Janaína. A militar do Exército Brasileiro fala no estúdio da Diário FM sobre detalhes da carreira diferente que abraçou. |
Cleber Barbosa
Para o Diário do Amapá
Diário do Amapá – Tudo bem sargento? Seja bem vinda!
Janaína de Matos – Tudo bem, Cleber em primeiro lugar agradecer pelo convite e dar um bom dia aos ouvintes!
Diário – Esse ‘ouvintes’ com tanto “s” vem do Rio de Janeiro, não é?
Janaína – É... se Deus quiser... [risos]
Diário – Me desculpe, mas qual a sua idade?
Janaína – Tenho vinte e quatro anos.
Diário – A senhora é muito jovem mesmo e já é sargento. O nome de guerra é “De Matos” é isso?
Janaína – Correto.
Diário – E a senhora incorporou ao Exército Brasileiro exatamente por onde e quando?
Janaína – Primeiramente fiz um concurso público no ano de 2009 e ingressei em 2010, para a Escola de Sargentos de Logística do Exército Brasileiro, no Rio de Janeiro, que também abre vagas para pessoas que são técnicos de enfermagem para atuarem nos quartéis ou nos hospitais, na área de saúde.
Diário – Para quem como a senhora é técnico em enfermagem faz carreira de sargento e para quem é enfermeira?
Janaína – Aí tem que fazer o concurso para oficial. Tem a Escola de Formação Complementar do Exército, a chamada EsFCEx, em Salvador, na Bahia, a antiga Escola de Administração do Exército, EsAEx, que abre vagas para quem já possui uma graduação em nível superior e que pode seguir carreira nas áreas administrativas do Exército, podendo chegar até o posto de coronel. Já para quem segue carreira de sargento, como eu, pode chegar até o posto de capitão do quadro auxiliar de oficiais.
Diário – Uma característica das carreiras militares é essa coisa meio nômade, andarilha, de percorrer vários estados do país e até fora dele. Com a senhor isso também já aconteceu?
Janaína – Sim, fiz um ano e meio na escola de formação, no Rio de Janeiro, e depois de formada fiquei três anos em Apucarana, no Paraná. Cheguei ao Amapá no dia 28 de fevereiro de 2015 e estou aí! Devo ficar pelo menos mais dois anos aqui e depois poderei pedir movimentação para qualquer lugar do país, pois nós militares estamos aptos a atuar em qualquer lugar do Brasil.
Diário – Para militares como a senhora, do quadro de saúde, podem servir só em hospitais ou em unidades operacionais também?
Janaína – Pode servir sim, inclusive porque precisa nas unidades operacionais, como tem muita gente que escolhe clínicas ou hospitais também.
Diário – E aqui na guarnição militar de Macapá tem mais quantas mulheres servindo aqui junto com a senhora?
Janaína – Bom, em Clevelândia do Norte, onde funciona uma Companhia Especial de Fronteira ligada também ao nosso batalhão, existe uma única mulher, é uma oficial dentista. Aqui em nossa OM (Organização Militar) nós temos duas dentistas, duas farmacêuticas também e seis sargentos, sendo cinco técnicas de enfermagem e uma de contabilidade.
Diário – Este mês dedicado às mulheres sugere muitas reflexões, daí o convite para a senhora vir aqui hoje falar dessa profissão tão diferente para uma mulher. Como é ir a um shopping e ao responder para um cadastro numa loja dizer que sua profissão é ser sargento do Exército?
Janaína – [Mais risos] É bastante gratificante, mas nós mulheres militares despertamos muita admiração das pessoas, mas posso dizer que é bastante interessante, uma grande conquista e acredito que sirva de espelho para muitas outras pessoas.
Diário – E em casa, com a família? Como foi dar essa notícia de que seria militar?
Janaína – Na verdade na minha família existem outros militares. Meu pai é da Aeronáutica, meus dois irmãos mais velhos também são militares da Força Aérea. Eu é que fui a única que fiz concurso pro Exército. Mas existem outros parentes também militares, fuzileiros navais, bombeiros e policiais militares. Sou a única do Exército e também a única mulher militar também.
