domingo, 4 de março de 2018

ECONOMIA | A dinâmica do novo mercado imobiliário do Amapá dá de ombro para crise

Como que meio alheio à crise econômica do país, esse pujante mercado não é mais apenas da realização do sonho da casa própria, mas da qualidade da moradia, uma nova realidade no Amapá.
Nádia Barbosa
Da Redação

Durante muito tempo se falou sobre um suposto déficit habitacional no Amapá, especialmente em campanhas eleitorais. Mas dados oficiais do próprio IBGE mostraram que o problema na verdade era outro: não faltava moradia, mas se morava mal no Amapá. O estatístico Raul Tabajara diz que a explicação está no fato de muitos dos novos casais aproveitarem o terreno da casa dos pais para construir suas casas – os famosos puxadinhos. Aí o improviso e a falta de espaço é que geram moradias ruins para as famílias.
Mas de uns tempos para cá isso está mudando, com a chegada ao estado de grandes empreendimentos do setor imobiliário, como construtoras, incorporadoras e corretoras. Silvino Dal Bo, por exemplo, diz que no começo a solução passou a ser a verticalização, com os primeiros prédios de até vinte andares surgindo na cidade. “Mas depois veio a necessidade por mais espaço, no entorno da cidade, com os condomínios fechados”, recorda ele, que atualmente aposta nos empreendimentos que aliam o terreno com a casa construída. Dal Bo é da Fênix Ltda., uma corretora que entre a sua clientela mira também o trabalhador estatutário, uma classe média que pode financiar a casa em muitas parcelas, pela estabilidade do emprego público.

Crescimento
Os investimentos não param, na verdade se multiplicam, pois mesmo sendo Macapá uma cidade planejada, caracterizada por ter bairros planos e de ruas largas, já há problemas comuns às grandes metrópoles, como engarrafamentos, favelização e falta de espaço. Com uma taxa de crescimento populacional entre as maiores do país, caminhando rápido para ter um milhão de habitantes, a pergunta que não quer calar é: vai ter moradia boa para tanta gente?

Em tese concorrentes, empreendimentos se reúnem em feiras
Uma aposta do setor imobiliário são as feiras de negócios, como o “Feirão Caixa da Casa Própria”, cuja última edição serviu de laboratório para esta reportagem.  O evento aconteceu no auditório do Sebrae. A ideia foi percorrer os estandes e conversar com os expositores e potenciais compradores, para entender como em tempos de dificuldades econômicas esse mercado reage e até se reinventa.
O consultor imobiliário Jules Ricarte, por exemplo, aposta em outro segmento, de um condomínio-clube, chamado de Vila Bela Residence Club. A concepção é reunir num só lugar a moradia e o lazer. A estrutura preparada dispõe de piscina semiolímpica, quadra, campo, salão de festas, sala de jogos, academia, academia ao ar livre, playgroud, entre outras. “É uma estrutura completa, de alto padrão, voltada a um público especial e exclusivo que nós já temos em Macapá, o da classe A, B e C+”, diz o executivo.
Célio Lopes, gerente-geral da Caixa Econômica Federal – maior banco de crédito imobiliário do país –, fala da aposta em promover os feirões da casa própria, uma estratégia de marketing que existe desde 2004 no país e que chegou ao Amapá em 2009. “Temos percebido que é um evento consolidado no calendário de eventos da cidade, mas que é uma grande oportunidade de reunir num só lugar os vendedores, que são as construtoras e imobiliárias, os interessados e suas famílias, além da Caixa, como agente financeiro, que ajuda as pessoas a realizar o sonho da casa própria”, explica Lopes.
Já o empresário Nelson Manari, que empresta o nome aos mais tradicionais condomínios de Macapá, diz que participar de feiras do setor é algo salutar, mesmo reunindo empreendimentos em tese concorrentes. “É importante a troca de informações, além disso, essa gama de conhecimento sobre o setor precipita a decisão da compra, pois as pessoas pesquisam bastante até achar a proposta que se encaixa em seu orçamento”, diz ele. Manari também diz que sua empresa possui um mix de produtos para todos os públicos. “A gente busca agregar vários produtos em nossos empreendimentos, que são voltados especialmente à qualidade de vida dos clientes”, diz.
A mais recente aposta de sua empresa é um condomínio na zona norte, o Bougain Villea, palavra em francês que significa “Primavera”. Trata-se de um condomínio que mantém parte da vegetação original, com direito a um lago e uma pequena mata. “A ideia é conciliar boa moradia urbana, já que o condomínio terá dois acessos ao Centro, um pela Tancredo Neves e outro pela Rodovia do Pacoval, como também dar esse aspecto mais natural, de campo mesmo”, diz o empresário Nelson Manari. Ele, inclusive, tem produtos mais acessíveis, como o Reserva dos Jardins, outro sucesso da incorporadora. Esse empreendimento na zona norte, próximo ao Canal do Jandiá, terá capacidade para 250 casas e 166 apartamentos.

Crescimento
Uma amostra da força do mercado imobiliário atestada no Feirão da Caixa foi o lançamento da primeira etapa do Oásis Residence, na Fazendinha, às margens da Rodovia JK. Das 43 primeiras unidades disponibilizadas, todas foram vendidas. O público alvo é a classe média, afinal pelo preço de um lote em condomínios de luxo, dá para adquirir uma casa edificada em lotes de 10x15metros ao preço de R$ 170 mil. “O que no condomínio mais próximo na JK daria apenas para comprar o lote por esse valor”, diz o empresário Silvino Dal Bo.

Informais
Segundo a reportagem apurou, ainda, o divisor de águas foi mesmo um estudo mostrando que no Amapá os moradores comem muito bem, tem bons empregos, andam em carros muitos bons, mas moram mal. “Porque você não tinha condições de construir a sua casa do jeito que sempre sonhou, mas pagando como cabe no seu bolso”, diz Dal Bo.

Fazendo a matemática, para achar a melhor solução
E recorrendo aos números é possível fazer essa constatação.  Pagando R$ 800 de aluguel, ao final de 30 anos isso significa um gasto de R$ 634 mil, por baixo (correção menor que os dados oficiais), considerando uma taxa anual de 5% de reajuste; já o financiamento de R$ 136 mil, com a primeira prestação no valor de R$ 1.074 reais, no final de 30 anos serão R$ 174 mil de investimento.
Outro dado importante e que afere a vantagem comparativa de investir no próprio imóvel é a valorização. Segundo a tabela FIPE, na valorização de 63% essa casa vai estar valendo R$ 380 mil, o que os especialistas chamam de poupança real ou uma economia de um gasto fantástico. É aí que entra a vantajosa parceria de empreendedores com a Caixa Econômica.
Outra vantagem são os programas federais de subvenção para a compra do imóvel financiado, como o Minha Casa Minha Vida e do próprio FGTS. Uma servidora pública que esteve na feira em busca da casa própria [cujo nome não quis que revelássemos], apresentou uma renda familiar de R$ 3 mil. Ela conseguiu um subsídio do governo de R$ 12 mil, então ao invés de pagar R$ 136 mil, sua casa ficou por R$ 124 mil, ficando com uma prestação por subsídio e taxa de juros no valor de R$ 700 mensais, quando hoje ela paga R$ 600 de aluguel.
Outra importante constatação feita por especialistas do setor ouvidos pela reportagem da Revista Diário, diz respeito à organização e dinamismo do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Amapá (Sinduscon-AP), entidade presidida no estado pelo empresário e engenheiro civil Glauco Cei.


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