Thiago Verçosa. O empresário concede entrevista a Cleber Barbosa nos estúdios da rádio Diário FM. |
Cleber Barbosa
Da Redação
Diário do Amapá – O que surgiu primeiro, a sua ideia de ter uma fábrica de ração no Amapá ou a necessidade de isso ocorrer agora que o estado entra no agronegócio?
Thiago Verçosa – Quando eu tomei a decisão de vir para cá, na verdade eu tinha feito uma pesquisa com minha equipe em alguns estados aqui do Norte e do Nordeste, então vim para conhecer Macapá, e... desculpe até a minha ignorância, não imaginava que o Rio Amazonas passava aqui em Macapá. Eu achava que era em Manaus. Então eu falei assim caramba, para a gente que está lá embaixo acaba sendo um pouco de ignorância ou falta de informação, porque essas notícias não chegam. Eu lembro do Amapá na minha época de escola, como Território Federal, e aí hoje quando me vejo morando aqui, vejo que é o melhor lugar para se viver, onde tem ainda tem muitas oportunidades e tem muitas coisas para crescer, o que me faz até reforçar quando falo com as pessoas lá em São Paulo dizendo “ó, vocês têm que vir para cá e conhecer”. Porque é muito distante, né? Além disso, como eles não sabem o que tem aqui pensam que é só floresta... [risos]
Diário – E daí a tomar a decisão de instalar a fábrica, como isso aconteceu?
Thiago – Foi muito interessante, pois eu tinha feito esse estudo vim aqui e fui no Sebrae um dia, para pedir algumas informações sobre pesquisa de mercado. Aí estava acontecendo um evento neste dia lá, então eu pedi para dar uma olhada, assistir um pouco, foi quando ouvi o governador falar assim “nós precisamos de uma fábrica de ração no estado”. Eu não acreditei... Sim, pois eu já tinha um projeto pronto, então aquilo para mim foi um “fica aqui que você está certo”. A partir daí eu fui em frente, montei a empresa aqui, é uma empresa amapaense, era ali na Cora de Carvalho o escritório, mas hoje o terreno está ali no Distrito Industrial, logo na rotatória que vai para Mazagão. Foram dois anos praticamente só correndo atrás dos documentos, licença ambiental, para poder chegar naquele evento da semana passada e receber o incentivo fiscal da Zona Franca Verde.
Diário – Um dia importante para todos.
Thiago – Eu costumo dizer que às vezes quando a gente está com a documentação toda em ordem aparecem coisas para a gente. Quando tomei a decisão de vir para cá eu não sabia que ia ter Suframa instalada aqui, não sabia que ia ter Zona Franca Verde, então essas coisas foram acontecendo, graças ao esforço que eu acabei fazendo, eu mesmo, não veio ninguém da minha equipe para cá. Eu acho que toda startup de negócios que você for fazer, não adianta, eu acho que tem que ser o dono, afinal a ideia é sua, você sabe qual é o passo-a-passo, então a hora que você organizar tudo isso é que pode chamar gente para vir junto.
Diário – Então tudo foi conspirando a favor do seu negócio, não é?
Thiago – Sim, exatamente, mas para isso, para as coisas darem certo eu acho que é importante ser dedicado. Eu sou muito dedicado, muito mesmo. Eu gosto de chegar cedo nos lugares, para resolver tudo mais cedo. E aqui em Macapá é bom por isso, além de ser tudo perto, os órgãos públicos também abre cedo, então você já consegue resolver tudo na parte da manhã. Na verdade, você acaba dependendo de um documento para pegar um outro, né? Você monta uma empresa, pega ali seu CNPJ e a Inscrição Estadual, aí você vai no Imap, onde eles te pedem uma lista de documentos que se você não tiver não consegue dar entrada ali, enfim, tem que fazer o passo-a-passo certinho.
Diário – Queimando etapas, como se diz, né?
Thiago – Exatamente. E no caso da Zona Franca Verde, por eu ter toda essa documentação, não foi só o fato da minha empresa atender os critérios que ela pede, que é poder usar a matéria-prima local, que no meu caso é soja e milho, eu acho que o principal do negócio é você estar com sua documentação em dia, que aí você consegue qualquer coisa sem precisar pedir nada para ninguém.
