terça-feira, 5 de setembro de 2017

RENCA | Ex diretor da Icomi diz que empresa pesquisou, mas não explorou a área

Engenheiro aposentado José Luís Ortiz Vergolino | Foto: Reinaldo Nascimento
Último executivo da mineradora Icomi S.A. na era do Império CAEMI, o engenheiro paraense José Luís Ortiz Vergolino, 80, decidiu quebrar o silêncio e deu detalhes sobre a RENCA (Reserva Nacional do Cobre e Associados), que segundo ele pode ter todo tipo de minerais  menos o cobre propriamente dito.
Ortiz foi o responsável por fazer a transição do controle acionário da Icomi, em 2004, depois que os herdeiros do fundador da empresa, Augusto Trajano de Azevedo Antunes, decidiram se retirar dos negócios com mineração.
Em um documento que ele fez chegar à nossa Redação, o ex executivo admite que o perfil nacionalista de Antunes o fez ser sondado e depois até ter a preferência do governo militar para explorar a RENCA, que havia sido criada pelo presidente João Figueiredo, em 1984, para evitar que estrangeiros como Daniel Ludwgi  que se instalava no Jari  pudessem se habilitar a explorar a reserva de cobre.

A íntegra da manifestação de José Ortiz sobre a RENCA

RENCA  -  Síntese

CRIAÇÃO

A  Reserva   Nacional  de  Cobre  e  seus  Associados  -  RENCA ,  foi  criada  em  fevereiro  de  1984   por  decreto  do  presidente  João  Batista  Figueiredo  atendendo  solicitação  do  presidente  do  Grupo  Executivo  para  a  Região  do  Baixo  Amazonas -  GEBRAM  almirante  Gama  e  Silva  que  visava   com  reserva  impedir  que  áreas  consideradas  de  grande  potencial  fossem  adquiridas  pelo  americano  Daniel  Ludwig .  (Há toda uma história a ser contada).
Pelo  decreto,  a  pesquisa  na   área  de  46.540  km2,   entre  Amapá  e  Pará  passou  a  ser  exclusividade  da  Companhia  de  Pesquisa  de  Recursos  Minerais -  CPRM ,  órgão  subordinado  ao  Ministério  de  Minas  e  Energia .  O  decreto  estabelece  também   que  concessões  de  áreas  na   região  da  Reserva  seriam  submetidas  a   consulta  prévia  do   Conselho  de  Segurança  Nacional.
Bilionário norte-americano Daniel Ludwig, fundador da Jari Celulose
INTERESSE  PELA  ÁREA

O  interesse  pela  área  surgiu  em  1969  com  a   presença  da  empresa  CODIM. No  mesmo  ano  chegou  a  empresa   MEREDIONAL  que  dois  anos  antes  havia  descoberto  as  jazidas  de   Carajás  no  sul  do  Pará. A confirmação  do  gigantismo  da  província  de  Carajás  estimulou  a   presença  de  grandes  mineradoras  internacionais  no  norte  do   Brasil.
Em  1971  o  programa   RADAM-BRASIL  que  fazia  o  mapeamento  geológico  da  Amazônia  decide  trabalhar  na  região  e  convida  a  DOCEGEO  e  a  ICOMI  à  participar  e  patrocinar  as  pesquisas.
A  ICOMI  requer  áreas  na  região  do  Jarí  e  Parú  e  a  DOCEGEO  decide  abandonar  a  região.
Em  1975  a   ICOMI  abandona  a   área  que   fica   livre  para  novos   requerimentos.
Em   1983  a   BP  faz  requerimentos  na   região.
O  almirante   Gama  e  Silva   descobre  que  Daniel   Ludwig  dono   do  projeto  Jarí  tem  participação  acionária  na  BP  e  “fantasia”  que  o   requerimento  da  BP  faz  parte  do  plano  de   Ludwig  dominar  a  região.  O  GEBAM  tem   assento  no  Conselho  de  Segurança  Nacional  e   veta  a   concessão  de   alvarás  à   BP. O  almirante  Gama  e  Silva  orienta  a  Vale  (então  estatal)  a  requerer as  áreas  tão  logo  os  pedidos  da   BP  sejam  indeferidos  o  que  realmente  aconteceu. A  BP  recorre  ao  ministro  Delfim  Neto  e   avisa  que  se  as  forem  concedidas  à   Vale  ela   (BP)  entraria  com  ação  contra  o  governo  brasileiro  por   discriminação  ao  capital  estrangeiro.  Para   evitar  uma  complicação  enorme  (internacional),  o   almirante  pediu  a  criação  da   RENCA  que   aconteceu  em  fevereiro  de  1984  e parece  acomodar  uma  variedade  grande  de  minérios  e  quase  nenhum  cobre.
Fundador da Icomi, empresário Augusto Trajano de Azevedo Antunes