Diário – E ser militar no Rio de Janeiro, onde a gente tem notícia de que é difícil até colocar a farda para secar no varal, por receio de se identificar como militar. A violência assusta mesmo, a senhora já se sentiu ameaçada?
Janaína – Olha, particularmente eu nunca corri nenhum risco, pois na área onde eu morava e onde meus pais moram atualmente nunca nos trouxe nenhum risco, tanto que meu irmão que é militar continua morando no mesmo lugar e segue um dia a dia normal. Claro que a gente evita andar fardado na rua, diferentemente de outras cidades menores, mas dá para ter uma vida tranquila, portar carteira militar, enfim. É claro que alguns lugares se prevê não usar, né? Como a caminho do trabalho tem alguns lugares que tem um risco maior, mas dá para viver tranquilamente.
Diário – E sobre a feminilidade estando de farda? Os acessórios que as mulheres tanto gostam, como os brincos, são permitidos?
Janaína – Bem, a gente tem alguns adereços que já estão previstos no regulamento, mas a gente pode usar relógio, a gente pode usar anel, pode usar aliança, usar pulseira, pode usar brinco, unha pintada na cor clara. No ano passado inclusive foi liberado a cor rosa clarinho, pois antigamente só podia usar o renda. É tudo previsto e a gente não deixa de ser feminino, mas com discrição, como o brinco que não pode passar do lóbulo da orelha, o cabelo que tem de estar preso, assim como a maquiagem que poder se usar, mas discreta, enfim, não muda muito a nossa feminilidade não.
Diário – E fazer parte do aparelho de defesa do país, como é isso para a senhora?
Janaína – Muito importante, assim como as policiais e bombeiros militares, que atuam na segurança pública também. Mas fazer parte da defesa do país é ainda mais gratificante, dá muito orgulho para nossa família, para nossos amigos e a própria população que precisa e espera da gente sempre o nosso melhor.
Diário – A senhora sendo do serviço de saúde, uma área bastante técnica dentro do Exército, mas também realiza outras atividades inerentes a carreira militar, como treinamento físico, tiro, serviço de guarda, enfim?
Janaína – Sim, normal, todas as atividades, inclusive instrução. Apenas o serviço de guarda é que depende muito de cada unidade, mas nós do serviço de saúde não é previsto, pois temos que atuar dentro da nossa área de saúde. No máximo podemos dar serviço a nível de Companhia, o chamado sargento de dia.
Diário – E a senhora ainda buscou outra especialização, é paraquedista, uma área muito exigente desde o curso de formação e que dá certa moral dentro dos quarteis. Como é isso sargento?
Janaína – Pois é, cursei o treinamento básico de paraquedista, aquele com gancho, onde o paraquedas abre automaticamente. No salto livre, o militar tem que fazer outro aperfeiçoamento depois. Mas o curso é sim muito exigente, especialmente no condicionamento físico, onde a única diferença é que as mulheres não fazem a barra, como os homens, em nosso curso temos apenas que ficar suspensas na barra durante um certo tempo.
Diário – Recentemente o Exército mostrou o caso de duas sargentos como a senhora, também do serviço de saúde, que conseguiram concluir outro temido curso, o de guerra na selva, no CIGS, em Manaus. A senhor também faz planos para encarar aquele treinamento?
Janaína – Eu pretendo. Um dia... [risos]
Diário – Obrigado pela entrevista e parabéns pela carreira.
Janaína – Eu que agradeço e desejo também um feliz Dia Internacional das Mulheres a todas nós!
PERFIL
Entrevistada. Janaína Silva Ramos de Matos tem 24 anos de idade, nasceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), é solteira e filha de pai militar da Aeronáutica. Estudou na Escola Glauber Rocha, na capital fluminense e depois formou-se Técnica em Enfermagem pelo tradicional Instituto Martin Luther King, no Rio de Janeiro, em 2008. Prestou concurso para a Aeronáutica e também para a Marinha, mas diz ter se realizado no concurso para a Escola de Sargentos de Logística, do Exército Brasileiro, também no Rio (2009). Serviu por três anos no 30º Batalhão de Infantaria Mecanizado, em Apucarana (PR) e desde fevereiro de 2015 foi transferida para o Comando de Fronteira Amapá e 34º Batalhão de Infantaria de Selva, em Macapá.
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