Diário – Você falou nessa questão de acordar cedo e a gente vê nos telejornais que costumam passear pelas câmeras do controle de trânsito como em São Paulo se acorda cedo, às cinco da manhã as ruas já estão tomadas de carros.
Thiago – Eu morei em São Paulo 36 anos, mas eu costumo dizer que lá em trabalhava menos do que aqui, porque lá eu ficava mais tempo no trânsito do que trabalhando... [mais risos]
Diário – Então aqui se produz mais?
Thiago – Com certeza.
Diário – Esse gradativo processo de instalação da Zona Franca Verde do Amapá mostra a chamada boa política, como se pode mobilizar esforços em prol do desenvolvimento para se criar as condições favoráveis para que os empreendimentos se instalam, não é?
Thiago – Sim, eu inclusive quando vejo esses acordos e projetos que acabam beneficiando empresários eu penso da seguinte maneira “cavalo dado não se olha os dentes”. Eu acho que não podemos ficar escolhendo se querem entregar alguma coisa para a gente como um incentivo fiscal. No meu caso isso é muito importante porque o nosso maquinário é muito caro, então qualquer desconto que eu tiver vale muito a pena, pois posso reinvestir na minha empresa ou repassar como desconto no produto final, que é o que eu pretendo fazer, pois barateando o preço final de um produto de ótima qualidade o consumidor poderá iniciar ele mesmo seu próprio negócio. Isso eu percebi quando cheguei, indagando às pessoas que tinham certas áreas sobre o porquê de não criavam bichos, quando elas diziam que a ração chega aqui muito cara, então acaba não compensando porque o que ele vai gastar com ração custa mais que o animal que ele vai produzir, o que é muito complicado.
Diário – Para fechar Thiago, a gente tem visto nessa crise econômica do país e do mundo muitas corporações e empreendimentos de todo tamanho unindo esforços em prol de um resultado final, se consorciando para produzir. O seu negócio com ração animal poderá impulsionar outros negócios da cadeia produtiva de alimentos?
Thiago – Sim, quando eu tomei a decisão de vir para cá eu tinha feito cotações da matéria-prima no Mato Grosso. Quando cheguei a Macapá vi que já tinham empresas falando em agronegócio e até com muitas plantações de soja e milho, isso pra mim foi muito importante, até porque a Zona Franca Verde me exigiu que a matéria-prima tinha que ser local, o que para mim foi ótimo pois acabo ganhando no transporte. O estado é muito novo e é nessa hora que a gente consegue pensar que tudo que se quiser fazer dá para fazer com um montante grande, médio ou pequeno de dinheiro. É iniciativa que eu acho que as pessoas precisam ter.
Diário – Sua fábrica mira o atendimento dos mercados de porco, frango e peixe, é isso?
Thiago – Inicialmente era sim, mas depois eu incluí a ração pet, para cães e gatos. É uma fábrica que vai ter capacidade para produzir 50 toneladas por hora, então se a gente falar de trabalhar oito horas por dia, então serão 14 mil toneladas por mês e minha produção já está vendida, eu já tenho os clientes. Eu já quero começar com dois turnos de trabalho, gerando 240 empregos, então vamos ver o que vai dar, né? [risos]
Diário – Para começar quando exatamente?
Thiago – A partir de março do ano que vem.
Perfil
Entrevistado. Thiago Verçosa nasceu em São Paulo, tem 38 anos de idade. É casado e pai de uma filha. Formado em Administração de Empresas pela UNIP (Universidade Paulista), é filho de um empresário de uma indústria de alimentos e sempre decidiu empreender. Abriu em 2005 a Produtora TZV7, de produção de vídeo e publicidade. Morou no exterior, virou um executivo de grande visão para negócios e há dois anos se mudou para Macapá. Começou a implantação de uma fábrica de ração animal exatamente quando o Estado se abre para o agronegócio. Ele se credenciou a usufruir dos incentivos fiscais da Zona Franca Verde (ZFV) que acaba de ser aprovada pelo Conselho de Administração da Suframa, em uma histórica reunião deliberativa em Macapá.
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