MARTA - A maior estrela da seleção brasileira de futebol feminino fala da carreira e da vida ao Diário. |
Em visita ao Amapá, a convite da amiga e também jogadora Aline Calandrine, a atacante Marta recebeu a equipe do Diário do Amapá para um bate papo que durou pouco mais de 15 minutos, tempo suficiente para passear pela história dessa brilhante jogadora que mesmo contra a vontade dos irmãos seguiu seu o coração e chegou onde sempre quis, trazendo com ela o futebol feminino e uma legião de admiradores conquistados com seu talento, simpatia e simplicidade. Os principais trechos da entrevista concedida ao jornalista Jailson Santos você acompanha a seguir.
Diário do Amapá - Marta, como foi o seu começo no futebol?
Marta Silva - O meu começo não foi muito diferente do começo de muitas meninas que querem seguir essa carreira de jogadora de futebol. Eu jogava com os meninos na rua mesmo, quando eu tinha os meus sete-oito anos. Aí eu fui pegando gosto pela coisa, percebi que levava jeito e fui criando na minha cabeça o sonho de me tornar uma atleta profissional.
Diário - Nesse tempo, ainda tão jovem, você já pensava em fazer carreira no futebol?
Marta - Eu sou de família humilde, família pobre. Com a minha mãe a maioria do tempo trabalhando, era eu quem cuidava de mim. E isso aumentava a minha vontade de me tornar uma atleta profissional e passar a ter uma vida financeira melhor para também poder ajudar a minha família.
Diário - Lá em Alagoas você já era uma criança famosa por causa da habilidade no futebol?
Marta - Até os 12 anos eu jogava com os meninos e eu praticamente joguei em todos os clubes da região. Quando tinha jogo eles iam me buscar. Eu sou de Dois Riachos, cidade que fica a 186 quilômetros da ca-pital, uma cidade muito pequena, todo mundo me conhecia. Então quando tinhas jogos na região, do feminino ou do masculino... "chama a Marta!".
Diário - E como você foi parar no Rio de Janeiro, no feminino do Vasco da Gama?
Marta - Joguei durante dois anos a Copa AABB de futsal, disputada em Santana do Ipanema, que fica a 18 quilômetros de Dois Riachos, eu jogava com os meninos e só tinha eu de mulher. E graças a esse torneio foi que surgiu a oportunidade de ir para o Rio de Janeiro, fazer testes para o time feminino do Vasco.
Diário - Mas você era muito nova e o time do vasco tinha jogadoras de seleção, como você encarou?
Marta - A maioria das meninas era da seleção brasileira, fui para o Rio com 14 anos, fiz o teste passei e a partir daí fiquei morando no Rio. E jogando pelo vasco eu tinha uma visibilidade maior. Eu já sabia que jogando no Rio de Janeiro as chances de eu ir para a seleção eram muito maiores do que ficar em Alagoas.
Diário - Então você, com apenas 14 anos já pensava em fazer parte da seleção brasileira?
Marta - A partir do momento que eu cheguei no Vasco, eu já pensava em um dia jogar na seleção brasileira.
Diário - Mas você não é filha única. E os seus irmão te incentivaram muito... você chegou a aprender truques com algum deles?
Marta - Na verdade eles não gostavam muito dessa idéia de me ver jogando futebol. E eles tentaram me impedir de todas as formas. Eu comecei jogando mesmo foi com meus primos, um dele na verdade não teve oportunidade de fazer carreira no futebol, mas jogava muito. Então eu acompanhava os jogos deles, e até ficava de gandula só para dar uns toques na bola e foi assim minha infância toda.
Diário - Marta me conta como foi a primeira convocação para a seleção brasileira?
Marta - A primeira convocação foi para a seleção sub-19, eu só ti-nha 15 anos e já era titular do time. Eu cheguei lá, e eles estavam montando uma equipe para disputar o mundial. O Vasco tinha duas equipes uma sub 19 e outra adulta. E o time adulto tinha Pretinha, Roseli... era só craque mesmo. E foi realizado uma espécie de seletiva, eu joguei esse brasileiro pelo Vasco, fui artilheira, revelação do torneio e fui parar na seleção sub-19.
Diário - Uma recém chegada fazendo o que você fez, não gerou ciumeira nas jogadoras?
Marta - Na sub-19 não rolava tanta ciumeira não, mas depois da seleção sub-19, eu com 16 anos já estava na seleção adulta, foi aí que começou um pouquinho de ciúme. As mais velhas de certa forma ficavam com um pouquinho de ciúme porque eu chamava atenção e foi na época em que a Sissi, estava na dúvida se voltava para a seleção ou não, e começou a estoria de que eu seria a sucessora da Sissi... Mas hoje já não existe mais. Quando chega uma novata no grupo, agente tenta fazer com que ela se sinta bem. Hoje, eu ainda estou na seleção mais daqui a alguns anos eu não vou ter mais condições de jogar e que quero que a seleção continue crescendo, evoluindo. Agente tem que incentivar a nova geração.
Diário - Marta, por conta da sua genialidade para fazer grandes jogadas, as comparações com o rei Pelé são inevitáveis não é?
Marta - Agente está falando do rei, e com o Pelé agente tem que ter um respeito muito grande. Ele foi um cara que fez muito pelo esporte e que ainda hoje faz. Um cara conhecido mundialmente que não vai deixar nunca de ser o rei, mas as comparações é lógico que deixam agente muito satisfeito e contente com tudo isso. Não é qualquer um que recebe elogios e comparações desse tipo.
Diário - É, não é para qualquer um mesmo... mas você já foi eleita cinco vezes a melhor do mundo, como isso mexe com a tua cabeça?
