domingo, 4 de agosto de 2013

Artigo de Luís Nassif, que cita a Icomi e entrevero com a Hanna Mining

LUÍS NASSIF 

O poder da Hanna

Hoje em dia, a mineradora Hanna Mining é um retrato na parede. Suas minas nos EUA perderam competitividade, no mesmo ritmo da perda de competitividade das siderúrgicas americanas. A empresa tentou mudar para o setor químico, fez a conversão. Há alguns anos, foi adquirida por um outro grupo. Até os anos 60, sua influência sobre o Partido Republicano foi enorme e interferiu em muitas decisões do governo norte-americano em relação ao Brasil.
Uma das músicas favoritas do Centro de Cultura Popular da União Nacional dos Estudantes, nos anos 60, aliás, era uma paródia do "Barracão" -"de zinco, sem telhado", porque o zinco a Hanna levou.
Foi na condição de embaixador de Vargas em Washington, em 1952, que Walther Moreira Salles tomou contato, pela primeira vez, com a extraordinária influência da mineradora.
O embaixador andava atrás de um empréstimo do Eximbank para o Brasil, cerca US$ 100 milhões, para o reaparelhamento da Central do Brasil, no trecho Vale do Paraopeba/Angra dos Reis. O empréstimo dependia da concordância de George Humphrey, secretário do Tesouro e, como tal, diretor do Eximbank. Certo dia, Walther foi convocado ao seu gabinete, onde foi alvo de uma chantagem explícita, da parte de seu secretário, Randolph Burgues. "Meu chefe não gosta de seu governo. Pretendeu obter as minas de manganês do Amapá, e vocês as entregaram à Bethlehem Steel", disse ele. A Icomi, de Trajano de Azevedo Antunes, havia conseguido a outorga para explorar o manganês do Amapá e associou-se com a Bethlehem Steel, rival da Hanna.
Devido à gravidade da crise cambial, o governo brasileiro aceitou trocar a Easterns Fuel pela Pittsburgh Consolidation Coal, controlada pela Hanna, como fornecedora de carvão ao país. Só depois de consumada a operação, o empréstimo foi liquidado.
A Hanna foi criada no século 19 pelo senador Marcus Alonzo Hanna (1837-1904), de Cleveland. Em 1885, reorganizou a firma, que passou a se chamar M.A. Hanna & Co. e, além da mineração, explorava estaleiros, navios, bancos, construção de linhas de bonde, a ópera de Cleveland e o jornal "Cleveland Herald".
Em fins dos anos 50, a Hanna decidiu entrar em Minas Gerais, liderando um consórcio de investidores que adquiriu o controle da "The Association for Working the Mines of São João d'El Rey Mining Company", associação constituída em 1830 para explorar minas em São João Del Rey e São José, nas serras do Bonfim e do Lenheiro, em Minas Gerais, cujo controle havia sido adquirido na Bolsa de Londres pelo corretor nova-iorquino Leo Model, da firma Model & Roland.
No início do governo JK, quando Lucas Lopes constituiu o Conselho de Desenvolvimento, em uma discussão sobre a Vale, em 1956, Roberto Campos foi incisivo demais, segundo depoimento de seu amigo Casemiro Ribeiro para o CPDOC: "Vende a Vale do Rio Doce e vende para a Hanna". Vender a Vale era uma questão ideológica, mas por que para a Hanna? Segundo Casemiro, assessores de Campos tentaram montar um rolo compressor, mas dois coronéis do Grupo de Trabalho entraram na parada e a discussão terminou. Veio desse episódio a fama de "entreguista" de Campos.
Homem que salvou a Vale do Rio Doce e, depois, as Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), de Trajano Antunes, da Hanna, Eliezer Baptista dá um desconto no depoimento de Casemiro. Campos era impulsivo, ideológico, mas não negocista.
Tanto na Vale quanto na MBR (onde foi trabalhar, depois de cassado), Eliezer deu um "by-pass" na Hanna, estabelecendo canais diretos de venda com o Japão. A Hanna se associou à MBR, mas sempre como minoritária, e jamais conseguiu que a empresa se tornasse uma mera fornecedora de matéria-prima para a matriz americana.
Nos anos 60, a fama da Hanna pioraria no país devido ao estilo do seu então presidente, o brasilianista John Foster Duller Jr., erudito e truculento como o pai -secretário de Estado de Eisenhower. Só após Lucas Lopes assumir a presidência da Hanna no Brasil a empresa começou a se civilizar. Provavelmente porque seu tempo político já se esgotara, tanto aqui quanto nos EUA.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br

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