quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sarney recebe presidente da China nesta quinta


Passados 22 anos do encontro, em Pequim, entre os presidentes do Brasil, José Sarney, e Deng Xiaoping, da República Popular da China, seu sucessor Hu Jintao vem ao Brasil em missão oficial de quatro dias – de 14 a 17.
Além de participar em Brasília da 2ª Cúpula dos Países BRIC (bloco que inclui Brasil, Rússia, Índia e China), Jintao traz na bagagem o compromisso de intensificar as relações comerciais com o Brasil, conforme relata a agência estatal chinesa Xinhua, que divulgou recente conversa telefônica entre Lula e o dirigente chinês. Jintao então registrou a importância das relações com o Brasil, dizendo que a cooperação entre os dois países desfruta de sólida base política e ampla perspectiva de crescimento. “Ampliar a associação estratégica é bom para os interesses de nossos países e leva à paz e ao desenvolvimento comum, consolidando este novo nível de relação onde alcançamos consenso sobre uma ampla gama de assuntos importantes”, enfatizou.

Plano de ação conjunta
A visita de Jintao acontece quando seu país se consolida como o principal comprador de produtos brasileiros. Em 2009 as exportações brasileiras para o país asiático somaram US$ 20,2 bilhões, contra US$ 15,7 bilhões comprados pelos EUA. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. A China também desponta como importante fonte de Investimento Estrangeiro Direto (IED), alcançando em fevereiro último os US$ 354 milhões. Chega assim à terceira posição em investimentos produtivos no Brasil, segundo levantamento do Banco Central.
Jintao, que já esteve no Brasil em 2004, e o presidente Lula ratificarão um Plano de Ação Conjunta para 2010-2014, definindo prioridades em todas as áreas do relacionamento bilateral e estabelecendo novas bases para expandir essa cooperação.

A evolução das relações bilaterais
A cooperação Brasil-China, inaugurada com restabelecimento de relações em 1974 e reavivada com a visita presidencial de 1984 (presidente Figueiredo), ganhou força a partir de 1988, quando Sarney, então presidente da República, foi a China buscar novos investimentos externos e maior intercâmbio comercial. Na visita diversos acordos foram firmados, em setores como: exploração de petróleo, indústria siderúrgica, medicina e saúde, energia hidroelétrica, geociências, fármacos, madeireiro e energia nuclear. Também foram assinados protocolos para abertura de um consulado do Brasil em Xangai e um chinês em São Paulo. Á época, o ministro das Relações Exteriores, Roberto de Abreu Sodré, marcou: “A visita do presidente Sarney a Pequim representa um ponto alto das relações da política externa brasileira, iniciada a partir da busca de relacionamento com os países da América Latina e da África”.

O destaque especial da visita de Sarney a Pequim foi o Acordo sobre Pesquisas e Produção Conjunta do Satélite de Sensoriamento Remoto, que inaugurou o Programa Espacial Sino-brasileiro para lançamento de satélites de rastreamento terrestre. Esse acordo bilateral, que envolveu o Inpe (Instituto de Pesquisas Espaciais) e a Cast (Academia Chinesa de Tecnologia Espacial), permitiu aos dois países romper o bloqueio das nações desenvolvidas à transferência de tecnologias avançadas. Fruto de acordo inédito de cooperação entre dois países em desenvolvimento, essa parceria resultou no lançamento de um satélite sino-brasileiro, em 1999, e um segundo, em 2003.


Parceria estratégica para o século 21
Quando Sarney se encontrou em Pequim com Deng Xiaoping, em 1988, o volume comercial entre China e Brasil era inferior a US$ 2 bilhões anuais.Segundo projeções da Balança Comercial brasileira, esta cifra deve chegar próxima aos US$ 50 bilhões em 2010. O crescimento extraordinário, na visão do embaixador da China no Brasil, Qiu Xiaogi, começou quando Sarney e Deng “abriram definitivamente as portas para o intercâmbio político, comercial e cultural entre os dois países”.
Testemunha do crescimento da parceria sino-brasileira, o diplomata chinês relata que naquele “momento histórico” da visita, os dois líderes analisaram o futuro do comércio mundial e anteviram: os dois países teriam posição de destaque no século 21. “Sarney e Xiaoping previram ainda que Brasil e China iriam, a partir daí, assumir relevância crescente nas esferas da economia internacional”, registra o embaixador.
Já em 1993, em visita ao Brasil, o então Primeiro Ministro Chinês Zhou Ronji, que cunhou o termo “parceria estratégica” para designar a relação Brasil-China como uma sinergia entre o maior país em desenvolvimento do hemisfério oriental com o maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental, relatava: “as relações entre os nossos países tiveram um expressivo incremento nos setores de infraestrutura, comércio bilateral e cooperação tecnológica, a partir da visita do presidente Sarney a Pequim.”

Em novembro passado, quando recebeu no Senado Jia Qinglin, presidente do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, Sarney lembrou o encontro com Xiaoping, em 1988, que abriu caminho para a evolução nas relações entre Brasil e China. “O Brasil é um parceiro privilegiado chinês e nosso comércio multiplicou-se várias vezes”.
Segundo o presidente do Senado, a profundidade dessa aproximação está registrada na intensidade das trocas comerciais, nas relações culturais e na identidade política dos dois países nos foros internacionais.

Chen Duqing, que foi embaixador da China no Brasil no período 2006-2009, lembra, por sua vez, que o dirigente Deng Xiaoping teria se reportado ao presidente José Sarney com uma frase de efeito para registrar as posições semelhantes adotadas nos organismos internacionais pelos dois países: “A China e o Brasil podem apertar o botão um pelo outro na hora da votação, porque a afinidade entre nossos países é muito grande”.

Fontes: Solange Dias da Silva (economista e mestre em Relações Internacionais pelo programa San Tiago Dantas); Reportagens da página da Secretaria de Imprensa da Presidência do Senado (site do Senado Federal); Agência Estado; Osvaldo Bertolino (site O Outro Lado da Notícia); Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio; Severino Cabral (Diretor do Programa China-Ásia-Pacífico da Universidade Cândido Mendes); Agência Efe; Correio Braziliense (Josafá Dantas-enviado especial a Pequim).

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