Marta - Com a minha cabeça?, eu nem procuro pensar tanto nisso, eu acho que eu não posso perder o foco do que eu quero que é continuar o meu trabalho, cada vez mais com o pensamento de que sempre existe algo a mais para eu aprender. Em relação aos prêmios eu acho interessante porque é um incentivo, é um exemplo para as pessoas, que querem um dia seguir uma carreira de atleta, não necessariamente no futebol, mas em qualquer outro esporte, no trabalho e até na vida. Então são coisas que eu deixo para as pessoas sentirem e usarem como exemplo.
Diário - E a indicação deste ano, que pode ser o seu sexto título de melhor do mundo?
Marta - Se vier, eu com certeza vou arrumar um espacinho especial no meu quartinho de troféus para o sexto. Mas se não vier, agente vai continuar trabalhando da mesma forma. As concorrentes são grandes atletas e jogadores e de alto nível, tiveram momentos muito bons durante o ano. Bem, a concorrência é grande.
Diário - Você falou das jogadoras concorrentes e do alto nível, o que a Marta acha que falta para alavancar o futebol feminino pelo país?
Marta - Falta patrocínio, a mídia tem que sempre estar divulgando, porque de certa forma a mídia divulga nas épocas de campeonatos mundiais e olimpíadas, aí depois dá uma paradinha. Mas para que a mídia faça isso tem que ter campeonato, tem que ter torneio, tem que ter clubes. Hoje em dia, clubes de nome não tem. O único é o Santos. Então falta incentivo a modalidade, falta interesse. Há muito times femininos em São Paulo, Rio e Minas, assim como tem no resto do país, mas não tem tanta visibilidade porque não são times grandes.
Diário - E a CBF?
Marta - A CBF faz a Copa do Brasil, da toda a estrutura para a Seleção Brasileira. E eu acho que não pode só ter incentivo da CBF, tem que ter um conjunto. Tem que partir do governo e das empresas privadas para que agente possa ter incentivo para manter o esporte, não dá para começar um trabalho e ter retorno imediato, leva tempo para se traba-lhar uma equipe e isso é complicado.
Diário - Marta, a respeito do Pan de Guadalajara, por que você não foi convocada?
Marta - Eu joguei a minha temporada nos Estados Unidos e estava muito desgastada. Tanto que dois dias antes da final eu joguei e machuquei a virilha esquerda, mas eu pensei assim: joguei a temporada inteira, o nosso time estava super bem e eu não queria ficar de fora da final. Eu joguei a final machucada, isso até agravou um pouquinho mais a lesão. Depois eu tive que ficar um mês parada para recuperar, não tava nem chutando direito, e eu só vim dar umas corridinhas depois de um mês da final. E mesmo machucada joguei a final, nos empatamos em um a um, o jogo foi para os pênaltis e eu fui a primeira a bater, fiz o gol e ficamos com o título.
Diário - Mas uma lesão pequena poderia ser tratada não te impediria de disputar o Pan?
Marta - Tem muitos anos que eu não paro para ter um tempo com a minha família, para tirar férias, para ficar um pouco mais no Brasil e che-gamos a um consenso conversando com a CBF. O Panamericano é uma competição importante, mas agente sabia que tinha time para chegar e para ganhar. Infelizmente não conseguimos, mas você viu foram meninas muito talentosas, meninas que não tinham ainda jogado uma competição dessas e que pegaram a oportunidade mas não deu.
Diário - E se a Marta estivesse nesse time?
Marta - Não sei, não sei ... eu seria mais uma para somar e estar lá na luta para brigar pela medalha de ouro.
Diário - Marta, você já tem planos para depois das férias e pré-temporada?
Marta - O meu projeto agora e voltar aos treinamentos. A temporada é só no ano que vem e por enquanto eu estou sem contrato, estou negociando talvez a minha volta aos Estados Unidos ou para algum clube na Europa, mas agora no fim do ano agente vai ter um torneio em são Paulo com a Seleção Brasileira, Dinamarca, Itália e Chile e eu vou me preparar para participar desse torneio e também paras as olimpíadas do ano que vem para que agente possa chegar bem.
Diário - Marta você gostaria de destacar mais algum assim?
Marta - Sim! você não vai divulgar a minha vinda aqui ao Amapá para prestigiar o empreendimento do meu amigo Gastão?... Quase que eu trago meu carro para ele lavar, porque me disseram que ele é o me-lhor da daqui de Macapá.... E pela amizade que agente tem com a Aline que jogou comigo na seleção e com a família dela que são pessoas ótimas eu não poderia deixar de atender ao convite deles.
Diário - Isso é uma deixa para você voltar aqui outras vezes?
Marta - Você já tem entrevista aí para o mês inteiro... Até a minha volta aqui, porque agora eu quero voltar para conhecer mesmo, para passear no rio amazonas, ver o povoado, eu adoro! eu sou de interior também, então eu adoro!
Perfil A jogadora de futebol Marta Vieira da Silva, é natural de Dois Riachos, em Alagoas, mede 1,62m, calça chuteiras número 38 e tem uma marca que ninguém no mundo do futebol conseguiu até hoje: cinco vezes seguidas eleita a melhor do mundo. Neste ano de 2011 pode receber o título pela sexta vez. Atualmente joga do Santos Futebol Clube, em São Paulo, e é capitã da seleção brasileira de futebol feminino, aliás, mais que isso, é a principal estrela da companhia. Este ano não foi aos Jogos Pan-Americanos, em Guadalarara, no México, pois tinha acabado uma tenporada nos Estados Unidos e também recuperava-se de uma contusão na virilha. Veio a Macapá esta semana na companhia da amiga e colega de seleção Aline Calandrini, ocasião em que prestigiou um empreendimento comercial da família da zagueira amapaense.
CLEBER BARBOSA (Edição) e JAILSON SANTOS (Texto)
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