda maior empresa do aço dos Estados Unidos, que, juntos, formaram a Indústria e Comércio de Minérios (ICOMI), que passou a atuar no Amapá no início dos anos 50.

Oficialmente, a descoberta das jazidas de manganês em Serra do Navio se deu em 1946, após os incentivos à pesquisa e prospecção mineral feitos pelo primeiro governador do Amapá (o capitão Janary Gentil Nunes). Apresentaram-se para a concorrência de exploração desse mineral duas empresas americanas - a United States Steel e a Hanna Coal & Ore Corporation - , e uma pequena empresa brasileira da época: a ICOMI. Surpreendentemente, o governo brasileiro optou por esta última, justificando que era fundamental o desenvolvimento de uma empresa do próprio país para explorar grandes jazidas. Após vencer a concorrência, Azevedo Antunes transformou sua empresa em sociedade anônima, ao vender 49% de suas ações para a Bethlehem Steel tirando proveito de uma cláusula do edital de licitação, que exigia que o controle do empreendimento responsávelpela exploração de manganês fosse de capital nacional. A cláusula teria sido incluída por influência do próprio Azevedo Antunes, conhecido por sua proximidade com o meio político. A parceria com a empresa americana traria aporte de capital e tecnologia para o projeto de exploração do manganês de Serra do Navio.

Veja uma uma reportagem do Jornal do Dia (24/08/1999) em que foi publicado o contrato da exploração das jazidas no Amapá. O material faz parte do acervo da Biblioteca SEMA.

Clik nas imagens para ampliar

 

O governo autorizou a concessão da exploração desse minério por 50 anos, no período que deveria ser entre 1953 e 2003. Naquele momento, a siderurgia americana estava fortemente dependente do manganês explorado nas nações africanas. A extração do manganês da Serra do Navio a partir de 1955 e seu escoamento para os EUA, além de minimizar a depend~encia do minério extraído na África, poderia aumentar o estoque americano em um momento em que a ibdústria bélica necessitava de grande quantidade de aço: "o período da "Guerra Fria". Nesse cenário, aumentar a reserva manganífera passou a ser uma imposição para a geopolítica norte-americana, pois devemos considerar que a antiga URSS possuía grandes estoques desse minério, o que lhe garantia uma relativa autonomia na produção de aço necessário ao seu desenvolvimento iondustrial. Esses fatores elevaram o preço desse minério, fazendo com que a ICOMI deslanchasse, ao contrário de outros empreendimentos de grande porte montados na região amazônica, como o Projeto Jari, do empresário norte-americano Daniel Ludwig (o próprio Azevedo Antunes comprou a Jari em 1982, mas o negócio de papel e celulose continuou no vermelhop nas mãos da CAEMI, que vendeu em 2000). A prosperidade da ICOMI só começou a minguar com o fim da Guerra Fria e o início da exploração de manganês na Serra dos Carajás, no Pará.
Apesar das maiores reservas brasileiras de manganês estarem localizadas no Maciço de Urucum (Mato Grosso do Sul) e na região de carajás (Pará), durante muito tempo a Serra do Navio respondeu pela maior parte da produção desse minério.

A seguir, fotos de trabalhadores da ICOMI nos anos 60. Uma época romântica e de sonhos para várias pessoas, desejosas de trabalhar na companhia. As fotos são do acervo de Rogério Castelo e mostram seu pai (Osvaldo Nascimento dos Santos) com amigos na mina.

Empenho em busca de realizações....
Era comum entre os trabalhadores serem conhecidos apenas por apelidos (Ex.: Cara-de-macaco, Pavão, Jaburu, Cara-suja, Fubica, Menos-Dois, Diabo loiro, Bispo, Canindé, Zé duarte, Sussuarana, Vermelhão, Manelão, Sebinho, Rasto-de-alma, Bombril, Preguiça, Cuamba, Tio Vinte, Rato, Cupim, Mucura, Flexa, Marcha-lenta, Neco, Baixinho, Bifão, Lolito, Deca, Bené, Ceará-Cachorro, Chicão, etc...mais que rapaziada gaiata!!!). Ninguém escapava não, nem a chefia. Era bater o olho e "batizar" o cristão. Meu pai mesmo, quando chegou na Serra e na hora que colocou a cara prá fora do carro já foi carinhosamente recebido pela singela, bonita e mui amiga alcunha de Cara-de-macaco. Criativiadade na hora...e não adiantava reclamar que só fortalecia mais o apelido, já era!!!!
Na foto, os figuras posando de bacana no Cartepila são, da esquerda para a direita: Niquilado, Couro-Curto, Roberto Carlos e Cara-de-macaco.
Ah...essa galera gostava de jogar uma sinuca lá no Manganês Clube...certamente!!!

....ou quem sabe dar uma merendada lá na lanchonete da Dona Didi...depois de "aparar o telhado" na barbearia do Coronel...ou comprar um tecido no Cinturinha ou na loja da Francinete...um sapato na Darica...Ah, tinha o Valente, um armazém com diversas coisas também...
Uma época sem televisão.....em horas de folgar, costume de muitos, ler livros de bolso com tema faroeste e depois trocar por outros, em visitas casuais...lembro disso!!!

Sempre ouvia falar de uma tal "onça que comia" (receio dos trabalhadores), mas que raios era isso?! Falar que a onça comeu fulano e em minha mente se fantasiava um verdadeiro quadro de terror dos mais cruéis possíveis....só depois descobri que era a perda do emprego. Ah eu era muito novo e morei na Serra até os 09 anos.
Para viabilizar a exportação do minério, a ICOMI construiu uma ferrovia (E.F. Amapá) com 193 km de Serra do Navio até o porto de Santana. A empresa também realizou outros investimentos em infra-estrutura, destacando-se a construção de duas "company towns" (Serra do Navio e Vila Amazonas), ampliação da área portuária de Santana, e na Hidrelétrica Coaracy Nunes (Usina do Paredão, construída com "royalties" da exploração do manganês). "Copmpany towns" são núcleos habitacionais construídos com infra-estrutura para abrigar os trabalhadores dos Grandes Projetos na Amazônia. A lavra e comercialização do minério de manganês ocorreu entre 1957 e 1997. A maior parte da produção foi constituída por blocos naturais desse minério, que eram britados, peneirados e classificados granulometricamente até atingir as especificaçãoes exigidas pelos compradores.
Fonte: Texto extraído do livro "Geografia do Amapá", do Prof. Antonio Carlos

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