terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Artigo do Professor José Alberto Tostes


Macapá no Amapá
Autor: José Alberto Tostes

           Nos últimos anos tem sido muito discutido através de um bom número de trabalhos acadêmicos e científicos, a cidade de Macapá. A diversidade destes trabalhos ainda não teve a dimensão e absorção por parte do poder público quanto ao aproveitamento de todo este material em favor da real perspectiva de desenvolvimento. Este artigo trata de abordar uma temática de igual e tamanha importância para a sociedade, começa com uma pergunta crucial: qual a influência ou importância da cidade de Macapá no Amapá?
             Para responder a esta pergunta de uma maneira mais sistêmica, é preciso primeiro pensar a essência da própria pergunta: o que significa a concentração da maior parte da população do estado do Amapá na capital Macapá? Macapá irá completar em fevereiro 255 anos de fundação, evolução urbana só ocorre com maior propriedade após a criação do Território Federal do Amapá no ano de 1943, muito tempo à cidade ficou na inércia por parte dos governantes do estado do Pará.
              A história do Amapá se confunde com a história da cidade de Macapá, é nesta cidade que se localiza o rio Amazonas, uma das principais fortalezas da América Latina, é uma das poucas cidades cortadas pela Linha do Equador. Portanto, significa que parte expressiva da nossa história é vinculada a Macapá. Os demais municípios, com raras exceções tem uma história reduzida, isso é grave, pois significa que sucessivos governantes não priorizaram o desenvolvimento de áreas que tiveram uma causa: Mazagão, Serra do Navio e Oiapoque, tais lugares tem uma história para contar, mas não tem uma paisagem para ser narrada, tal a incipiente perspectiva de desenvolvimento destes lugares.
              Macapá é vista sob a ótica de uma cidade em constante mudança, transformações motivadas muito mais pela pressão social e política, do que propriamente por regras básicas de planejamento urbano, até neste quesito, verifica-se nesta cidade  como existe a influência nas demais cidades do Amapá, isso é fruto da predominância do setor público intenso e que caracterizou fortemente o comércio. Diferentemente do começo do Território Federal nas primeiras décadas, onde a instalação da ICOMI motivou e estimulou o comércio local, nos dias atuais a economia do setor público cresceu e determinou o funcionamento do comércio e outras atividades de serviços.
                Macapá padeceu também de diversos governos que deixaram de cumprir um papel importante, de investir em projetos estruturais e estruturantes: água, energia, pavimentação e transporte digno. O slogan era cuidar apenas de problemas cotidianos, até nesse ponto as demais cidades amapaenses passaram a copiar o modelo da capital, investir em questões cotidianas, e sem regras de planejamento. Macapá no Amapá, tornou-se algo dependente e crônico, a vinculação umbilical dos demais municípios tornou-se patente e visível na paisagem das cidades.
                A crítica dos diversos setores da sociedade amapaense, a concentração de bens e serviços cada vez mais, excluíam os demais municípios sem qualquer possibilidade de desenvolvimento. Conheço um caso quando passei a desenvolver um trabalho de pesquisa na cidade de Oiapoque, certo prefeito queria que fosse realizada em Oiapoque uma Expo-feira agropecuária igual a de Macapá, mostramos ao prefeito que não era a vocação da cidade de Oiapoque, seria muito mais interessante um festival da cultura dos povos indígenas. Este é um exemplo da falta de identidade de nossos lugares, o “vazio” provoca este tipo de sentimento, contraditoriamente, apesar de boa parte da população viver na capital, isso não tem significado maior e melhor qualidade de vida.
                Os índices nacionais que mensuram desenvolvimento municipal colocam Macapá na posição acima de 1.500 no ranking nacional, convenhamos isso beira o ridículo  tratando-se de uma capital de um estado da federação. O que aconteceu para que Macapá no Amapá tenha se consolidado ao longo dos últimos vinte anos? Tal fato é decorrente também das fragilidades políticas, de ações pontuais, e da pouca eficácia  dos projetos concebidos para os demais municípios. É fato para todos, Macapá e Santana são áreas conurbadas (integradas), mas, desde que Santana deixou de ser Distrito de Macapá, as coisas ficaram mais complexas, nem quando estes municípios tiveram governantes do mesmo partido foram suficientes para buscarem soluções integradoras, discursos afinados, mais ações fragmentadas.
               Macapá no Amapá é algo que deve ser pensado como centro de referência, e não como referência totalizadora, apesar dos maiores índices de investimento se concentrarem na capital, tais benefícios não aparecem como geradores contínuos de emprego e renda. As demais cidades se apresentam cada vez mais com o perfil de Macapá: dependência completa do setor público; comércio limitado; sem identidade local; investimentos pontuais e fracionados e elevação dos índices de pobreza urbana.
                Os novos investimentos que vem sendo materializados acenam com a possibilidade de reduzirem a influência de Macapá no Amapá, fortalecer a perspectiva de desenvolvimento dos demais municípios a saírem da inércia dos últimos vinte anos. A ponte binacional, hidrelétricas, BR 156, linhão de Tucuruí e rede de fibra ótica para internet de alta velocidade, podem reduzir problemas crônicos que atingem ao Amapá na sua totalidade. Queremos Macapá no Amapá como um ponto de referência, não somente a única referência.

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