Fortaleza de São José de Macapá
Por José Sarney
A Fortaleza de São José
de Macapá é extremamente importante na história da América, não apenas na
história do Brasil, por ser talvez a maior obra da arquitetura militar que
existe no País. Ele e o Forte do Príncipe da Beira, no Guaporé, foram
planejados para assegurar o domínio português dessas imensas áreas da América
do Sul. Esse forte tem uma expressão monumental: possui cerca de 127 mil metros
quadrados, apenas de edificações internas, 910 metros de perímetro, muralhas de
15 m de altura, e foi construído na metade do Século XVIII, quando o Marquês de
Pombal e o então rei de Portugal, D. José I, resolveram enfrentar a questão do
domínio da margem esquerda do Amazonas como um domínio de Portugal.
Quando o Marquês de
Pombal planejou ocupar a região, a primeira coisa que fez foi nomear um meio-irmão
seu, que se chamava Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Governador do Estado
do Maranhão e do Grão-Pará. E deu instruções secretas a ele. Nessas instruções,
para não se chocar com a Espanha, lhe dava a missão ocupar aquela região
inteira, com ações, muitas delas, que hoje nos parecem pitorescas. Por exemplo,
recomendava que as tropas portuguesas deviam se juntar às índias, para que o
sangue português dominasse aquela terra e houvesse gente para povoar a área.
Também mandou que açorianos fossem para lá, e uma leva de 471 famílias, já em
1764, chegava à região.
Por outro lado,
também nesse desejo de ver ocupada a região, quando a Praça de Mazagão foi
quase que inteiramente rendida, ele transporta as pessoas que ali existiam para
a Amazônia, no sentido de povoá-la. E lá fundaram uma cidade, a atual Mazagão,
hoje um pequeno Município, porque foi abandonado, a maioria da população
morreu, foi atacada pelas pestes, e muitos moradores se mudaram para outros
lugares.
Mendonça Furtado
entregou a construção de São José do Macapá a um engenheiro italiano que se
chamava Galuzzi. Os italianos eram tidos então como homens que entendiam
extraordinariamente de fortificações militares. Eles então edificaram esse
forte exemplar.
Esse forte, esse monumento é um patrimônio da
humanidade. Quando foi inaugurado assumi o compromisso de começar uma ação em
âmbito nacional e junto à Unesco para que esse forte seja designado, seja
consagrado como patrimônio da humanidade.
No Forte se
encontra sepultado Joaquim Caetano da Silva, que escreveu um livro que foi
básico para que o Barão do Rio Branco defendesse, perante a Suíça, que a área
entre o rio Araguari e o rio Oiapoque pertencia ao Brasil. Ele escreveu esse
livro, em dois volumes, intitulado L’Oiapoque
et l’Amazone.
Espero que o Forte
de São José do Macapá seja transformado em patrimônio da humanidade. Conheço
esse processo, é um processo longo, não é fácil, demanda tempo e estudos
históricos, não é uma coisa simples.
O Forte de São José
de Macapá pertence à História brasileira e à História da conquista das
Américas, da ocupação das Américas.* José Sarney, advogado, jornalista e escritor; ex presidente da república e ex senador pelo Amapá
* Texto publicado na Edição nº 24 da Revista Diário.
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