Como  se  vê,  a   criação  da  RENCA  não  objetivava  a   preservação  de  florestas  e/ou  o  meio   ambiente,  tratava-se  simplesmente  de  nacionalismo  exacerbado  e  equivocado  que  retardou  o  progresso  do   Estado.
Nesses  33  anos  a  área  da   RENCA  foi   invadida  por  garimpeiros  e  pequenas  empresas  que  contaminaram  com  mercúrio  todos  os  cursos  d’água  da  região.

A   EXTINÇÃO  DA   RESERVA

Em  dezembro  de  2016,  o  presidente  da  CPRM  Sr.  Eduardo  Ledsham,  anunciou  aos  participantes  do   MINES &  MONEY,  em  Londres, a  maior  conferencia  e  exposição  de  investimentos  em  mineração  da  Europa, algumas  medidas  em  estudo  para  atrair  recursos  estrangeiros  para  o  Brasil .  Na  ocasião,  Ledsham  afirmou  que  a  RENCA, uma  das   últimas  fronteiras  de  greenfield   para  deposito  de  ouro  classe   mundial,  possui  sequencia  vulcano-sedimentares  arqueanas  distribuídas  ao  longo  de  160  km   onde   a  CPRM   já  mapeou  mais  de   40  ocorrências   de  ouro.  Além  disso ,  a  própria  CPRM  detém  títulos  minerários  para   pesquisa  e  lavra  na  reserva, que,  nas   novas  regras  deverão  ser  leiloadas.  O  executivo  da  CPRM  também   destacou  a   intenção  do   governo  de  criar  condições  para  investimentos  na  fronteira  brasileira  por  empresas  estrangeiras. Esclareceu  que  o  governo  trabalha  forte  para  elevar  4%  para  6%  a  participação  do  setor  mineral  no  PIB   nacional.

POSSIBILIDADE  MINERAL  

O  grau  atual   de  conhecimento  geológico  da  área  da   reserva  é  insuficiente  para  se  quantificar  o  valor  da  produção  mineral  da   área O  reconhecimento  de  ambientes  geológicos  favoráveis  as  minerações NÃO   ASSEGURA  a  presença   de  depósitos  minerais  economicamente viáveis  principalmente  levando-se  em  conta  as  características  da   região amazônica,  a  presença  de  densa   floresta,  a  ausência  de  acesso terrestre,  a  extensão  da  área  46.540  km2  e  a  absoluta  falta  de  infraestrutura  da   região.  Ainda  assim,  por  suas  características   geológicas a  área  apresenta  potencialidade  mineral  rica  e  diversificada,  destacando-se:  ouro,  ferro, manganês, fosfatos; sulfetos  de  cobre  e  zinco;  indícios  de  cromo,  níquel, estanho, tântalo, titânio,  nióbio  e  cobre.

 A   criação  da  RENCA  não  visou  a  proteção da Floresta  nem  do  meio  ambiente. tratou-se  de  uma ação  nacionalista  equivocada  do   governo  militar.

A  RENCA   foi  invadida  por  garimpeiros   que contaminaram  com   mercúrio  todos  os  cursos d’água  da   área.

 A   extinção  da  RENCA  tem  um  simbolismo  muito grande  para  o  setor  mineral. Trata-se  de  um fato histórico. Reabre  esperanças  em ricos  e  pobres .

José Luís Ortiz Vergolino

2 comentários:

  1. Parabéns pela página, Cleber!
    Acompanho sempre as suas publicações.
    Gosto muito da sua iniciativa.

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  2. Opa! Que honra amiga, muito obrigado. Este velho escriba tentando se atualizar...

    Rsss

    Mande notícias de seus assessorados!

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