Cleber Barbosa
Da Redação
Dizem que todo brasileiro é apaixonado por automóvel. E o que dizer de uma coleção com as maiores estrelas fabricadas no Brasil? Então decidimos visitar o Museu Nacional do Automóvel, em Brasília, um templo de culto à memória da indústria automobilística brasileira e um local repleto de exemplares históricos de jipes, sedans, utilitários e carros de luxo (para a época).
Fomos recebidos por ninguém mais ninguém menos que o presidente do Conselho Curador da Fundação Memória dos Transportes, entidade que administra o Museu Nacional do Automóvel. O advogado Roberto Nasser, 65, é do Rio de Janeiro e uma das maiores referências em conhecimento automobilístico do país.
Ele contou que o museu começou a ser instalado num galpão do Setor de Garagens de Brasília em 1998, mas a inauguração oficial só ocorreu em 2004. De lá para cá o local caiu nas graças da sociedade brasiliense e, claro, de apaixonados por automóveis de várias partes do Brasil e de alguns países do mundo. “Nosso museu tem uma média de 120 mil visitantes por ano, o que nos enche de orgulho”, comemora o curador.
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A restauração de alguns modelos é registrada em fotos sobre como foram "resgatados" |
Roberto Nasser enfatiza que o museu é o único no mundo dedicado à indústria do país. Para ele, isso é algo para se comemorar mesmo. Boa parte do acervo é composto por carros doados “por pessoas com consciência social”, como ele gosta de enfatizar, afinal é uma forma de dividir com quem não viveu aqueles anos dourados dos carrões fabricados no Brasil. “Estamos valorizando e perpetuando a história da indústria brasileira que o presidente Juscelino preconizou”, reforça Nasser.
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As peças em exposição ganham detalhes como essa bomba de gasolina original |
Para quebrar a regra do museu, voltado à memória da indústria automobilística brasileira, Roberto Nasser tem entre os seus carros honrosas exceções, como um Jaguar 1974, modelo XJ6-L e um longevo Borgward 1957, modelo Isabela, nome, aliás, de sua filha. “Boa parte das doações ao museu são carregadas de história e afetividade. Pura emoção mesmo, como um fusquinha que pertenceu a um general já falecido que pediu à esposa que só repassasse o carro para o nosso Museu”, recorda o curador.
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No vidro deste Puma, o foco do Museu Nacional, ou seja, ser fabricado no Brasil |
Um dos caros exemplares do Museu de Brasília é um Willys Capeta 1964, um projeto esportivo revolucionário que foi prejudicado pelo Golpe Militar de 1964. “O ano seguinte ao início do regime militar, 1965, foi o pior da indústria automobilística brasileira”, diz Nasser. O exemplar único do Capeta foi localizado no Museu de Caçapava, depois de ter tido os carburadores furtados e outras avarias, está sendo completamente restaurado. “Até a plaqueta de fabricação a gente refaz, seguindo o modelo padrão da Willys e o logotipo feito em uma ourivesaria”, explica Roberto Nasser, que acrescenta: “Neste negócio você gasta muito tempo, muito dinheiro, mas, felizmente, tem muitas emoções, o que vale a pena”.
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De tão raro esse motor FNM foi restaurado completamente pela Fiat, que o devolveu para exposição |
Outra informação importante repassada pelo curador do Museu do Automóvel diz respeito a dificuldade para conseguir técnicos capazes de realizar as restaurações ou mesmo a manutenção dos veículos. “Esses carros possuem distribuidor, platinado, condensadores, bobinas, enfim, mecânico para entender de tudo isso tem que ser mais velho do que eu...”, brinca o advogado.
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Este bravo soldado da Segunda Guerra Mundial não poderia ficar de fora. Está passando por completa reforma |
Outra raridade do Museu é um herói de guerra, o valente Jeep GPW 1942, doado pela associação VAG, Velhos Amigos de Guerra, de Brasília. Vários outros exemplares de jipes estão expostos no Museu Nacional do Automóvel, entre eles modelos únicos, completamente restaurados pela equipe de Roberto Nasser.
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O Museu recebe em média 120 mil turistas por ano em sua exposição permanente |
Ameaçado – Mas toda essa bela trajetória de resgate da memória da indústria automobilística nacional hoje está ameaçada de despejo, acredite se puder. É que somente agora o Ministério dos Transportes diz não reconhecer o convênio para a utilização do galpão que abriga o museu. O prédio já seria de outro ministério, o do Planejamento, que já ajuizou ação pedindo a desocupação do imóvel para no lugar montar um arquivo morto da administração federal. Pode? Há um vídeo na internet com depoimentos e manifestações de várias personalidades contra a desativação do Museu. Mas há luz no fim do túnel, felizmente. O Blog apurou que são grandes as chances do GDF (Governo do Distrito Federal) ceder uma área dentro do Parque da Cidade para a instalação do Museu.
Acompanhe mais registros da nossa visita ao Museu do Automóvel
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Este Landau serviu à Presidência da República e ainda tem as bandeirinhas do "traje de gala" |
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Carrões que marcaram época. O porta-malas deste é quase do tamanho de um Fiat Uno |
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Grandes também eram essas picapes da Ford, claro por influência norte-americana |
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A Volkswagen também fabricou jipes, mas o Exército acabou não aprovando e a produção foi interrompida |
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Este modelo de jipe poderia seguir viagem mesmo se perdesse uma de suas rodas |
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Dá uma olhada no naipe destes carrões. Eles garantem um charme especial ao Museu Nacional |
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Gordini era uma graça, fale a verdade? Embalou muitos romances por este país. |
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Este Fusca pertenceu a um general que antes de morrer pediu à esposa que doasse ao Museu |
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Este é do tempo da manivela para acionar o motor. Memória viva da indústria nacional |
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Como o nome dizia, o Itamaraty serviu ao Ministério das Relações Exteriores. Este conduziu a rainha Elizabeth II |
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Miniaturas de modelos inesquecíveis também fazem parte do acervo do Museu Nacional de Brasília |
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O próprio curador do Museu, Roberto Nasser, não desgruda de sua Rural, uma jóia nacional |
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