Cleber Barbosa
Da Redação
Durante algum tempo a dança do Marabaixo esteve renegada, à margem da sociedade amapaense, devido a preconceito e também perseguições. Mas hoje ela é mais do que assumida, transformou-se na maior identidade cultural do Amapá, tanto que onde quer que o nome do estado seja levado, lá está a o Marabaixo. Os turistas que têm contato com a dança logo percebem sensíveis diferenças entre outras manifestações culturais, que embora utilizem figurinos parecidos, guardam detalhes todos característicos. O Diário do Amapá mergulha hoje no universo desta verdadeira joia dos amapaenses.
Tradição - A festa Marabaixo é uma comemoração religiosa que acontece em Macapá e arredores, praticada por remanescentes de quilombos, os quais demonstram sua fé através da dança, do canto e do consumo da gengibirra, bebida feita à base de gengibre e álcool.
Os africanos, que chegaram ao Brasil na condição de escravos, trouxeram elementos da cultura de seus países de origem. Entre esses elementos culturais, a música e a dança foram fundamentais para a manutenção de uma memória da terra de origem e, ao mesmo tempo, para o estabelecimento de uma identidade.
Para que os senhores de escravos permitissem manifestações musicais e danças, os negros cativos incorporaram a elas aspectos da cultura branca, sobretudo aspectos da religião. Assim nasceu o Marabaixo, misturando tradições africanas aos rituais e crenças da religião católica.
O Marabaixo é uma festa religiosa em louvor à Santíssima Trindade e ao Divino Espírito Santo, realizada através de missas que misturam danças, músicas, ladainhas. As danças e músicas são improvisadas, originalmente, e devem representar a realidade vivida, o dia-a-dia de uma comunidade. Por representar situações cotidianas, o Marabaixo pode ser composto de movimentos que lembram lutas, como também movimentos que lembram a alegria, a tristeza e a paixão.
Os instrumentos utilizados são caseiros, confeccionados rusticamente de madeira cavada, transformada numa espécie de caixa imitando o som de tambores. Recebem o nome de membranofones. Participam negros e mulatos, em maioria, que respondem em coro a uma espécie de “desafio” tirado por um cantador ou cantadora, que lança os improvisos.
Festa tem calendário próprio e apoio da Igreja
As festividades do Marabaixo se iniciam no domingo de Páscoa e terminam no dia do Divino Espírito Santo, ou seja, quarenta dias após o domingo em que se comemora a ressurreição de Cristo. Embora já tenham sido registrados incidentes por conta de padres da linha mais conservadora, atualmente essa manifestação está muito mais próxima e presente no calendário católico, num sincretismo que levou religiosos como o padre Paulo Roberto Matias a criar a Missa dos Tambores, onde ele usa cores, apetrechos e até ritmos mais alegres que remontam às matrizes afro-brasileiras.
Como toda a tradição, o Marabaixo sofreu modificações ao longo dos anos. No entanto, um aspecto chama a atenção quando se observa esse ritual. De modo geral, as tradições populares perdem sua força nos espaços urbanos. Nessas áreas, o crescimento da população, as condições de trabalho e hábitos culturais que incorporam os avanços tecnológicos favorecem o esquecimento e, até mesmo, o abandono das tradições de origem de um povo. Mas a presença de crianças e adolescentes estão garantindo uma transição serena que leva à perpetuação da dança.
Favela e Laguinho são atualmente os verdadeiros redutos do Marabaixo
Ao contrário do que, em geral, ocorre com as tradições populares, o Marabaixo, na atualidade, mantém-se vivo e importante em áreas urbanas. Na capital Macapá, os bairros da Favela e do Laguinho são considerados redutos, guardiões da prática e dos ensinamentos sobre o Marabaixo. Considera-se que a migrações de populações rurais para a cidade de Macapá foram importantes para a manutenção dessa tradição no espaço urbano da capital amapaense. Ao mesmo tempo, o Marabaixo permanece como uma importante festividade na Vila do Curiaú, uma comunidade rural localizada a 12 Km de Macapá, onde essa tradição, muitas vezes, está ligada a práticas religiosas de origem africana. Em Curiaú, a maior aproximação entre o Marabaixo e essas tradições pode ser explicada pelo fato de que essa vila está situada na área de um antigo quilombo.
Assim, diferente do que acontece com tradições como o Boi Bumbá, a festa do Marabaixo não pode ser considerada apenas rural ou apenas urbana. Alguns estudiosos da tradição do Marabaixo indicam que a manutenção dessa festividade está relacionada aos movimentos de valorização da cultura negra, que ganharam força no Brasil a partir da década de 60. Em 2004, o governo do Amapá instituiu, no calendário folclórico do estado, o Ciclo do Marabaixo. Essa medida fez valorizar e divulgar a tradição, chamando a atenção de turistas e levando as escolas a trabalharem essa festividade como um importante marco da cultura local. Ao mesmo tempo, diante do estabelecimento desse Ciclo, os praticantes mais antigos do Marabaixo argumentam que os valores básicos da tradição, ligados à religiosidade e à cultura negra, tornam-se menos importantes para os novos e jovens integrantes.
Curiosidades
- É uma festividade folclórica de origem africana, realizada pelas comunidades negras do Amapá. Consiste em homenagear o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade com missas, novenas, ladainhas e danças de roda puxada pela batida de tambores chamados de "caixas de marabaixo".
- Supõe-se que o nome venha do vocábulo árabe "marabut" (louvar) ou do fato dos negros terem sido trazidos mar abaixo, da África para o Amapá.
XVII
Este é o século da colonização do Amapá e da possível origem da Dança do Marabaixo.
Uma arte
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Contribua conosco!