Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá
No século XIX, em pleno desenvolvimento industrial, numa
pequena cidade inglesa, um grupo de pedreiros tinha acabado de construir uma
altíssima chaminé para a fábrica local. Estavam cansados, mas felizes.
Finalmente a obra tinha sido concluída. Naquela euforia, desceram rapidamente
do andaime, que tinha servido para a construção, e, entre gritos de alegria, o
derrubaram com poucos golpes de marreta. Naquele momento, porém, no alto da
chaminé apareceu a cabeça de mais um pedreiro. Ele tinha acabado o reboco interno
num lugar afastado dos outros; e agora, como desceria de lá de cima? Impossível
reconstruir o andaime em pouco tempo, ia morrer de frio ou de fome. O nome dele
era Jorge e a mãe estava lá em baixo, olhando o filho, desesperada. De repente
ela começou a gritar:
- Jorge, tira as meias!
Pensaram que, naquela hora, a pobre mulher estivesse
falando bobagem. Mas ela insistia:
- Jorge, tira as meias! Vira-as do avesso, encontra o nó e
puxa.
O filho obedeceu. Começou com uma meia e em alguns minutos
ela se transformou num novelo de lã.
– Faz o mesmo com a outra – gritou a mãe lá de baixo.
Rapidamente Jorge conseguiu outro novelo de lã.
– Agora desce o fio, mas segura a ponta, pelo amor de Deus!
O povo começou a entender. Ao sutil fio de lã foi amarrado
um fio maior de algodão, depois a ele uma cordinha e, enfim, uma robusta corda.
Jorge amarrou-a à chaminé e pôde descer entre os vivas e os aplausos de todos
os presentes. Não faltou, é claro, o abraço caloroso e o beijo demorado da
mãe.
Por coincidência, neste domingo dedicado às mães, o
evangelho nos fala do mandamento do amor que Jesus deixou aos seus amigos. Por
isso contei a história simples de uma mãe que salvou o seu filho sem nenhum
recurso e muita imaginação. Quantas outras histórias reais de amor e dedicação
poderíamos contar lembrando o exemplo das nossas mães. É o mal que nos fazem
que deveríamos esquecer, o bem nunca. Infelizmente, muitas vezes acontece o
contrário: guardamos ódio e mágoas e jogamos fora o amor recebido.
Talvez seja por isso que Jesus nos deixou o mandamento de
nos amarmos uns aos outros, mas de uma maneira toda especial: é aquele “assim
como eu vos amei” que faz a diferença com qualquer outro tipo de amor. Não só,
ele também nos deixou os sinais do seu amor e mandou fazer a memória,
justamente para não ser esquecido ou confundido com outros tipos de amor. Todas
as vezes que nós cristãos celebramos a Eucaristia participamos deste mesmo
amor. Um amor sem medida, total, até dar a própria vida pelos os amados.
É deste amor tão grande que fazemos a memória, porque precisamos ter à nossa
frente metas altas, compromissos sérios, para não cair na mediocridade ou na
superficialidade.
São os grandes exemplos que nos dão coragem e nos fazem
acreditar na possibilidade do construirmos um mundo melhor. Quando os apóstolos
acreditaram em Jesus, sempre fazendo a memória da sua paixão, morte e
ressurreição, sabiam que tinham sido muito amados e que não tinham como
retribuir este amor a não ser vivendo-o entre si e comunicando-o aos outros
também com o exemplo de doação de suas vidas. Eles não tinham outra ”boa
notícia” para anunciar a não ser esta: convidar a todos a seguir a Jesus como
amigos, somente por amor, porque antes já escolhidos e amados por ele. O amor
se aprende e se treina sendo amados e amando em resposta.
Não tem como não voltar a pensar neste momento nas nossas
mães, de maneira especial aquelas que foram enganadas, abandonadas, trocadas
por outras mulheres, e criaram os seus filhos sozinhas. Aquelas mães que
criaram filhos com alguma deficiência ou com algum problema. Aquelas que
criaram também os filhos dos outros. Quantas mães e avôs ainda sustentam filhos
e netos com seu trabalho humilde ou suas escassas aposentadorias... Ficam
felizes em ajudar; já não vivem mais para si, mas para os filhos e os netos.
Muitas suportam caladas a falta de gratidão e as cobranças injustas,
convencidas de que, um dia, os filhos e os netos irão entender o quanto foi
grande o amor delas. Aproveitemos o Dia das Mães, porque nunca é tarde para
dizer-lhes: - Muito obrigado -. Eucaristia, afinal, significa “ação de graças”.
Fazendo a memória do amor de Jesus agradecemos; participando do seu jeito novo
de amar, aprendemos a reconhecer que o amor recebido é dom. Esquecer este amor
significaria desvaloriza-lo, rebaixá-lo a um presente qualquer. O amor de Jesus
– e muitas vezes o amor das mães – não tem comparação, é único e sem preço.
A mãe de Jorge não queria perder o filho e se lembrou das
meias que talvez ela mesma tivesse confeccionado com as suas próprias mãos. A
memória do amor sempre ajuda a amar mais. E também a
agradecer.
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