O projeto de escoar a produção de grãos do Centro-Oeste pelo Porto de Santana é uma sobrevida ao terminal. |
Para a Revista Diário
E m um cenário de crise no país e também fora dele, o Amapá pode ter achado – na verdade foi achado – como rota alternativa para o escoamento da produção de grãos do Mato Grosso, um dos maiores produtores nacionais de milho e soja. O projeto foi apresentado no final de 2014, mas só agora sai da prancheta dos seus idealizadores. Gente como o empresário mato-grossense Marino José Franz, que comanda uma holding do agronegócio chamada Fiagril, que no Amapá controla a Cianport, responsável pela construção de um terminal graneleiro instalado no Porto de Santana.
O projeto consiste em embarcar a produção do Mato Grosso em um modal de transportes que inclui um trecho rodoviário até o distrito de Miritituba, em Itaituba (PA) como o fluvial, sendo transferidas em barcaças que trarão a carga para o Porto de Santana, e de lá para os países consumidores. A principal vantagem para justificar essa logística é mesmo a economia que o frete fluvial proporciona. Os especialistas apontam que o chamado Corredor Norte de Exportação de Grãos significa um custo menor em cerca de US$ 50 (dólares) a US$ 80 por cada tonelada.
CUSTOS
Atualmente essa produção é embarcada pelos portos de Santos (SP) ou de Paranaguá (PR), que são extremamente congestionados, além de mais distantes dos centros produtores. Para se ter uma ideia, a distância entre o Mato Grosso e o Porto de Santos é de 2.300 Km; já a distância para Itaituba é de apenas 1.100 km. Outra grande novidade é que a Fiagril também quer investir na produção local de grãos, tanto que instala por meio do modelo chamado CPR (Célula de Produto Rural) um sistema cooperado para adquirir a produção de fazendas do próprio estado do Amapá.
Como o agronegócio poderá diversificar a economia amapaense
A grande questão é saber o que a chegada do agronegócio pode gerar em termos de legado para futuras gerações de brasileiros que nasceram ou vieram para o Amapá. Para isso, a cronologia deste projeto e a opinião de especialistas. No dia 29 de outubro de 2014, a Cian Port (Companhia Norte de Navegação e Portos) assinou, em Brasília, o contrato de instalação de um Terminal de Uso Privado (TUP) na Ilha de Santana, que é o chamado Retro-Porto. A outorga, que tem duração de 25 anos, foi concedida pela Secretaria Nacional de Portos e pode ser renovada por igual período. Essa unidade, subordinada ao Porto de Santana, estará interligada ao terminal instalado às margens do Rio Tapajós, em Itaituba (PA) e vai beneficiar o escoamento da safra de grãos pelo norte do país, desafogando o trecho norte da BR 163, ainda em fase de duplicação. A Cian Port é formada pela Agrosoja de Sorriso, de propriedade de Cláudio Zancanaro, e a Fiagril, com sede em Lucas do Rio Verde, de Marino Franz.
A segunda vantagem é que com toda a logística que está sendo implantada, com carretas, barcaças e navios graneleiros, numa rota que inicia no Mato Grosso e vai até os países compradores, passando pelo Amapá, é que eles vão poder retornar, pela primeira vez, com insumos para a agricultura.
Para se ter uma ideia, quando uma carreta sai do Mato Grosso e leva três dias para chegar no Porto de Paranaguá (PR) volta vazia, pois não há frete para a rota do caminho inverso. Segundo a Fiagril, quando um navio importa insumos agrícolas como NPK, cimento, minérios para dentro da Amazônia e os seus navios irão retornar com insumos agrícolas esse eixo desse insumo que veio no lastro de navio vai retornar para o estado de Mato Grosso através do refluxo das barcaças e o retorno dos caminhões.
Para os especialistas, todos ganham com isso, o produtor que vai escoar os grãos numa rota mais barata, como também os agricultores que terão os insumos mais baratos na porta de suas fazendas, coisa que não ocorre atualmente, pois isso tem um alto custo de importação.
MERCADO
E é grande também a expectativa para o Amapá em relação a diversificar sua economia, por exemplo, para a criação de frangos e porcos em escala industrial, além de agroindústrias, produção de biodiesel, produção de rações. Seria aquilo que se chama de “uma nova ordem econômica”, que é a transformação de proteína vegetal em insumos animais como frangos, suínos, piscicultura e outros.
"Será um navio de 55.000 toneladas, algo em torno de 23 milhões de dólares"
"A Revista Diário conversou, por telefone, com o consultor Luiz Pagot, escalado pelo grupo Fiagril para dar esclarecimentos à reportagem a respeito do arrojado projeto. A seguir, os principais trechos da conversa do executivo com o jornalista amapaense Cleber Barbosa.
Revista Diário - O senhor confirma para setembro o primeiro embarque de grãos através do Porto de Santana?
Luiz Pagot - Estaremos prontos para operar, em fase de testes, já em junho. Com previsão de primeiro carregamento em setembro deste ano.
Diário - Qual a quantidade, ou tonelagem, a ser embarcada e de que grãos se trata, milho ou soja?
Pagot - O Terminal de Grãos do Porto de Santana tem capacidade estática de movimentação anual de 1,8 milhão de toneladas. Irá operar com soja e milho. Iniciará as operações gradativamente, ou seja, 300 mil toneladas em 2016, 1 milhão de toneladas em 2017 e crescendo sistematicamente.
Diário - Para que países essa produção será comercializada e, se puder dizer, qual o valor estimado do negócio?
Pagot - Predominantemente Ásia, com China e Japão, como também Europa, mas ainda serão atendidos clientes do Oriente Médio, Caribe, América do Sul e continente Africano. A estimativa de negócios dependerá muito da cotação da soja ou milho na Bolsa de Chicago. Com base nos preços da soja em bolsa nesta data, estaríamos exportando por navio de 55.000 toneladas, algo em torno de 23 milhões de dólares.
Diário - O modal de transporte para escoar essa produção até o Amapá, pode ser utilizado no caminho inverso, ou seja, transportarem insumos para as regiões produtoras?
Pagot - Com certeza, será uma via de mão dupla, principalmente de insumos agrícolas.
Diário - Sabe-se que Santana tem um porto subaproveitado, em que pese sua excelente localização geográfica, então quais as possibilidades de incremento dessa relação com o estado?
Pagot - O Porto necessita de ampliação dos cais para 250 metros cada, a garantia de um calado de 14 metros para operações futuras e ampliação de áreas de retro-porto, principalmente para contêiner. Para tanto defendo um parceria entre a Prefeitura, o Estado e empresas privadas para que consigamos recursos suficientes para a modernização do Porto.
Diário - Como funciona o sistema CPR, a chamada Célula de Produto Rural que estaria garantindo a entrada de produtores do Amapá no mercado do agronegócio?
Pagot - A CPR é um instrumento de garantia que o produtor fornece a tradings financiadora ou a bancos. Mas para haver um efetivo avanço de produção nas áreas destinadas à agricultura os produtores necessitam a regularização fundiária e agilidade no licenciamento. Estes fatores são bem mais preponderantes e através do dinamismo deles, chega-se facilmente às fontes de financiamento e, como consequência, ao crescimento das áreas plantadas e maior distribuição de renda.
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