sábado, 10 de dezembro de 2011

“Se cada um fizer um pouco vamos recuperar a Serra”

A prefeita de Serra do Navio, Francimar Santos (PT)
A um ano de deixar seu segundo mandato de prefeita de Serra do Navio, a petista Francimar Santos ajudou a organizar o “Encontro do Serrano”, um evento que acontece neste final de semana na cidade que ficou famosa pela qualidade de vida de seus moradores a partir da exploração de minério de manganês, pelo poderoso grupo Caemi, entre os anos 50 e 90. Por muito tempo ameaçada de se tornar uma cidade-famtasma, a pequena vila resiste bravamente, apesar das inúmeras dificuldades para a oferta de obras e serviços públicos por parte da Prefeitura local. Foi em meio a um abiente de nostalgia e perplexidade, afinal para quem não ia à Serra há muitos anos ela está praticamente irreconhecível, que a prefeita conversou com o jornalista Cleber Barbosa. Os principais trechos da enrrevista o Diário do Amapá publica a seguir. 

Por Cleber Barbosa

Diário do Amapá – Toda essa mobilização vista em Serra do Navio, por conta do Encontro dos Serranos, reunindo ex-alunos, ex-funcionários e amigos deste lugar, pode dar que tipo de contribuição para esse momento de recuperação do patrimônio deixado pela mineradora Icomi?
Francimar Santos – A gente sempre acreditou que iríamos precisar deste povo que passou por aqui e que saiu daqui, pois onde eles estiverem têm muito a contribuir com serra do Navio. São pessoas que a gente percebe, sabe, gente que eu ainda nem conhecia, mas que tem amor por esta terra.
Diário – Os verdadeiros serranos, a senhora diria?
Francimar – Olha, não é querendo dizer que quem mora aqui atualmente tenha menos amor, longe disso, mas teriam menos paixão, digamos assim. O negócio é que os antigos que estão voltando hoje são mais apaixonados pela causa, entende?
Diário – E isso acontece logo agora, que o Iphan decidiu pelo tombamento de Serra do Navio como patrimônio nacional, não é?
Francimar – Não foi a toa que nós buscamos esse tombamento, pois queremos a preservação de Serra do Navio, que tem uma importância muito grande, teve, tem e vai ter sempre para o Estado do Amapá.
Diário – Prefeita, depois do anúncio do tombamento, o processo tão esperado de recuperação deste complexo está em que fase?
Francimar – É uma fase de transição, por exemplo, de entregar a cidade para o município, pois eu ainda estou com uma guarda provisória da cidade. Tem a ver com a questão das terras tanto da vila como do entorno dela, que também estou com documentação de cessão delas. Isso tudo demora um pouco mesmo, pois o SPU [Secretaria do Patrimônio da União] precisa ir ao cartório de registro de imóveis passar um a um os bens para o seu dono e assim poder passar ao município.
Diário – E como os serranos veteranos podem ajudar prefeita?
Francimar – Os verdadeiros serranos, os filhos de Serra do Navio, que ajudaram a construir esse lugar, podem me ajudar muito, apesar de já estar entrando para o último ano de mandato, mas eu vou permanecer aqui e vou precisar destes aliados para que a gente onde estiver possamos estar cutucando para a coisa andar.
Diário – E esses serranos antigos, espalhados em várias partes do país...
Francimar – Não importa a distância, temos gente que hoje está em Brasília, como o Rubens, que atua no Núcleo de Trabalho da Amazônia, então que cidade é mais importante na Amazônia que Serra do Navio?
Diário – A senhora falou em paixão dessas pessoas...
Francimar – Mas o que estou falando vai além dessa questão sentimental. É bem verdade que vi gente chorando aqui, lembrando da infância, vi idosos se abraçando lembrando que foram vizinhos, vi gente até casando hoje (sábado).
Diário – Casando, de verdade mesmo?
Francimar – Sim, teve um casal de ex-alunos da Escola de Serra do Navio, o Adelmo e a Graciane, que diziam que sonhavam se casar aqui, pois foi nesta igreja que foram batizados, que fizeram a primeira comunhão, enfim faltava o sacramento do matrimônio, que eles puderam realizar exatamente aqui, durante o encontro dos serranos. Eles brincavam que esperaram vinte e seis anos para voltar aqui para casar, pois a dificuldade era reunir os padrinhos e as testemunhas... [risos]
Diário – Prefeita, uma das coisas que as pessoas que voltaram à Serra do Navio neste fim de semana e lamentaram bastante foi ver o estado em que se encontram aqueles complexos de lazer que outrora eram um orgulho para quem morava aqui. Como fazer para recuperar isso?
