quinta-feira, 5 de outubro de 2017

CIDADE | “Quando cheguei não tinha nada; a Av. FAB era pista de pouso”, diz pioneira

Dona Isa, em seu observatório da vida social da cidade, a pequena venda de café e almoço em Macapá
Sem comemorações oficiais para o importante dia de hoje – promulgação da Constituição da República – que criou o Estado do Amapá, o Blog localiza uma personagem que sabe muito bem a importância daquele distante 05 de outubro de 1988. Na verdade dali em diante foram todos os acontecimentos sociais e políticos que esta protagonista silenciosa testemunhou bem ali atrás das avenida mais importante de Macapá, praticamente nossa Praça dos Três Poderes.
Ela é do tipo “despachada” como se diz por aqui. Maria de Nazaré Cordeiro Pereira, 67, a “Isa”, não é de passar recibo, diriam outros. Mas o fato é que esta paraense que chegou ao Amapá aos seis anos de idade é o que se pode dizer “uma figura”, com seu jeito falante e valente, em que pese o metro e meio de estatura. Mais antiga moradora da Rua Machado de Assis, entre as Ruas Leopoldo Machado e Jovino Dinoá, no Centro de Macapá, ela é uma testemunha ocular das mudanças que a cidade já passou.

"Vi gitinho"
Fala com desenvoltura das pessoas importantes da cidade que ele viu ainda crianças, "vi gitinho", como o ex deputado Lucas Barreto, os atuais deputados Júnior Favacho, Fabrício Furlan, o advogado Charles Bordalo, além de outras que ela trata na intimidade apenas como “vizinha”, como a promotora de justiça Andréa Guedes. Também conviveu com empresários, magistrados, médicos e gente da noite. Sua pequena casa de madeira fica ao lado de mansões e empreendimentos como bares requintados e, claro o prédio do Parlamento Estadual.
Dona Isa – que nem gosta de ser chamada assim – ou simplesmente Isa, enumera os governadores que ela viu tomar posse nas viradas de ano (anteriormente a posse ocorria à meia-noite do dia 1º de janeiro), um deles o atual Waldez Góes. “Quando ele assumiu o cargo a primeira vez, em 2003, não saiu pela frente, mas aqui pela rua de trás onde aconteceu a festa com a militância dele”, recorda Isa, que raramente vai à Assembleia Legislativa.
Mas ela conta fatos mais antigos, quando foi praticamente uma das primeiras moradoras a chegar ali, até então uma área de mato alto no entorno da pista de pouso de Macapá. “Não tinha nem asfalto na pista, os aviões pousavam na terra mesmo”, diz Isa, mãe de seis filhos (um já falecido) e que teve que se virar para cria-los só após a separação do marido, chamado Protázio, então funcionário da Prefeitura.
Aprendeu a bordar, tricotar, cozinhar e até chegou a trabalhar como faxineira por alguns anos para órgãos públicos, mas logo deixando de lado para empreender. Vendia tacacá, chopp, vatapá, bolos e criou nome vendendo comida caseira, fornecendo para trabalhadores de empresas próximas e principalmente para servidores públicos, pois por muitos anos foi vizinha também de um cartório eleitoral.

Hoje ela mantém o que gosta de definir como sua “baiuca” em frente à sua casa. Abre cedo para fornecer café da manhã e fecha lá pelas duas da tarde, quando “os meninos” e “as meninas” já almoçaram sua comida caseira que ela anota o “fiado” num velho caderno de arame. Na verdade nem precisaria, pois sabe de cabeça quanto cada um deve...
Que figura!

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