Alípio Jorge. O almirante explica tecnicamente a sinalização náutica da costa do Brasil através do Amapá. |
Cleber Barbosa
Para o Diário do Amapá
Diário do Amapá – O senhor esteve recentemente em Macapá para a substituição do comandante da Capitania dos Portos, uma rotina a bem da verdade, mas que sempre sugere uma reflexão a respeito do papel da Marinha do Brasil aqui na região. O que dizer a esse respeito Almirante?
Alípio Jorge – É um prazer e uma honra muito grande estar de volta ao estado do Amapá, visitando Macapá e Santana dessa vez, como poder estar junto das pessoas falando a respeito das atividades da Marinha na região e dos nossos planos para o ano de 2016, que iniciou com a vinda de um navio que está realizando uma comissão de patrulha naval, prestigiando o estado e também viemos verificar as necessidades do Amapá e dos diversos setores, outras agências e órgãos da segurança pública, para que possamos trabalhar em conjunto esse ano, somando esforços para atender a população. A população ribeirinha e a população do estado como um todo.
Diário – A gente sabe que a Marinha trabalha no binômio da segurança da navegação e também a questão operacional, com o patrulhamento da Costa brasileira. Essa primeira missão é que consiste o papel da Capitania dos Portos?
Alípio – Exatamente. Nós temos duas tarefas distintas, que a Capitania também apoia. Uma é a inspeção naval, o trinômio que a autoridade marítima tem competência e responsabilidade, que é a questão da segurança da navegação, a salvaguarda da vida humana no mar e prevenção da poluição hídrica. Então a Capitania trabalha principalmente voltada para esses três pontos. Tanto na verificação da habilitação das pessoas que conduzem as embarcações, quanto da verificação do estado das próprias embarcações, se estão atendendo os requisitos de segurança necessários e aqueles previstos em lei.
Diário – Recentemente soube-se de um estudo do Comando da Marinha no sentido de dividir a Esquadra, hoje sediada no Rio de Janeiro, onde ficam portanto os principais equipamentos de defesa naval do Brasil. A quantas anda esse projeto Almirante? Seria na região Norte ou Nordeste essa unidade?
Alípio – Isso na verdade é um item que está na Estratégia Nacional de Defesa. A Marinha, quando for possível, deverá ter duas esquadras, não significa que ela vai dividir a esquadra que tem hoje. Esse é o plano para longo prazo, não estamos com nenhuma atividade maior, direta, voltada para dividir a esquadra que está no Rio de Janeiro. O que nós estamos fazendo é incrementando a manutenção, o treinamento das nossas tripulações dos navios que estão no Rio de Janeiro. Nós não estamos fazendo a aquisição de novas embarcações, nada voltado para uma segunda esquadra no norte do país. No momento os nossos recursos orçamentários não permitem isso e não tenho noção de planos de curto ou médio prazos com relação a fazer efetivamente essa implantação.
Diário – Então não existem motivos de preocupações a mais com relação à faixa de mar territorial do Brasil ao norte, onde há relatos de biopirataria? Qual a diretriz da Marinha em relação à Amazônia?
Alípio – O senhor no primeiro momento perguntou sobre a Esquadra, e o que o senhor está falando nesse momento não é tanto uma atribuição da Esquadra. Isso é uma atribuição também dos Distritos Navais. Nós fazemos a proteção e a defesa nacional, tarefas voltadas à proteção e à defesa nacional. O 4º Distrito Naval tem sob sua subordinação 12 navios. O 9º Distrito Naval, voltado para a Amazônia Ocidental possui 9 navios, navios-hospitais, navios-patrulha. Em Manaus nós temos navios hidrográficos, para levantamento e sinalização náutica e navios de patrulha também. Então nós já estamos buscando realizar todas as atividades voltadas à patrulha e a defesa nacional. Estamos sempre buscando fazer isso, com os recursos orçamentários disponíveis.
Diário – Não dá para deixar de provoca-lo, no bom sentido, a respeito de um assunto bem atual que tem a ver com o desenvolvimento do estado do Amapá. Trata-se da limitação imposta pelo Cabo Norte do Rio Amazonas à navegação dos novos navios cargueiros, muito maiores que aqueles que historicamente atuavam no mercado. A gente tem notícia de que a Marinha do Brasil em parceria com a mineradora Icomi, nos anos de 1950, realizou um completo estudo de levantamento náutico que resultou em cartas náuticas que mudaram o eixo da navegação de cargas. Isso poderia ser reeditado hoje de modo a atender às novas demandas que já impõem no setor?
Alípio – É, o nosso antigo Serviço de Sinalização Náutica do Norte, sediado em Belém, teve toda a sua infraestrutura, toda a sua capacitação incrementada e melhorada muito. Hoje, o nosso centro, fora o localizado no Rio de Janeiro, é o único com capacidade de fazer os levantamentos hidrográficos e produzir as cartas de navegação, assim como produzir correções às cartas de navegação. Então conseguimos já esse ano, na verdade no final do ano passado e início deste ano, resultados satisfatórios nesse sentido e estamos conversando como autoridades do estado, com a Companhia Docas [de Santana], com empresários, com a praticagem, enfim, sobre os interesses a respeito do levantamento tanto na barra Sul quanto na Barra Norte, de forma a poder apoiar com o nosso Centro de Levantamento e Sinalização Náutica da Amazônia Oriental, o CLSAOR, nesse trabalho a ser feito e colocar a nossa capacidade também a essa disposição, de forma a realizar com os recursos orçamentários todo um plano que já existe nesses levantamentos e até, se for necessário, com recursos do estado e da iniciativa privada com um acordo de cooperação, outros levantamentos que sejam do interesse da região e principalmente do estado do Amapá.
Diário – A gente agradece por sua atenção Almirante e até a próxima oportunidade.
Alípio – Eu que agradeço. E se Deus quiser, é nossa intenção, estarmos sempre aqui presentes acompanhando pelo capitão dos portos as atividades realizadas e sempre que possível com nossa presença física, visitando as autoridades, os setores, a comunidade marítima, a população ribeirinha e conversando com todos.
Perfil
Entrevistado. O vice-almirante Alípio Jorge Rodrigues da Silva é natural do estado do Rio de Janeiro. Foi declarado guarda-marinha em 13 de dezembro de 1980. Entre seus principais cargos ou Comissões, estão ter servido no Navio-Escola “Custódio de Mello”; na Fragata “União”; no Navio de Desembarque-Doca “Ceará”; foi o Imediato da Estação Rádio da Marinha em Brasília; Comandante do Navio-Patrulha Fluvial “Raposo Tavares”; do Navio-Escola “Brasil”; do Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão; Chefe do Estado-Maior da Esquadra; Coordenador da Manutenção de Meios da Diretoria-Geral do Material da Marinha; e Diretor de Comunicações e Tecnologia da Informação da Marinha. Antes de assumir o 4º Distrito Naval, em Belém, era Diretor de Sistemas de Armas da Marinha, em Brasília (DF).
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