Cleber Barbosa
Da Redação
Diário - Além de biomédico o senhor também é especialista em Marketing, então isso pode explicar toda essa performance em suas palestras, sempre muito concorridas?
Dr. Bactéria - É, mas fiz teatro também, aplicando em minhas palestras, aliás, eu acho que todo mundo, independente do que faz, deveria fazer marketing e teatro, pois a pessoas sempre estão se vendendo, né?
Diário - O tal do endomarketing, é isso?
Dr. Bactéria - Sim, e o teatro é para desinibir mesmo, se soltar mais.
Diário - Então seja bem vindo mais uma vez ao Amapá!
Dr. Bactéria - Olha, para mim é sempre um prazer voltar a Macapá, onde fui super bem recebido, está muito gostoso essa visita, pena que está acabando, já estou com saudades.
Diário - E essa história, de virar o Doutor Bactéria, foi o senhor mesmo que projetou isso?
Dr. Bactéria - Eu até brinco com isso, pois poderia ser pior, já pensou se fosse "doutor Ameba", "doutor Verme" ou "doutor Parasita"... (risos) Já o doutor Bactéria é simpático, né? Mas começou realmente há um quinze anos atrás, quando entre outras coisas acabei chegando na Rede Record, no programa Note e Anote, da Claudete Troiano. Lá eu era o Caçador de Bactérias, que tinha até musiquinha.
Diário - Depois é que foi para a Globo?
Dr. Bactéria - Isso, depois veio o convite do Fantástico, da Globo, começando com um programa chamado "Tá Limpo", quando o pessoal da equipe quando ia gravar perguntava "Vamos gravar com quem?". E diziam "vamos gravar com o doutor". Mas qual doutor? "O Dráuzio Varela?" Não, aquele doutor que mexe com as bactérias, aí começaram a me chamar de Doutor Bactéria.
Diário - Foi o batismo do nome então?
Dr. Bactéria - Foi sim e depois as crianças gostaram bastante, as pessoas da terceira idade também adotaram, até que um dia eu estava passando gravando sobre a contaminação de lancheiras e um grupo de vinte crianças mais ou menos subiu em um determinado local e gritaram assim: "Doutor Bactéria, nós te amamos", uma coisa que não sei nem falar, sei que pegou. Mas é um personagem que leva informação para as pessoas.
Diário - Mas doutor e essa preocupação com as bactérias, começou quando, foi antes mesmo da formação acadêmica?
Dr. Bactéria - Bom, eu sempre gostei da parte de microbiologia e escrevi um livro, faz tempo já, voltado para a indústria, chamado Programa de redução de patógenos (Editora Manole, 2002), um nome bem pesado, né? Só que chegou muita informação para mim, como o fato de que 3 milhões de crianças morrem todo ano por diarréia, menores de cinco anos de idade. E desses 3 milhões, 2 milhões e 100 mil morrem por manipulação incorreta de alimentos. E das intoxicações, 44% das doenças alimentares estão dentro da residência [dos pacientes] e não tinha um livro, nenhuma publicação que fosse direcionado para as donas de casa, falando a linguagem delas.
Diário - E foi quando o senhor decidiu dedicar-se especificamente a essa demanda?
Dr. Bactéria - Larguei tudo e comecei a trabalhar com donas de casa, para levar essas informações a elas, de um jeito todo próprio.
Diário - O seu famoso bom humor?
Dr. Bactéria - Pois é, eu brinco bastante que aqui no Brasil ninguém erra, mas na Itália o pessoal é terrível.
Diário - Como assim?
Dr. Bactéria - Na Itália as pessoas colocam ovos na porta da geladeira, pessoas lavam carne, colocam as frutas em fruteiras, fervem leite, acham que a carne de porco pode ter um bichinho que vai para a cabeça, essas coisas estão todas erradas, e ainda na Itália as pessoas entregam a pizza em caixas de papelão, olha que absurdo?
Diário - Sei... Na Itália.
Dr. Bactéria - Ainda bem que isso não acontece no Brasil... (risos) Imagine que na Itália as pessoas pegam a lata de leite condensado e fazem dois buraquinhos e como demora para sair acabam soprando.
Diário - É uma forma bem humorada de orientar, sem dúvida.
Dr. Bactéria - É, isso sem falar que na Itália o pessoal sopra bolo de aniversário. E tem gente que come, fala que o bolo está "molhadinho", com aquele bando de cuspe que cai...
Diário - O senhor já tem quatro obras publicadas, não é mesmo?
Dr. Bactéria - Quatro obras, mas tem o mais recente, que não gosto de dizer que é o último, mas sim o mais recente, é o quinto, o "Doutor Bactéria", pela Editora Globo, que assim que chegou alcançou o segundo lugar, pelo que disse a Veja [revista semanal], como um dos livros mais vendidos aqui no Brasil, o que é muito gostoso de você fazer, partindo do zero e as pessoas aceitam, né?
Diário - O brasileiro tem o hábito de comer muito na rua, um lanche rápido ou uma refeição mesmo. Que dicas o senhor pode dar com relação aos cuidados com a contaminação?
Dr. Bactéria - Em primeiro lugar você deve olhar bem o aspecto do local que você vai comer. Se a pessoa que vai te servir está com a roupa suja, aquelas unhas compridas e mal tratadas, o uniforme sem proteção do cabelo, sem condição de higienizar a mão, se não tiver usa álcool em gel. Aquele famoso churrasquinho, por exemplo, o espetinho de gato famoso, que espero não ser gato. Bem, peça para a pessoa assar sempre na hora, nunca um que está pronto, não aceite de maneira alguma, pois na hora você sabe a qualidade da carne. Outra coisa, nunca passe naquela farinhazinha que tem do lado, pois ela foi feita para passar uma vez e ir embora só que aqui no Brasil as pessoas passam uma vez, pega uma bebidinha dão uma mordidinha e passam na farinha, dão uma mordidinha e passam na farinha, enfim, aquilo vira um mingau de baba...
Diário - Falando assim, dá um nojo, mas as pessoas nem percebem isso na hora, não é?
Dr. Bactéria - E já está comprovado a partir de um estudo de uma Universidade de Fortaleza (CE) as pessoas encontraram o "helicobacter piloren", o "h pylor" nessa farinha. É uma bactéria da gastrite que é transmitida pela saliva.
Diário - Já que o senhor enumerou vários erros comuns, e os instrumentos da modernidade, como o celular, que as pessoas costumam levar para dentro do banheiro?
Dr. Bactéria - O celular é mais contaminado do que uma sola de sapato. A explicação é porque as pessoas falam e saem gotículas de saliva e uma gota de saliva tem bilhões de bactérias. Então quando a pessoa usa o telefone no banheiro isso potencializa, pois ele é um verdadeiro vetor, ou seja, ele carrega, transporta bactérias de origem fecal, da saliva, vírus como o da gripe, a candidíase bucal, o popular sapinho e por aí vai. Por isso as pessoas tem que fazer pelo menos uma vez por semana pegar álcool isopropílico e passar com uma toalinha de papel no celular levemente, não vá jogar o álcool em cima, você não mata a bactéria por afogamento, mas sim pelo contato! [risos]
Diário - Muito obrigado por sua entrevista.
Dr. Bactéria - Eu é quem agradeço e espero voltar logo a Macapá. Podem me achar no Facebook!
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