Francimar – Por incrível que pareça, ontem eu recebi uma mensagem do Sincov, dando conta de que o deputado federal Davi Alcolumbre (DEM) colocou a quarta Emenda Parlamentar para a recuperação do complexo esportivo do Manganês que a gente perde porque não tem o documento dizendo que aquilo é nosso. Nós só temos o documento de guarda provisória e espero que o Calha Norte aceite para que a gente possa usar esse R$ 1 milhão que o deputado colocou para a gente recuperar o estádio de futebol, os vestiários, as quadras e as piscinas.
Diário – Isso resolveria o problema do complexo do Manganês Esporte Clube, e aquela estrutura do antigo clube CCH, hoje chamado de Hotel Serra do Navio?
Francimar – Lá a gente montou uma pequena parceria com a empresa Amapari Energia e já recuperamos uma parte dos quartos, então se cada um contribuir a gente vai recuperabndo devagar a cidade onde nós nascemos e que muitos conheceram como um patrimônio e que precisa ser revitalizado.
Diário – E outras partes da cidade, como o cinema prefeita?
Francimar – Já existe uma proposta de revitalizar o cinema também, uma Emenda da deputada federal Dalva Figueiredo (PT) que esperamos possa ser concretizada.
Diário – Todas essas dificuldades certamente esbarram na questão orçamentária, qual é a capacidade de investimentos da Prefeitura?
Francimar – É, esse é o maior problema. A arrecadação da Prefeitura é muito baixa, para se ter uma idéia, tem mês que a gente arrecada entre FPM [Fundo de Participação dos Municípios] e arrecadação própria com impostos como o ICMS, o IPVA que vêm do Estado, entre R$ 300 mil a R$ 400 mil e você ainda tem que pagar uma folha, os encargos...
Diário - E de quanto é a folha de pagamento de pessoal?
Francimar – A folha tem um custo mensal bruto de R$ 230 mil aproximadamente, pois os encargos são muito altos e agora a gente se depara com uma realidade que são os pisos [salariais] da educação, da saúde, que muita vezes são determinados pelo Congresso [Nacional] que sabidamente não conhece a realidade de municípios como o nosso. Já o Governo Federal por sua vez joga a responsabilidade para as Prefeituras por serviços públicos que não damos conta de oferecer com qualidade.
Diário – Transfere essa responsabilidade, a senhora diria?
Francimar – A gente sabe que o cidadão brasileiro mora no município, então é para lá que se deve carrear os recursos, pois é lá que esse cidadão vai cobrar o retorno do seu imposto, né? É complicado viu? Temos uma cidade aqui tão bonita mas que tem um sistema de água, de esgoto, o sistema elétrico, tudo precisando de uma revitalização que custa os três em torno de R$ 19 milhões, um recursos que nós não temos.
Diário – E os projetos minerais prefeita, que deram fama e prosperidade a esse lugar, como anda esse setor?
Francimar – As empresas hoje não estão em Serra do Navio, mas sim em Pedra Brabca do Amapari, o município vizinho. O ouro e o ferro estão lá, o minério que Serra do Navio tem é o manganês, mas essa é uma questão que ainda tramita na justiça.
Diário – Aquele minério estocado, é isso?
Francimar – O minério estocado e o que ainda está debaixo da terra. Esperamos que isso se resolva logo, pois enquanto essas empresas ficam brigando sobre quem vai explorar o minério a população sofre. Eu já disse que não estou embargando nada, o problema é que enquanto eles não resolverem a questão ambiental a juíza não vai liberar a permissão para embarcar o minério.
Diário – Que questão ambiental é essa prefeita?
Francimar – É a questão do reflorestamento das áreas onde estavam as jazidas de minério que a Icomi explorou. Eles usaram acácia mange, que está infestando não só a Serra como Pedra Branca e até o Porto Grande. Ela é uma espécie exótica, mas nociva para a região, só serve para fazer carvão, então no verão, isso aumenta a incidência de incêndios, propagados por essa espécie.
Diário ­– Problema tem bastante, mas não dá para desistir, né?
Francimar – Claro que não. Eu também sou uma apaixonada pela Serra do Navio, enquanto tiver forças, continuarei lutando por nossa cidade.

Perfil
Francimar Santos é natural de Macapá, é professora, especialista em Educação, fundadora e amiga pessoal do líder maior do Partido dos Trabalhadores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi sindicalista e líder classista nos difíceis anos da luta política pela redemocratização do Brasil. Chegou a Serra do Navio nos anos 1980 para lecionar na rede pública estadual, logo se tornando popular e combativa. Elegeu-se vereadora pelo PT por dois mandatos consecutivos até chegar a Prefeitura, em 2004, sendo reeleita em 2008.

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